- Desde o pico, no último dia 10, a ação do Nubank cai 25%
- Por trás da queda está a percepção de enxugamento da liquidez dos mercados internacionais, ao mesmo tempo em que analistas iniciam a cobertura do neobanco indicando cautela
(Matheus Piovesana) – No dia 9 de dezembro, o Nubank estreou nas Bolsas de Nova York e de São Paulo com festa, expectativa e 15% de alta. Seis dias depois, o Fed (o Banco Central americano) anunciou ter pressionado mais o freio das compras de ativos financeiros, uma das chaves de seu amplo programa de estímulos monetários, e sinalizou que elevará os juros da economia americana três vezes no ano que vem. Juntos, estes dois acontecimentos produziram uma ressaca que levou a ação da fintech a fechar pela primeira vez, nesta segunda-feira, abaixo do preço de sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
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Desde o pico, no último dia 10, a ação do Nubank cai 25%. Com essa queda, o banco mais valioso da América Latina perdeu US$ 13,4 bilhões (ou R$ 70 bilhões) em valor de mercado em poucos dias. Por trás da queda está a percepção de enxugamento da liquidez dos mercados internacionais, ao mesmo tempo em que analistas iniciam a cobertura do neobanco indicando cautela.
Rodrigo Crespi, analista da Guide, lembra que a indicação de vários BCs, não só o americano, de que aumentarão as taxas de juros tende a penalizar empresas de tecnologia. “Com todos os maiores mercados anunciando medidas contracionistas do ponto de vista monetário, para uma empresa de grande crescimento fica alto o custo de captação.”
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O humor dos investidores globais já reflete essa expectativa. A retirada de estímulos pelo BC dos EUA, acompanhada de altas nos juros, tende a enxugar a liquidez dos mercados de capitais, o que prejudica empresas com alto crescimento, como o Nubank.
Esse tipo de companhia precisa de capital novo com frequência, porque, em geral, opera no vermelho, ou seja, não gera todo o caixa de que precisa para crescer. O Nubank, no consolidado, ainda dá prejuízo, em uma escolha que privilegia o crescimento, de acordo com seus fundadores.
O disputado IPO do Nubank explica em parte a alta que o papel teve em seus primeiros dias. Em momentos como esse, a ação tende a ser disputada, nos primeiros pregões, por investidores que ficaram de fora do livro da oferta. “Considerando que foi um IPO que fez bastante barulho, era esperado, muitas pessoas que não conseguiram fazer reserva acabaram entrando logo após a estreia”, diz Crespi.
Cautela
Em paralelo, assim como os demais bancos, o Nubank também pode desacelerar junto com a economia brasileira. Os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, do BTG Pactual, iniciaram a cobertura do papel na semana passada com recomendação neutra e uma mensagem de cautela, citando, justamente, o que 2022 pode reservar para o setor financeiro – Nubank incluído.
“O Nu ainda se parece muito mais com um banco que com uma empresa de software. E bancos têm necessidades de capital e custos com inadimplência conforme crescem”, escreveram os profissionais. “Tememos, de todo modo, que a combinação de seu valuation extremamente alto e um timing ruim torne a ação uma aposta muito arriscada.”
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O ‘timing’ descrito pelo BTG é de uma piora nas condições econômicas brasileiras. “Dada a deterioração do cenário macro do Brasil, ser prudente em 2022 pode ser a estratégia certa. Mas uma avaliação de mercado alta aceita a necessidade de prudência em relação ao crescimento no próximo ano?”, afirmaram os analistas.
O BTG afirmou em seu relatório que o Nubank tem amplo potencial de ser lucrativo. Embora o tíquete médio das transações de seus clientes seja baixo, o custo de aquisição também é, graças à força da marca que faz com que boa parte do crescimento se dê no bom e velho boca a boca.
Entretanto, segundo o banco, para justificar a avaliação do mercado, a fintech teria de entregar em 2026 um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 30%, e lucro de US$ 2,1 bilhões, acima do que os grandes bancos brasileiros, mais rentáveis que a média internacional, entregam nos últimos trimestres.
As ações de empresas brasileiras diretamente listadas em Nova York, no geral, caminham para fechar o ano no vermelho. Os papéis da Stone, por exemplo, caem quase 82% até esta segunda, diante tanto do cenário macro menos otimista para o Brasil quanto dos problemas que a empresa teve em seu produto de crédito. Os papéis da XP caem quase 28%, e os da PagSeguro, 57%
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