Nesse contexto, o que esperar dos investimentos no País, em especial os de renda fixa, que são a preferência da maioria dos brasileiros? Destaque-se que no primeiro semestre de 2022, o volume investido por pessoas físicas no Brasil chegou a R$ 4,6 trilhões. Quanto à renda fixa, a participação passou de 57,5% em dezembro do ano passado para 61,3% no último mês de junho, equivalente a R$ 2,8 trilhões, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A entidade também aponta que 81,7% do volume financeiro do investidor de varejo está alocado em renda fixa.
Especialistas consultados pelo E-Investidor afirmam que para uma projeção mais aprofundada, seria necessário que a equipe econômica que irá compor o governo já estivesse definida, bem como as políticas que serão adotadas. Apesar disso, é possível fazer alguns prognósticos.
“O programa econômico e social do governo Lula dependerá da composição da equipe econômica. Se ela tiver um caráter mais reformista, ortodoxo, o cenário para os gastos públicos fica mais previsível. Já uma equipe com perfil mais heterodoxo talvez traga um pouco mais de incertezas e volatilidade, o que poderia exigir juros mais altos por mais tempo”, afirma Carolina Taira, gerente de portfólio da B.Side Investimentos.
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Caso a gestão adote medidas econômicas pró-mercado, os juros futuros tendem a cair e os ativos em renda fixa devem performar bem. Do contrário, as incertezas farão com que o mercado exija um prêmio maior. Assim, as taxas futuras devem subir e os ativos de renda fixa podem ter retornos abaixo do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) ou até mesmo negativos.
De modo geral, os especialistas entendem que o próximo movimento nos juros vá ser de queda. A grande questão é quando os cortes vão começar a acontecer e em qual magnitude.
“Já estamos no final de um ciclo de alta e a expectativa é de queda para 2023. Isso não deve se alterar muito, mas o fortalecimento do papel do Estado como indutor de crescimento deve deixar claramente as taxas de juros pressionadas para cima, a inflação um pouco maior e, consequentemente, os juros mais elevados”, afirma Rodrigo Knudsen, gestor de renda fixa da Empiricus Investimentos.
Segundo ele, isso não muda o fato de que haverá queda de juros no ano que vem. “Não sabemos a magnitude de tudo o que vai acontecer, mas o efeito prático é que a queda será mais devagar, menor ou vai começar mais tarde”, destaca.
A Selic, taxa básica de juros, vinha registrando ciclos de alta desde março de 2021, quando passou de 2% para 2,75% ao ano. Atualmente, está em 13,75% A projeção do mercado é que o primeiro corte ocorra em junho do ano que vem, passando para 13,5% e encerrando 2023 a 11,25% ao ano.
Recomendações
Taira, da B.Side, diz que a recomendação hoje é de ativos prefixados com prazos curtos, de dois a três anos. Isso porque o risco político deve impactar os investimentos mais longos, especialmente nessa subclasse. Ativos atrelados à inflação, como títulos IPCA+, com prazos de três a seis anos, também são interessantes. Segundo a especialista, são ativos mais defensivos por garantirem, no cenário atual, retornos acima da inflação. Para prazos mais longos, recomenda-se ativos pós-fixados.
Como o próprio nome indica, os investimentos prefixados têm taxa de rentabilidade fixa – 10% ao ano, por exemplo – e o investidor sabe exatamente quanto terá de dinheiro no futuro, na data do vencimento, independentemente dos movimentos do mercado. Esse tipo de investimento é indicado quando a tendência é que os juros se mantenham em baixa ou possam vir a cair ainda mais.
Os pós-fixados, por sua vez, estão atrelados a algum índice econômico, como o já citado IPCA, a própria taxa Selic e o CDI, título comercializável somente entre bancos e calculado a partir dos empréstimos que as instituições financeiras fazem entre si para financiar seus processos.
“Nossa recomendação é que ativos com prazos muito longos sejam evitados, pelo menos até que a nova equipe econômica seja definida. Caso o investidor tenha pouco conhecimento, os pós-fixados são mais seguros e devem seguir estáveis independentemente das decisões de política econômica adotadas pela próxima gestão”, afirma a gerente de portfólio da B.Side Investimentos.
Rodrigo Knudsen, da Empiricus, cita as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B), título pós-fixado do Tesouro Direto que acompanha a variação da inflação (IPCA), somado a uma taxa prefixada, razão de ser chamado também de Tesouro IPCA+. O Tesouro Direto é considerado bastante seguro porque o investimento é realizado junto ao Governo Federal. Além disso, a aplicação é acessível, com aporte mínimo inferior a R$ 50, fácil de realizar e também de acompanhar.
“Nesse cenário específico, com Lula presidente, a indicação focaria em NTN-Bs. Eles estão com taxas bem atrativas, se conferirmos o prazo de 2030 a 2032, de oito a 10 anos de vencimento. Esses títulos estão pagando o IPCA + 5,8%, e 5,8% de juros reais são valores expressivos. O título IPCA+ é interessante porque lhe protege da inflação”, afirma Knudsen.