O dólar hoje se firmou em alta nas últimas duas horas de pregão em sintonia com o exterior e encerrou a sessão desta quarta-feira (5) em alta de 0,23%, cotado a R$ 5,29 – o maior nível de fechamento desde 5 de janeiro de 2023 (R$ 5,35). A desvalorização das commodities e as incertezas sobre os dados da economia dos Estados Unidos pressionaram o desempenho da moeda, que já acumula uma valorização superior a 9% neste ano.
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A alta também reflete a queda das commodities nesta semana. As cotações do petróleo avançaram mais de 1% hoje, mas os preços estão em movimento de queda nesta semana após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) ter anunciado cortes na produção. Investidores seguem preocupados com a capacidade do cartel de reduzir significativamente a oferta e manter o mercado petrolífero equilibrado.
Como o Brasil é um país que depende da exportação de commodities – como petróleo, ferro e soja, por exemplo – a queda no preço internacional dos bens reduz a entrada de dólares no país, pressionando a cotação da moeda para cima. “Ainda podemos ter muita oscilação, principalmente por conta da decisão que o Banco Central Europeu (BCE) terá que tomar perante a política monetária dos EUA e a divulgação dos dados da balança comercial da China”, diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.
As chances de um corte inicial de juros pelo Federal Reserve (Fed) – o BC americano – a partir de setembro já se aproxima de 70%. Amanhã, sai a decisão de política monetária do BCE, com projeção de corte de 25 pontos-base. Nos Estados Unidos, os investidores monitoram a divulgação do relatório oficial de emprego (payroll) de maio na sexta-feira (7).
Analistas do mercado financeiro também afirmam que há uma redução de exposição ao mercado emergente, em meio a resultados de eleições presidenciais no México, Índia e África do Sul. Tirando o peso mexicano, que apresentou uma recuperação parcial do tombo dos últimos dias, as moedas emergentes mais relevantes do mercado também se depreciaram hoje, em especial o rand sul-africano, um dos pares do real.
“O peso mexicano tinha se desvalorizado muito e de forma muito rápida. Vemos hoje uma pequena recuperação. Tivemos volatilidade no real, mas o quadro ainda é de dólar bem firme”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, que não vê fatores que possam levar a um alívio no câmbio no curto prazo, embora não acredite em alta mais forte com a taxa acima de R$ 5,30.
“O real teve um desempenho pior do que as outras moedas nos últimos meses. Precisamos de um gatilho interno, algo positivo relacionado ao fiscal ou a sucessão no Banco Central, mas isso parece difícil”. Vale lembra que na terça-feira (4), o ministério da Fazenda apresentou Medida Provisória que estipula a limitação de créditos de PIS/Cofins para reverter as perdas de receita com a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores. O potencial de arrecadação seria de até R$ 29,2 bilhões. A proposta, contudo, já começou a ser bombardeada hoje por setores como indústria e agronegócio. A bancada do agro no Congresso avisou que pedirá a devolução da MP.
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, a estratégia do governo de busca por ampliação de receitas para zerar déficit primário parece exaurida, como mostra “o imbróglio da Medida Provisória do PIS/Cofins”. Sem anúncio de corte de gastos, a percepção de risco fiscal aumenta, o que afasta investidores de ativos domésticos.
“Os estrangeiros já tiraram quase R$ 36 bilhões da B3 em 2024 e não dão sinais de que vão voltar”, afirma Galhardo. “Estamos mais para ver o dólar acima de R$ 5,30 do que um volta para perto de R$ 5 como se esperava até pouco tempo atrás”.