No dia 30 de agosto de 1930 nasceu aquele que se tornaria o maior investidor de todos os tempos, chamado de Oráculo de Omaha, Warren Edward Buffett. Neste aniversário, como grande fã e admirador de tudo o que Buffett representa, escrevo este texto com algumas lições que aprendi estudando, vendo e lendo a seu respeito.
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De acordo com a Forbes, Warren Buffett possui um patrimônio de US$ 121,8 bilhões, o que o coloca como a quinta pessoa mais rica do mundo. Além disso, Buffett alcançou a incrível marca de um retorno de 3.787.464% desde o início de seu portfólio em 1965. Para facilitar o entendimento disso, cem dólares investidos com ele no início (1965) teriam se transformado em cerca de US$ 3,78 milhões hoje. São números superlativos que contrastam com uma vida frugal e quase abstêmia, não comum, embora excêntrica – uma característica comum entre bilionários, não é mesmo?
Então, vamos explorar as lições de vida e de investimentos que aprendi e ainda estou aprendendo com ele. Abaixo, compartilho nove valiosas lições que Warren Buffett pode nos ensinar:
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1. Simplicidade na vida e nos investimentos. Não sei quem é o autor dessa frase, mas depois que me tornei pai passei a concordar muito com ela: “A palavra convence, o exemplo arrasta”. Warren volta e meia enaltece a importância das coisas simples da vida e de como o dinheiro não deveria definir quem você é ou o que faz.
Seu discurso é convincente, mas realmente causa impacto quando você descobre que ele não possui iates, aviões, carros de luxo e vive na mesma casa há mais de 50 anos. Essa postura simples atrai multidões todos os anos para Omaha, no Estado americano de Nebraska, sua cidade natal.
Tive a oportunidade de estar lá duas vezes. Ver milionários, bilionários, artistas de cinema, jornalistas, famosos de diversas áreas e pessoas como você e eu que vão lá para ver e aprender com essa simplicidade.
2. Círculo de competência. E essa simplicidade se aplica também à sua forma de investir. Buffett investe de maneira simples, comprando partes de negócios que ele entende e mantendo esses investimentos por um longo período. Ele não é adepto de grandes sofisticações financeiras, como derivativos, futuros ou alavancagem.
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Buffett enfatiza a importância de compreender suas áreas de conhecimento e especialização e de se ater a elas ao tomar decisões de investimento. Sua filosofia é tão simples que, em certa ocasião, quando Jeff Bezos – o fundador da Amazon (AMZN)– lhe perguntou por que as pessoas não simplesmente copiavam sua estratégia de investimento, ele respondeu: “Porque ninguém quer ficar rico devagar”.
3. O poder do longo prazo. Falando em pressa, o poder do longo prazo é o conceito mais importante quando se trata de investimentos. Grande parte da fortuna de Buffett deriva do hábito de manter posições por anos a fio e de aproveitar o poder dos juros compostos. Por exemplo, ele começou a comprar ações da Coca-Cola (KO) em 1988 e hoje, 35 anos depois, a empresa ainda ocupa uma posição relevante em seu portfólio.
Além disso, ele mantém posições por décadas em empresas como American Express (AXP), Procter & Gamble (PG), Moody’s (MCO), Johnson & Johnson (JNJ), entre outras.
4. Never Bet Against America (Nunca aposte contra os Estados Unidos). O investimento com uma abordagem de longo prazo parece ser um mantra amplamente aceito no universo dos investimentos. Sempre ouvimos falar sobre isso. No entanto, a verdade é que essa abordagem funcionou e se comprovou ao longo da história do mercado americano.
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Buffet frequentemente destaca a resiliência e a capacidade da economia americana em enfrentar situações adversas ao longo da história, incluindo guerras, pandemias, presidentes, inflação, taxas de juros, entre outros desafios. O longo prazo funciona? Segundo Buffett, podemos afirmar que sim, pelo menos na América.
5. Nunca perder dinheiro. Uma frase clássica em qualquer texto sobre Buffett é a ideia fundamental de que você deve buscar nunca perder dinheiro. No entanto, ao aprofundarmos essa ideia, podemos perceber que esse conceito está intrinsecamente conectado à ideia do longo prazo, ou seja, à compreensão de que o mercado de ações é um poderoso mecanismo de transferência de riqueza dos impacientes para os pacientes, uma frase de sua autoria, diga-se de passagem.
Diversos estudos mostram que, de fato, o investimento em ações apresenta alta volatilidade, mas quando conduzido ao longo do tempo, as probabilidades de perda diminuem substancialmente.
