- Após invasão da Rússia à Ucrânia, dia começou marcado por intensa volatilidade nos mercados globais
- Com a disparada do sentimento de aversão a risco, é esperado que os investidores busquem segurança em moedas fortes, como o dólar. O movimento deve culminar em uma expressiva desvalorização do real
- O Ibovespa também deve sofrer com os desdobramentos do conflito e sofrer quedas ao longo do dia.
O cenário que todos temiam acabou se concretizando na madrugada desta quinta-feira (24): a Rússia de Vladimir Putin atacou a Ucrânia. A invasão acontece após dias de acirramento das tensões entre os dois países. Já há registros de bombardeios em pelo menos 10 cidades ucranianas, segundo o Estadão.
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Nos mercados, o dia começou marcado por intensa volatilidade. Com a disparada do sentimento de aversão a risco, é esperado que os investidores busquem segurança em moedas fortes, como o dólar. O movimento deve culminar em uma expressiva desvalorização do real – que vinha crescendo nos últimos dias, na esteira do fluxo estrangeiro para o País.
O Ibovespa também deve sofrer com os desdobramentos do conflito e apresentar quedas ao longo do dia. “Dia de correção para os mercados locais, com os investidores começando a precificar eventos mais drásticos e adversos, frente à possibilidade de uma resposta mais enérgica do globo à invasão russa”, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
Banho de água fria
Mario Goulart, analista da O2Research, explica que a situação interrompe um momento muito positivo para a Bolsa brasileira, em que o Ibov vinha se descolando dos pares estrangeiros. Até o fechamento da última quarta-feira (23), o índice acumulava uma alta de 7,78% em 2022, enquanto o dólar caía 9,4%.
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Já nesta manhã, o Ibovespa futuro abriu em queda de 2,26%, aos 110.490 pontos. “É um desespero geral de Bolsas. Isso deve arrefecer um pouco o entusiasmo com o mercado brasileiro”, afirma Goulart. “Os estrangeiros vinham fazendo um rotation de mercados maduros para mercados emergentes.”
Essa também é a visão de Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos. “Entendo que aquele benefício inicial de realocação pode até continuar por algum período, mas não deve se sustentar, dado o grande aumento de aversão a risco que vimos nesse momento. A ideia de aproveitar o preço do dólar e da Bolsa para fazer hedge (proteção) para nossos clientes, está valendo mais do que nunca.”
Inflação
Para Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos, a aversão a risco deve culminar em uma curva de juros mais acentuada e aumento das expectativas de inflação. Isso porque o setor mais impactado pelo conflito é o mercado de alimentos e commodities.
A Rússia é referência em alguns insumos, como gás natural, trigo e petróleo. A Ucrânia também é destaque em agricultura, responsável hoje por mais de 10% da produção mundial de trigo. Com a guerra, é esperada uma interrupção nas cadeias produtivas e, por consequência, uma alta nos preços das commodities. Vale lembrar que uma grande fatia da Bolsa brasileira é formada por empresas ligadas ao segmento.
De acordo com Serra, por conta do aumento no custo dos insumos, a crise pode afetar negativamente as ações de alimentos, como MDIA3, JBSS3, BRFS3, CAML3 e ABEV3. Além disso, os produtores agrícolas (SLCE3, AGRO3) podem ver um efeito positivo no mercado devido ao aumento no preço do milho. Porém, a escalada dos preços dos fertilizantes deve reter parte desse ‘benefício’.
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“O preço dos fertilizantes é sempre algo a ser monitorado e atualmente se traduz em risco de médio prazo para as empresas do agronegócio listadas no Brasil”, diz o gerente da Ativa.
Já a Petrobras (PETR4) deve ser favorecida pela alta no preço do petróleo. Por volta das 10h, o barril de Brent era negociado a US$ 101,38, uma alta de 4,69%. “A estatal se beneficia muito dessa puxada para cima do preço do petróleo. Porém, todo o resto da economia não”, afirma Goulart. “A gasolina tem um efeito em cadeia na logística global, então isso reflete em maior inflação.”
Brasil pode se beneficiar
Na visão de Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, o Brasil é um substituto natural da Rússia para alocação de capital. Com a instabilidade provocada pela guerra, a tendência é que os investidores migrem os recursos da bolsa russa para outro país emergente.
“Nós também somos um país de commodities e que exporta muito. O fluxo gringo continua entrando muito forte na Bolsa”, afirma Giuberti. “A B3 pode acabar se beneficiando, sendo um destino para esses investidores. Temos a reprecificação dos índices acionários pelo mundo, mas, olhando para o cenário doméstico, o Brasil se coloca em uma posição de força.”