Evento de abertura de capital da Méliuz. (Foto: Divulgação/B3)
Dois anos após sua estreia na bolsa, a startup de cashback e cupons de desconto em lojas virtuais Méliuz (CASH3) fechou acordo com o BV para sua venda. Os sócios fundadores, entre os quais Israel Salmen, presidente da companhia, e Ofli Campos Guimarães, saem do negócio em até dois anos, período que o BV terá para adquirir a participação do bloco de referência do Méliuz, atualmente composto por uma fatia de 23,93% na empresa.
O acordo acontece em meio a perdas perto de 60% das ações da Méliuz e capacidade de geração de caixa e acesso à capital – a um custo semelhante ao que tiveram na oferta de ações em novembro de 2020 – limitados. O BV tem a possibilidade de ficar com as ações do bloco de referência com um desconto de 10% em relação ao preço de da oferta inicial de ações (IPO), ajustado ao desdobramento (split), equivalente a R$ 1,67 por cada ação.
As ações do Méliuz foram vendidas no IPO a R$ 10,00 em novembro de 2020 e depois tiveram uma disparada. Para trazer novamente o preço das ações para próximo do valor do IPO e dar acesso ao público de varejo, o Méliuz fez um desdobramento em setembro de 2021, de seis ações para cada uma em circulação.
O Méliuz chegou à Bolsa no boom das ofertas de ações de tecnologia, em 2020, muitas das quais com promessas de crescimento acelerado. Com o IPO, movimentou mais de R$ 600 milhões, sendo que mais de R$ 400 milhões foram para seu caixa.
O acordo aliviou um “dilema”, afirmou Salmen em conversa com analistas nesta terça-feira (03). “Ficamos sem restrições para voltar a crescer, como sempre fizemos, e saio com sentimento positivo”, acrescentou. Salmen tranquilizou os analistas quando à manutenção da filosofia e marca do Méliuz, apesar da saída dos sócios, lembrando que a companhia formou profissionais comprometidos com o negócio e que nesse período seguirá zelando pela empresa que construiu.
Mas várias etapas terão de ser cumpridas e algumas condições serem satisfeitas para que o acordo de parceria e troca de controle aconteça nos próximos anos. O primeiro deles é a aprovação em assembleia a ser realizada entre fevereiro e março para perdão (waiver, em inglês) de cláusula de poison pill, que impede a realização da operação e chegada do BV na empresa no formato acordado. “Este é o passo mais importante agora”, afirmou o diretor de relações com investidores do Méliuz, Marcio Penna.
O BV não quer entrar no negócio para ficar com menos de 50% mais um de participação, ou seja, o controle, o que tende a acontecer após a aquisição da fatia do bloco de referência, quando o banco deverá fazer uma oferta pública de aquisição do free float, hoje em 76%. Isso vai depender de quanto tempo o BV levar para ficar com a fatia do bloco de referência. De cara, o banco já levou o equivalente a 3,85% e tem até dois anos para exercer a opção de compra dos 20,08% restantes.
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A instituição financeira pode dar esse passo em seis meses, a qualquer momento, ou a cada dois meses após esse período. As ações serão compradas por R$ 1,50 em até 6 meses depois do acordo, corrigido pelo CDI; e entre esse valor e a média do preço ponderada pelo volume das ações de emissão do Méliuz negociadas na B3 nos 30 pregões anteriores, com um desconto de 10%.
Condição
Uma condição precedente a todo o acordo, além da aprovação do waiver ao poison pill, é a aquisição do Bankly, banking as a service, pelo BV em até 90 dias por um valor de referência do negócio de R$ 210 milhões. Com isso, o Méliuz deve ter seu caixa líquido elevado para R$ 600 milhões.
O diretor de novos negócios do Méliuz, Gabriel Loures, disse que a companhia deve manter a estratégia de cautela com negócios que vinha sendo adotada no atual cenário de dificuldades macroeconômicas e no ambiente de negócios da empresa. Loures acrescentou que o Méliuz havia freado a oferta de cartões e adotado postura conservadora na concessão de crédito.
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Segundo ele, todos os novos produtos e negócios serão discutidos e colocados em prática junto com o BV, embora a experiência do usuário siga no aplicativo. “As oportunidades de cross sell serão construídas com o BV e com outros parceiros. O modelo é diferente do que tínhamos com o Pan, em que o cliente acessava o canal deles”, disse.
O cartão pré-pago que está na esteira de lançamento do Méliuz não está previsto na parceria, mas o assunto será ainda discutido. “Nos próximos 45 dias esse e outros produtos serão discutidos com o BV”, acrescentou Loures.
* Esta matéria foi atualizada em 04/01/2023, às 10h50, para corrigir uma informação equivocada, a de que os sócios do Méliuz venderam ações ao BV com desconto de 85% em relação ao IPO. No entanto, considerando o desdobramento de setembro de 2021, de seis ações para cada uma em circulação, o desconto ficou em cerca de 10% em relação ao preço equivalente do IPO ajustado ao split.