A Geração Z, composta por jovens nascidos entre 1997 e 2012, enfrenta um mercado de trabalho desafiador e altamente competitivo. O movimento “Gupy Não Queremos Você”, que emergiu recentemente nas redes sociais, é um grito de frustração contra a plataforma de recrutamento Gupy, que utiliza inteligência artificial para filtrar candidatos. As críticas variam desde a falta de feedback até a sensação de desumanização, refletindo questões mais amplas que afetam o mercado de trabalho jovem no Brasil.
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A taxa de desemprego entre os jovens brasileiros é alarmante. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam o alto percentual de jovens entre 18 e 24 anos desempregados ou subempregados. Em 2023, o percentual de jovens brasileiros de 15 a 29 anos que não estuda nem trabalha, conhecidos como “nem-nem”, foi de 19,8%, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE. Este grupo inclui aproximadamente 9,6 milhões de jovens. Esta estatística reflete a significativa parcela da juventude que enfrenta desafios tanto no mercado de trabalho quanto no acesso à educação.
A realidade complexa da empregabilidade para os jovens é agravada pela intensa pressão psicológica que enfrentam e pelas complicações trazidas pelo advento tecnológico. A Gupy, por exemplo, é frequentemente criticada nas redes sociais em depoimentos da nova geração que alegam não conhecerem candidatos efetivamente selecionados, além de não receberem resposta sobre suas candidaturas, ficando sem entender os motivos de suas rejeições.
A automação no recrutamento: benefícios e desafios
A utilização de inteligência artificial (IA) em processos seletivos pode otimizar e acelerar a triagem de currículos, mas também levanta questões sobre a humanização e o reconhecimento do potencial individual. Um processo seletivo que dependa fortemente de algoritmos pode deixar de captar nuances importantes dos candidatos, como habilidades interpessoais e experiências únicas que não se traduzem bem em palavras-chave ou critérios pré-determinados.
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Algoritmos de seleção podem reproduzir vieses presentes nos dados de treinamento, como demonstrado no caso da Amazon, em que um algoritmo favorecia candidatos masculinos devido à predominância histórica de homens em posições de sucesso na empresa. Isso cria um sentimento de alienação e desmotivação entre os jovens, que se sentem reduzidos a números e parâmetros inflexíveis.
A falta de feedback é outra frustração constante. Jovens candidatos relatam que raramente recebem respostas sobre o status de suas candidaturas ou explicações sobre os motivos de rejeição. Esta ausência de comunicação não só dificulta a busca por melhorias pessoais e profissionais, como também impacta negativamente a saúde mental dos candidatos. Sentir-se ignorado e desvalorizado pode levar a altos níveis de estresse e ansiedade, exacerbando os problemas de saúde mental já prevalentes entre a Geração Z.
Impactos econômicos e organizacionais
Além dos impactos pessoais, a falta de feedback e a desumanização dos processos seletivos têm consequências econômicas e organizacionais. Empresas que não conseguem atrair e reter jovens talentos correm o risco de perder inovação e diversidade em suas equipes. A Geração Z traz consigo novas perspectivas e habilidades digitais que são cruciais para a competitividade no mercado atual. Ignorar o potencial dessa geração pode levar a perdas significativas em termos de inovação e capacidade de adaptação.
O movimento “Gupy Não Queremos Você” também traz à tona discussões sobre responsabilidade social e governança corporativa (ESG). Empresas que adotam práticas mais inclusivas e transparentes nos processos seletivos estão alinhadas com os princípios de ESG, que valorizam a equidade, a justiça e a transparência, comprometendo a imagem e a reputação das empresas perante os stakeholders.
Dicas para superar os desafios dos processos seletivos automatizados
De qualquer forma, a revolução tecnológica veio para ficar. Se bem usada, traz inúmeros benefícios. É necessário aprender e saber conviver com ela, inclusive para ter uma boa performance em processos seletivos. Seguem algumas dicas importantes:
- Otimize seu currículo para palavras-chave: Certifique-se de que seu currículo contenha as palavras-chave relevantes para a vaga desejada. Utilize a descrição da vaga como referência e incorpore termos específicos que os algoritmos podem estar procurando. Isso aumenta suas chances de passar pela triagem inicial automatizada;
- Desenvolva habilidades interpessoais: Embora as habilidades técnicas sejam importantes, as habilidades interpessoais, como comunicação eficaz, trabalho em equipe e inteligência emocional, são igualmente valiosas. Procure oportunidades para desenvolver essas competências, pois elas são frequentemente avaliadas durante entrevistas presenciais ou online;
- Busque feedback ativamente Se você não receber feedback após uma candidatura, não hesite em entrar em contato com o recrutador ou a empresa para solicitar um retorno. Isso demonstra proatividade e um desejo genuíno de melhorar e aprender com a experiência;
- Prepare-se para entrevistas automatizadas: Muitas empresas estão utilizando entrevistas automatizadas, em você grava suas respostas para perguntas pré-definidas. Pratique responder a essas perguntas de forma clara e concisa. Mantenha a calma e tente se destacar mostrando sua personalidade e entusiasmo pelo cargo;
- Mantenha-se atualizado com as tendências de recrutamento: Acompanhe as tendências e inovações em recrutamento para entender melhor o que as empresas estão procurando e como os processos estão evoluindo. Isso pode incluir o uso de novas tecnologias, mudanças nas prioridades de contratação e novos métodos de avaliação;
- Valorize a saúde mental: A busca por emprego pode ser estressante, especialmente quando enfrentamos rejeições e a falta de feedback. Cuide de sua saúde mental praticando atividades que ajudem a reduzir o estresse e a ansiedade, como exercícios físicos, meditação ou hobbies que você goste.
Existem desafios significativos com processos seletivos automatizados que refletem uma tensão entre a eficiência tecnológica e a necessidade de justiça e transparência. Para enfrentar esses desafios, é necessário um esforço conjunto de empresas, plataformas de recrutamento e candidatos. As empresas devem revisar e humanizar seus processos seletivos, garantindo que a tecnologia seja uma ferramenta auxiliar, e não substitutiva, na avaliação de candidatos. Oferecer feedback claro e construtivo é essencial para o desenvolvimento dos candidatos e para a construção de uma imagem corporativa positiva.
Ao adotar práticas mais inclusivas e transparentes, as empresas não só contribuem para um mercado de trabalho mais justo, mas também se posicionam melhor para enfrentar os desafios futuros com uma equipe diversa e inovadora. Por outro lado, os candidatos podem se preparar melhor para enfrentar as novas dinâmicas do mercado de trabalho, desenvolvendo habilidades que vão além das técnicas, como inteligência emocional e capacidade de adaptação.
O movimento “Gupy Não Queremos Você” expõe a necessidade de um mercado de trabalho em que a tecnologia serve para potencializar, e não limitar, o reconhecimento do potencial humano.
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