- Os conflitos armados frequentemente estão envolvidos na oscilação do preço do petróleo. O fornecimento de energia é causa de guerras, que, por sua vez, afetam o preço da commodity
- Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos operam de modo a controlar o valor e a distribuição dos barris de petróleo
- Nos últimos 70 anos, é possível destacar cinco conflitos que exemplificam como a geopolítica do petróleo interfere na vida da população
A economia brasileira vive um momento dramático, e os combustíveis têm um papel especial nisso. Nos últimos 12 meses, a gasolina subiu 76%, e o diesel, 79% — uma bomba para um país tão dependente do modal rodoviário. A questão é: como o Brasil e o mundo lidarão com a alta do petróleo?
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Para refletir sobre o presente e o futuro, nada melhor do que o passado. Por isso, o E-Investidor ouviu especialistas a esse respeito e listou quatro momentos em que a economia mundial foi impactada pela cotação do barril de petróleo. Confira essa linha do tempo a seguir.
1. Guerra do Iom Kipur (1973)
Em 1973, Israel construiu uma fortificação no canal de Suez. Israel e Síria se insurgiram contra a decisão, causando o primeiro choque no petróleo. Essa guerra teve como principal consequência a crise do petróleo: os países árabes estavam entre os maiores produtores do mundo e, em retaliação, aumentaram o preço do barril de modo a pressionar Israel, aliado das potências ocidentais.
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O impacto do cartel foi enorme. O preço do barril de petróleo quase triplicou: subiu de menos de US$ 25 para cerca de US$ 70. A inflação nos Estados Unidos passou de 6,1% para 11% em 1973.
2. Revolução Iraniana (1979)
O segundo choque no petróleo ocorreu em meio à Revolução Iraniana. Em grande medida, foi uma consequência da crise de produção suscitada pela deposição do Xá Reza Pahlevi, quando o país se conformou como um Estado teocrático. Mas houve também um movimento deliberado: o Irã elevou o preço do petróleo em resistência ao antigo governo e seus aliados ocidentais.
A crise foi longa. O governo iraniano fez reféns na embaixada estadunidense e os usou como moeda de troca, ameaçando-os por 444 dias. O impacto econômico foi tão grande que os Estados Unidos discutiram um racionamento energético.
Novamente, o impacto foi global. O preço do barril já oscilava em preços elevados, desde 1973, e subiu ainda mais naquele ano: de US$ 60 para US$ 120, aproximadamente. Em menos de uma década, o barril quintuplicou de valor.
3. Guerra do Golfo (1990)
Após quase 10 anos da guerra entre Irã e Iraque, em que o Ocidente apoiou o Iraque na luta contra o Irã, a Guerra do Golfo abriu um novo cenário de disputa. Mas, dessa vez, os Estados Unidos tiveram como inimigos seus antigos aliados, alegando que Saddam Hussein invadiu o Kuwait de modo arbitrário.
O governo iraquiano estava endividado, e o Kuwait era um dos principais credores. Além disso, havia disputa territorial e conflitos em relação aos rumos da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Esse evento foi central para a Guerra do Golfo, que também elevou o preço do barril.
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O conflito deixou um rastro de destruição no Oriente Médio. No momento mais grave, o Iraque foi expulso pelas tropas estadunidenses em menos de 100 horas. A saída ocorreu de modo desorganizado e provocou prejuízos, como a destruição e o incêndio de poços de petróleo.
O preço do barril também explodiu durante a guerra: de pouco mais de US$ 40, atingiu US$ 80 em poucos meses. A inflação nos Estados Unidos bateu 13,5% no ano, por conta da crise global.
4. Guerra entre Rússia e Ucrânia
O conflito atual entre Rússia e Ucrânia merece uma atenção especial. Ele tem como pano de fundo um arranjo sensível que envolve Estados Unidos, China e União Europeia (UE).
O peso dos russos no setor de combustíveis fez que a cotação do petróleo tivesse subido ao patamar mais elevado desde a crise econômica de 2008. Em cerca de três semanas, o preço cresceu mais de 20%.
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Esse é um ponto sensível, porque o petróleo representa mais da metade do volume de negociação dessas mercadorias e é a principal matriz energética do mundo, relata o economista Cássio da Nóbrega Besarria, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Besarria explica que a Rússia é responsável por 12% da produção global de óleo e gás e, além disso, é o principal exportador mundial de petróleo e produtos petrolíferos combinados.
Grande parte da produção é destinada à UE, o que fragiliza uma resposta mais enfática desses países ao presidente russo Vladimir Putin, especialmente em meio a um inverno rigoroso que depende do gás russo para calefação.
Paula Flórido, diretora de operações comerciais e marketing da Dover Fueling Solution, observa que esse é um exemplo da necessidade de os países serem menos dependentes do petróleo.
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“Os três maiores países representam 40% do mercado mundial. É fundamental buscar alternativas energéticas que possam gerar não apenas um menor impacto ambiental, mas também independência dos países exportadores de petróleo”, diz.
Impacto na economia brasileira
O cenário atual é ainda mais grave porque a guerra ocorre em meio a uma crise logística global. Para João Alfredo Lopes Nyegray, especialista em Negócios Internacionais e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo (UP), os contêineres estão mais escassos e o frete marítimo internacional encareceu muito, elevando a inflação e, por consequência, a taxa de juros.
“A tendência de juros altos segue forte internacionalmente, o que trará consequências para o câmbio e as economias como um todo. Moedas como o real tendem a se desvalorizar ainda mais caso seus países emissores não aumentem os juros. É uma reação em cadeia com múltiplas economias e setores impactados”, comenta Nyegray.
O professor acrescenta ainda que os juros altos desestimulam os investimentos e comprometem o desenvolvimento de tecnologia e de infraestrutura. O Brasil é um exemplo disso: a taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) foi elevada para 11,75% na quarta-feira (16) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Fontes: Cássio da Nóbrega Besarria, professor do departamento de Economia da UFPB; João Alfredo Lopes Nyegray, professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo; Paula Flórido, diretora de Operações Comerciais e Marketing da Dover Fueling Solution.
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