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- As gestoras de ativos estão apostando na compra de ienes, euros, dólares canadenses e francos suíços
- Existem muitos motivos para se posicionar contra as verdinhas: a deterioração na relação com a China, a dificuldade dos Estados Unidos em conter a pandemia, a incerteza em relação à eleição presidencial
- Tudo indica que este será o pior desempenho da moeda desde julho de 2010
(Ruth Carson/Bloomberg) – A estrada que conduziu o dólar à maior desvalorização desde fevereiro de 2019 pode ainda ter muito chão pela frente. Dados da Commodity Futures Trading Commission, comissão que regula a negociação de contratos futuros de commodities, mostram que as gestoras de ativos estão apostando na compra de ienes, euros, dólares canadenses e francos suíços.
A tendência joga mais lenha na fogueira de venda do dólar, que colocou o índice Bloomberg Dollar Spot em rota de queda – 3% apenas só no mês de julho. Tudo indica que este será o pior desempenho da moeda desde julho de 2010.
Existem muitos motivos para se posicionar contra as verdinhas: a deterioração na relação com a China, a dificuldade dos Estados Unidos em conter a pandemia, a incerteza em relação à eleição presidencial de novembro e a expectativa crescente de que o Fed (banco central americano) corte ainda mais a taxa básica de juros.
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“A força do dólar já era, pelo menos por ora”, diz George Boubouras, diretor de pesquisa no fundo hedge K2 Asset Management – que está vendendo dólares americanos e comprando australianos. “Enquanto os Estados Unidos tentam frear o coronavírus, o Fed prepara novas medidas de estímulo à economia. Somadas às dúvidas em relação às eleições, essas iniciativas provavelmente terão impacto negativo sobre o dinheiro do país”.
Uma compilação de dados feita pela Bloomberg sobre contratos futuros de dólar comparados a outras oito divisas mostra as maiores posições de venda desde abril de 2018.
No dia 27 de julho o dólar caiu em relação a todos os colegas do G10 (grupo de moedas das nações ricas). O iene japonês e a coroa norueguesa subiram 0,6%, e a coroa sueca valorizou 0,7%. Já o índice Bloomberg Dollar Spot desceu 0,8%, prolongando ainda mais um período de quatro semanas de perdas – o mais longo desde o início de 2019.
Houve um tempo em que os Estados Unidos se sobressaíam num mundo saturado por mais de US$ 14,7 trilhões investidos em títulos de dívida com retorno negativo. Agora, essa vantagem está sendo corroída pela crise da covid-19, que obrigou o Fed a baixar praticamente a zero o custo de emprestar dinheiro – alimentando previsões de taxas de juros negativas.
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A pressão sobre o dólar levou investidores a procurar opções mais estáveis fora dos Estados Unidos. A cotação spot (de curto prazo) do ouro disparou e atingiu o recorde de US$ 2.000,00 por onça. A prata também se beneficiou e teve a maior alta dos últimos sete anos.
Muitos gestores em busca de tranquilidade se voltaram para o euro, que ultrapassou US$ 1,17 e anotou as maiores marcas desde setembro de 2018. A tendência pode indicar o início de uma transferência de protagonismo para a zona do euro, sobretudo depois que o bloco chegou a um acordo sobre um fundo bilionário de recuperação.
O retorno dos títulos do tesouro americano com prazo de dez anos caiu um ponto-base e chegou a 0,58%, depois de cravar o fechamento semanal mais baixo da história no pregão anterior. Operadores esperam novas medidas do Fed, que se reuniu nos dias 28 e 29 de julho, e a previsão é que o crescimento no segundo trimestre recue a uma taxa de 35% ao ano.
“O dólar provavelmente continuará em baixa”, afirma Win Thin, diretor global de estratégia de câmbio da Brown Brothers Harriman. Para ele, o euro deve superar as altas recorde registradas em setembro de 2018. “O fraco desempenho econômico dos Estados Unidos deve seguir alimentando os resultados ruins da moeda do país”.
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A movimentação do dólar é tão preocupante que atraiu comentários até do bilionário Ray Dalio – para quem o conflito entre Estados Unidos e China só piora a situação.
Enquanto a divisa na qual o mundo inteiro guarda reservas internacionais derrete, alguns especialistas acreditam que o iene pode se beneficiar caso assuma a posição de porto seguro alternativo. Vale a pena ficar atento ao patamar de 105 ienes para 1 dólar, que tem se mantido nos últimos anos, conforme explica Rodrigo Catril, estrategista de câmbio do National Australia Bank Ltd.
“O dólar está sem amigos no momento, e recomendamos ficar de olho no euro e no iene”, diz ele. “Desde 2018, os períodos de queda abaixo dos 105 ienes foram curtos. Porém, diante da movimentação contrária ao dólar e do volume de vendas, desta vez a coisa pode ser diferente”.
Segundo Catril, alguns operadores do mercado estão de olho num repeteco de 2016, quando o dólar caiu abaixo da marca de 100 ienes. A gestora de fundos QIC Ltd. acredita que uma única estaca permanece firme para diferenciar os Estados Unidos e sua moeda das demais: a demanda por ações large-cap de grandes empresas americanas negociadas em bolsa.
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“Os Estados Unidos deixaram de ser um exemplo excepcional para o mundo”, afirma Stuart Simmons, gerente de portfólio da empresa. “No momento o Fed está preocupado em recuperar o mercado de trabalho,
provavelmente fará novos ajustes na política monetária – e tudo isso é ruim para o dólar”.
(Tradução: Beatriz Velloso)