O dólar fechou em forte queda nesta segunda-feira, bem abaixo da marca psicológica de 5 reais, com a moeda brasileira ostentando com folga o melhor desempenho global no dia diante do patamar elevado dos juros domésticos e da disparada dos preços das commodities.
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A moeda norte-americana à vista caiu 1,47%, a 4,9435 reais na venda, menor patamar para encerramento desde 29 de junho de 2021 (4,9431) e primeira vez desde 30 de junho passado que fecha um pregão abaixo de 5 reais.
Essa foi sua maior baixa diária desde o dia 3 de março deste ano (-1,617%). Durante a sessão, o dólar chegou a ceder 1,71%, para mínima intradiária de 4,9312 reais.
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Na B3, às 17:11 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,56%, a 4,9665 reais.
Segundo Fernando Bergallo, diretor de operações da assessoria de câmbio FB Capital, a queda do dólar para patamares inferiores a 5 reais é “reflexo de sequências (de desvalorização) das últimas semanas; o dólar está num nítido caminho para baixo”.
A moeda norte-americana fechou em baixa em nove das 11 semanas completas do ano até agora, e, no acumulado de 2022, perde mais de 11% contra o real, deixando a divisa doméstica com a melhor performance global no período.
Para Bergallo, “abertura do diferencial de juros (entre Brasil e Estados Unidos) é sem dúvida nenhuma o fator preponderante” no tombo do dólar neste início de ano. “Não há argumento contrário que faça frente a uma Selic perto de 12%.”
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Seu comentário faz referência a estratégias de “carry trade”, que tentam lucrar com a compra de divisas que oferecem retornos elevados. Com a alta sucessiva da taxa Selic ao longo do último ano, ao patamar atual de 11,75%, o rendimento oferecido pela moeda brasileira é atraente para investidores estrangeiros.
E há expectativas de que os juros básicos subirão ainda mais. A mais recente pesquisa semanal Focus, do Banco Central, mostrou que a projeção de economistas para o patamar da Selic ao fim deste ano chegou a 13%, diante de novos saltos nos prognósticos de inflação.
Ao mesmo tempo, várias commodities –do milho ao petróleo— dispararam desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, conflito que ainda não parece perto de acabar. Especialistas explicam que a valorização desse tipo de produto tende a aumentar o ingresso de dólares em países exportadores, principalmente da América Latina, região vista como menos vulnerável aos riscos geopolíticos.
“Na hora que você olha o cenário geopolítico, acho que o Brasil se credenciou numa posição privilegiada para hoje receber investimento externo”, disse Bergallo.
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Estrategistas do Citi compartilham dessa visão. Em relatório desta segunda-feira, eles disseram acreditar “que os fluxos (para o mercado de câmbio local) podem continuar no curto prazo à medida que os investidores estrangeiros continuam a olhar favoravelmente para o real como uma moeda de commodity com ‘carry’ alto, e à medida que os exportadores internalizam parte de seus dólares mantidos no exterior”.
A forte queda do dólar frente ao real veio apesar de sua alta no exterior, com o índice da moeda norte-americana ante uma cesta de rivais fortes subindo 0,2% nesta tarde. Investidores do mundo inteiro reagiam a comentários mais duros que o esperado do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre o combate do banco central dos EUA à inflação.
Powell chegou a afirmar que, se a alta dos preços exigir, o Fed vai subir os juros em 0,5 ponto percentual, o dobro da dose de aperto de 0,25 ponto adotada na semana passada, quando os custos dos empréstimos básicos dos EUA foram elevados pela primeira vez em três anos.
Isso é visto como possível fator de impulso para o dólar, já que juros mais altos nos EUA elevariam a atratividade de se investir na segura dívida norte-americana, intensificando o direcionamento de recursos para lá.
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No entanto, o real parece ter resistido bem a esses ruídos.
Para Bergallo, da FB Capital, nem mesmo o burburinho político doméstico que deve chegar com as eleições presidenciais deste ano deve minar completamente a atratividade da divisa brasileira, já que “o juro (local) é preponderante nessa análise”.
“A gente continua acreditando que esse dólar pode sim ir um pouco mais para baixo”, disse.