Ainda assim, espera-se um ritmo menor de caminhada no curto prazo, considerando que o início oficial do calendário eleitoral, na última terça-feira, deve trazer aos ativos domésticos um grau maior de volatilidade após o entusiasmo recente, deflagrado em especial pela sinalização do BC de que o ciclo de ajuste de juros está concluído ou bem perto disso, no Brasil.
Nesta sexta-feira, o Ibovespa caiu 2,04%, aos 111.496,21 pontos, entre mínima de 111.146,15 e máxima de 113.807,29 pontos, correspondente à abertura da sessão. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro financeiro ficou em R$ 28,2 bilhões. Tendo fechado a sessão de ontem com ganho de 10,32% no mês, o Ibovespa aparou nesta sexta-feira o avanço de agosto a 8,08%, cedendo 1,12% na semana, resultante da correção de hoje. No ano, sobe 6,37%.
A perda veio após quatro semanas de ganhos, o maior dos quais na semana passada, quando o índice da B3 teve avanço de 5,91%. A retração no dia de hoje foi apenas a terceira do mês, em 15 sessões até aqui em agosto – as perdas ocorreram logo no dia 1º, e depois em 11 de agosto e nesta sexta-feira. No mês, portanto, após abertura negativa, houve uma série de sete ganhos, a mais longa desde março passado, seguida por outra, de cinco altas, interrompida agora.
“Os fundamentos micro, das empresas, voltaram a ser olhados nesta temporada de resultados trimestrais, muito boa e agora já perto do fim. Os números positivos ajudam a entender a atração de fluxo estrangeiro para a B3 como não se via desde o começo do ano. Houve resultados muito positivos no segundo trimestre, chegando em momento no qual o P/L estava em 7 vezes, no menor nível em décadas”, diz Felipe Moura, analista da Finacap. “Tivemos hoje uma correção técnica, realização de lucros saudável e aguardada, considerando que o Ibovespa acumulou recuperação em torno de 20% em relação ao piso do ano, cerca de 30 dias atrás.”
“Lá fora, ainda há preocupação com a inflação, temores em relação ao ajuste de juros nas maiores economias, com a sensação de que esses BCs podem ainda estar atrás da curva, mesmo com a recente melhora vista nos índices de preços. Hoje, por sinal, a inflação ao produtor na Alemanha pesou, contribuindo para a cautela, essa aversão a risco desde o exterior, na sessão”, observa o analista da Finacap.
A correção nesta sexta-feira na B3 se espalhou pelas ações e segmentos de maior peso no índice, como commodities e financeiro. Destaque para Petrobras, que ontem havia sustentado a leve alta do Ibovespa, e hoje acentuou perdas ao longo da tarde, encerrando o dia com quedas de 4,07% (ON) e de 5,06% (PN). Entre os grandes bancos, as perdas na sessão chegaram a 1,84% (BB ON). Vale teve ajuste mais discreto nesta sexta-feira (ON -1,12%), após baixa na casa de 2%, ontem.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque na sessão de hoje para Minerva (+2,55%), IRB (+1,85%) e Hypera (+1,70%), com Locaweb (-7,72%), Azul (-7,63%), Gol (-7,30%), MRV (-7,28%) e Magazine Luiza (-6,20%) no lado oposto.
No Brasil, em dia de agenda também esvaziada, o mercado ficou “refém do humor externo”, observa em nota a Guide Investimentos, destacando lá fora o “vencimento de US$ 2 trilhões em contratos de opções sobre ações”, no momento em que os investidores ainda digerem “falas mais duras de membros do Fed o BC americano”.
“Dia de forte queda nos mercados internacionais já mirando mais aperto monetário, com retomada das apostas de alta de 75 pontos-base em setembro na taxa de juros dos Estados Unidos, após os mercados terem chegado a acreditar que o Federal Reserve seria mais suave”, diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.