O dólar à vista iniciou a semana em alta no mercado doméstico de câmbio, acompanhando a onda de fortalecimento da moeda americana no exterior e o avanço das taxas dos Treasuries. Já castigadas na semana passada pela perspectiva de juros elevados por período prolongado nos EUA, as divisas emergentes, em especial as latino-americanas, e de países produtores de matérias-primas sofrem com notícias negativas do setor imobiliário chinês, o que deprime preços de commodities.
Leia também
Com sinal positivo desde a abertura dos negócios, a moeda acelerou o ritmo de alta no início da tarde, quando tocou máxima a R$ 4,9750. O dólar perdeu parte do fôlego nas horas finais de negociação e fechou em alta de 0,68%, cotado a R$ 4,9662 – maior valor de fechamento desde o último dia 8. Com o ganho 1,26% na semana passada e o avanço de hoje, a divisa passa a acumular leve valorização em setembro (+0,30%). No ano, a moeda ainda apresenta perdas de 5,94%.
Para o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, o fortalecimento do dólar se dá em meio uma mudança das expectativas em torno da política monetária americana após o comunicado do BC americano e a entrevista do chairman Jerome Powell na semana passada. O mercado já incorpora aos preços dos ativos a possibilidade de que a taxa de juros permaneça em nível elevado por mais tempo nos Estados Unidos, mesmo que não haja uma alta adicional dos FedFunds anos próximos meses.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
“Com essa perspectiva nos EUA, o fluxo para emergentes tende a ser menor. E ainda temos a questão da China, que acaba puxando commodities para baixo e tira atratividade da bolsa brasileira. Isso ajuda a impulsionar o dólar no mercado interno”, afirma Velloni, para quem a real magnitude dos problemas no setor imobiliário chinês ainda é uma incógnita e vai seguir assombrando o mercado.
A incorporadora chinesa Evergrande anunciou que está impossibilitada de emitir novos títulos devido a uma investigação sobre uma de suas afiliadas, em um desdobramento que compromete seus planos de reestruturar o equivalente a mais de US$ 300 bilhões em dívidas. E a China Oceanwide Holdings, outra incorporadora, anunciou hoje que sofrerá liquidação pelo tribunal judicial das Bermudas, após falhar em pagar um empréstimo de US$ 175 milhões para um de seus credores.
Termômetro do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em alta ao longo do dia e voltou a superar a linha dos 106,000 pontos, com máxima aos 106,097 pontos, diante da fraqueza do euro. A taxa da T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, subiu mais de 2% superando a casa de 4,54% nas máximas, atingindo o maior nível desde outubro de 2007.
Para Velloni, da Frente Corretora, com o quadro externo adverso, dúvidas sobre o cumprimento da meta fiscal e manutenção do ritmo de cortes da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual pelo Banco Central, a taxa de câmbio pode voltar a superar o nível de R$ 5,00. “Talvez o BC tenha que adotar uma postura mais cautelosa, porque o diferencial de juros vai diminuir e deixar o real bem menos atrativo”, diz.
Publicidade
À tarde, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 1,591 bilhão na 4ª semana de setembro. Até a 4ª semana do mês, o superávit acumulado em setembro chega a US$ 7,210 bilhões. No ano, o saldo é positivo em US$ 69,615 bilhões.