A interferência do governo na Petrobras (PETR3;PETR4) e na Vale (VALE3) dá aos investidores estrangeiros uma indicação ruim, de que trazem prejuízos, afirma Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities e vice-presidente da Anbima, associação que reúne entidades dos mercados financeiro e de capitais.
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Na Petrobras, uma companhia de economia mista, o desconforto dos investidores vem desde a assembleia de acionistas do ano passado, quando o governo indicou para o Conselho de Administração três nomes que o Comitê de Pessoas da companhia havia classificado como inadequados. Desde então, a empresa está sob pressão de Brasília para ampliar os investimentos e, mais recentemente, para reter dividendos. Além disso, nas últimas semanas, o presidente da empresa, Jean Paul Prates, tem sido alvo de especulações sobre sua permanência no cargo.
Privatizada em 1997, a Vale sofreu influência do governo – por meio do BNDESPar e de fundos de pensão de estatais – por décadas. Em 2020, o acordo de acionistas foi extinto e, em 2021, o BNDESPar concluiu a venda de toda a sua participação acionária na mineradora.
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Mas, desde maio do ano passado, ruídos sobre a pressão de Brasília contribuíram para tumultuar o processo de sucessão na Vale, embora o governo tenha na mineradora apenas “golden shares”, ações preferenciais de classe especial, com direitos limitados a questões como alteração da denominação social e de sede; mudança de objeto social relativo à exploração de jazidas; e alienação de atividades relacionadas à exploração de minério de ferro, incluindo minas, ferrovias e portos.
As informações de bastidores deram conta de que o presidente Lula gostaria de emplacar o ex-ministro Guido Mantega como CEO da mineradora, embora a companhia tenha um processo sucessório bem definido. Conforme analistas, o ruído ajudou a pressionar as ações da Vale para baixo.
“Os casos emblemáticos de Vale e Petrobras passam uma mensagem ao investidor estrangeiro. São indicações de interferências ruins, que trazem prejuízos. Isso mina a confiança do investidor”, disse Pedro Rudge, frisando: “São empresas importantes, que têm peso no índice [Ibovespa]. Aí, quando o governo fala alguma coisa, a ação cai 10%, sobe 5%.”
O gestor não condena mudanças nos planos e nos investimentos das companhias. Mas reforça que os ritos de governança devem ser seguidos, com decisões tomadas pelas pessoas indicadas para o Conselho de Administração. “O governo deveria entender que as empresas administradas de maneira independente e autônoma trazem risco menor do que com interferência. Não quer dizer que a empresa não possa investir em outras áreas ou mudar o plano estratégico. Mas a interferência e a indicação de pessoas políticas ou que possam ter conflitos não são coisas boas.”
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A liminar da Lei das Estatais foi o pontapé inicial na fase de interferências, avalia. Concedida em março de 2023 pelo ministro Ricardo Lewandowski – hoje aposentado -, do Supremo Tribunal Federal (STF), a liminar retirou restrições a indicações de conselheiros e diretores que sejam titulares de alguns cargos públicos.
Portfólio de renda variável
Com R$ 1,3 bilhão sob gestão, a Leblon Equities se foca em investimentos em renda variável, mirando um horizonte de três anos para o retorno. Seu portfólio, com 25 papéis, inclui Priner, Mills, B3, Natura, Lojas Renner, Oceanpact e Brisanet.
“São nomes que dificilmente se encontram nos nossos competidores. E isso é bom, pois quando o investidor aplica no fundo da Leblon, ele sabe que a gente está procurando coisas diferentes e não óbvias”, explica o gestor. “Já Petrobras e Vale – vamos dizer que elas não têm interferências – são empresas a que qualquer investidor tem acesso.”