6. “Contrarian thinking” (Pensamento contrário). Simples de se explicar, e óbvio de apontar ex-post, o conceito de “contrarian thinking” se tornou ponto central na filosofia de Buffett. “Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos”, diz o ditado. “Seja corajoso quando os outros têm medo e seja cauteloso quando os outros estão gananciosos.” Buffett é conhecido por realizar grandes investimentos em momentos de pânico e estresse no mercado.
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Parece fácil de entender e até de executar, mas qual é a reação normal do investidor em momentos de crise? Vender suas ações em busca de segurança, não é mesmo?
7. Preço x valor. E esse pensamento contrário se baseia na ideia de que os mercados não são eficientes e não sabem precificar corretamente os ativos. Com isso, muitas vezes ocorre um descompasso entre o valor real e o preço de mercado. Em outras palavras, os mercados frequentemente não precificam os ativos corretamente, o que cria oportunidades para investidores. Segundo Buffett, se o mercado fosse eficiente ele seria um mendigo. Portanto, compreenda que o preço é aquilo você paga e o valor, o que você recebe.
8. Concentração e risco. Contrariando aquilo que aprendemos e lemos a respeito de diversificação, Buffett tem uma visão única sobre concentração e risco. Para ele, o risco deriva da falta de compreensão do que se está fazendo, não do fato de ter muito capital alocado em um único ativo. Não é por acaso que atualmente mais da metade de sua carteira está investida em ações da Apple (AAPL).
9. E sua maior lição: o que realmente importa?! Buffett inverte a lógica e o senso comum, ou simplesmente nos lembra do que realmente importa na vida quando define sucesso. Em uma apresentação na Universidade da Geórgia, quando questionado sobre sua definição de sucesso, ele respondeu: “Basicamente, quando você chegar à minha idade, você realmente medirá seu sucesso na vida pelo número de pessoas que você deseja que o amem e que realmente o amam”, disse.
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Para Buffett, esse é o maior teste da vida: ter pessoas que realmente se importam e o amam. Sua explicação é simples: você não pode comprar amor; a única forma de conquistá-lo é amando e sendo amável. Pode parecer clichê, mas você não concorda com ele?
Portfólio: 3 movimentações
Para concluir, saindo do plano das ideias, da filosofia e do longo prazo, vale a pena comentar três movimentações recentes em seu portfólio. Para quem não sabe, mesmo com mais de 90 anos, Buffett ainda desempenha um papel central na definição do portfólio e dos investimentos da Berkshire Hathaway (BRK.A;BRK.B), companhia controlada por ele.
1. Renda Fixa: Dias depois de a agência de classificação de risco Fitch rebaixar o rating americano, Warren Buffett reforçou sua confiança na economia dos Estados Unidos. “Há algumas coisas com as quais as pessoas não deveriam se preocupar”, disse ele. “Esta é uma delas.”
Além de seus comentários, Buffett mencionou que a Berkshire Hathaway tem investido seu robusto caixa de aproximadamente US$ 150 bilhões em títulos de dívida americana de curto prazo. De acordo com ele, “a única questão para a próxima segunda-feira é se vamos comprar US$ 10 bilhões em títulos do Tesouro de 3 ou 6 meses”, disse Buffett, na rede CNBC.
2. Mercado imobiliário: Segundo o último relatório enviado à SEC (órgão americano equivalente à Comissão de Valores Mobiliários brasileira), apesar das incertezas em relação ao mercado imobiliário em meio à escalada das taxas de juros, a Berkshire Hathaway investiu em três construtoras americanas. A empresa de Warren Buffett adquiriu mais de US$ 700 milhões em ações da D.R. Horton, juntamente com participações menores em Lennar Corp. e NVR Corp.
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3. Apple: Buffett começou a investir na Apple em 2016, quando as ações da empresa eram negociadas por menos de US$ 25, embora a companhia já tivesse uma avaliação de quase US$ 400 bilhões. Naquele momento, muitos acreditavam que Buffett estava “atrasado” e questionaram o investimento.
Desde então, a Berkshire aumentou sua posição por 18 vezes e hoje as ações da companhia de tecnologia representam mais de 51% do portfólio da empresa, com suas ações negociadas em cerca de US$ 175 e a empresa avaliada em US$ 2,8 trilhões. Nesta última atualização de seu portfólio, apesar da alta no ano, a Berkshire não vendeu sequer uma única ação da companhia.
Há muito para se explorar sobre Warren Buffett, sua filosofia de investimento, carteira e inúmeros outros aspectos. Afinal, são mais de 90 anos de história repletos de lições valiosas. Parabéns ao megainvestidor e que Warren Buffett continue a iluminar o mundo dos investimentos como o Oráculo de Omaha por muitos mais anos.