- O status quo é algo que está impregnado no nosso cérebro e que muitas vezes nos causa um excesso de conservadorismo e uma estagnação
- Outro ponto importante, é claro, é que a falta de horizontes também favorece o status quo
A expressão em Latim status quo significa “estado das coisas” e você provavelmente já a escutou em algum lugar. Ela faz referência a um certo tipo de comodismo em que as pessoas apenas seguem o fluxo daquilo que é apresentado para elas sem questionarem seus reais desejos e possibilidades.
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Quando estudamos a psicologia econômica, entendemos que o status quo está ligado ao medo do desconhecido. É uma tendência natural do ser humano e tem origem evolutiva, assim como a maioria dos nossos comportamentos padrões. Vem dos nossos ancestrais que temiam, por exemplo, caçar em um território desconhecido porque sabiam do perigo iminente de se tornarem a caça frente a um predador mais poderoso que eles.
“É algo que está impregnado no nosso cérebro e que muitas vezes nos causa um excesso de conservadorismo e uma estagnação. Não favorece a mudança e nos leva a decisões irracionais, afinal, sentimos o medo, mas na maioria dos casos ele não está ligado a um perigo real”, explica Kei Marcos, educador financeiro.
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Você provavelmente já conheceu alguém assim. Principalmente nas gerações passadas, era comum que as pessoas seguissem um roteiro que foi dado a elas sem questionar: estudar, trabalhar, casar, comprar uma casa, ter filhos e depois morrer. É um processo tão natural e poderoso dentro da gente que, às vezes, mesmo quando tudo à nossa volta diz que está na hora dela mudar, o status quo prevalece.
Outro ponto importante é que a falta de horizontes também favorece o status quo. Quando falamos de pessoas que vivem na periferia e que cresceram acreditando que não existem tantas oportunidades de mobilidade social para elas, isso é reforçado.
“Mais do que a falta real de oportunidades, a falta de conhecimento sobre as oportunidades pode causar a manutenção do status quo. Às vezes as oportunidades não se apresentam, a gente tem que buscá-las”, comenta Marcia Dessen, presidente da Planejar, Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
Para ficar claro, não quero dizer com isso que esse “comodismo” do status quo significa que a pessoa não está fazendo nada. A maioria trabalha, estuda, está buscando o seu lugar ao sol, mas faz isso copiando modelos que vê à sua volta e não questionando, criando seu próprio caminho e saindo da sua zona de conforto. “Trabalhar e estudar não é fácil, exige muito esforço. E é por isso que o esforço tem que valer a pena”, reforça Marcia.
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Sabendo que essa tendência existe, como mudá-la? Bom, assim como na física, a inércia sobre um corpo parado só é interrompida por uma força que causa movimento. E na vida real, essa força pode vir de algumas formas: a partir do exemplo de outras pessoas, da busca pelo autoconhecimento e do esforço próprio.
“A decisão de movimentar a nossa vida geralmente acontece em função de algum objetivo que enxergamos mais a frente, mas isso dá trabalho e exige usar a sua racionalidade a seu favor”, diz Marcos.
Por isso, “O que eu quero?” “Como eu posso melhorar?” “Qual caminho, para mim, vai ser mais vantajoso?” são algumas das perguntas que estimulamos os jovens que passam pela Multiplicando Sonhos (MS) a se fazerem.
É claro que nem todos os alunos que passaram pelo nosso programa de fato utilizam essas ferramentas para quebrar suas amarras. Mas, em alguns casos, como o de Enzo Gebrin, de 20 anos, que participou do programa da Multiplicando Sonhos em 2019, isso acontece.
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Enzo me marcou porque na época em que o conheci, ele fazia muitas perguntas sobre finanças, estava estagiando em uma instituição financeira, e, com as aulas da MS, ele passou a se interessar mais pelo mercado financeiro e passou a questionar o status quo que existia nesse tipo de organização.
“Eu entendi que os bancos tradicionais funcionam a partir de captação de dinheiro e inadimplência, vi que os funcionários vendiam produtos de investimento que não eram os ideais para aquele tipo de cliente e percebi o quanto isso era errado. Comecei a conhecer alternativas a isso, como as fintechs, e me apaixonei pelo mercado”, conta.
Hoje, Enzo trabalha na área de compliance de um banco digital e faz a faculdade que sempre sonhou, de Direito. Durante essa nossa última conversa, ele destacou que além do conhecimento sobre mercado financeiro adquirido nas aulas da Multiplicando Sonhos, o maior impacto, não só para ele, mas também para os outros estudantes, foi o do exemplo.
“Ver uma pessoa que veio da periferia (Evandro Mello) chegar em uma sala de aula de uma escola do extremo leste de São Paulo, com uma grande quantidade de alunos que não tinham muitas ambições futuras, e mostrar que tinha um caminho diferente do que aquele que a gente costumava ver foi muito impactante”, disse.
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E você desafia o status quo?
- Não consegue poupar o suficiente e quando vê o mês já chegou ao fim?
- Está postergando sua poupança para a aposentadoria?
- Já deixou de aproveitar uma boa oportunidade por medo ou por ter deixado para decidir depois?
Mude a chave, tome atitudes! Desafiar o status quo vai possibilitar que você tome decisões mais assertivas com seus investimentos e na sua vida. É importante saber que existe esse viés e que nosso cérebro vai tentar nos manter no estado que estamos, mas entender isso e usá-lo a nosso favor fará a diferença. Afinal, pra que deixar para amanhã o que podemos fazer hoje?
Por fim, vale lembrar que, geralmente, as pessoas se arrependem mais daquilo que não fizeram do que daquilo que fizeram. A vida muda mesmo que a gente não queira, por isso, é melhor que você esteja no comando dessas mudanças. Estude, busque conhecimento, converse e então chegue a alguma conclusão sobre a direção que pretende tomar.
Colaboração: Giovanna Castro