O dólar hoje aprofundou o ritmo de queda no mercado doméstico. Às 16h17 desta segunda-feira (29), a moeda americana recua 0,49% a R$ 5,630 — o movimento, no entanto, não é suficiente para frear os ganhos da divisa no ano. No acumulado de 2024, o dólar já sobe 16,01%.
Leia também
Na última semana, o real foi impactado pelo rali recente do iene, em meio às expectativas de que o Banco do Japão (BoJ) volte a elevar juros na reunião de política monetária que acontece na quarta-feira (31). Um iene valorizado ante o dólar e uma eventual diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos fazem com que investidores revertam as chamadas operações de “carry trade”.
Essa estratégia financeira consiste em tomar empréstimos em uma moeda com juros baixos e investir em outra com juros altos para lucrar com a diferença. Dessa forma, a desmontagem de operações de “carry trade” tende a penalizar moedas de países emergentes, que possuem taxas de juros mais altas.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Nesta segunda-feira, no entanto, o real passa por um movimento de recuperação técnica, apesar da onda de valorização da moeda americana no exterior. O índice DXY, por exemplo, que mede o dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, avança 0,22%, aos 104,546 pontos.
Na última sexta-feira (26), a divisa americana terminou o dia em alta de 0,21% a R$ 5,660 — o maior patamar desde o último dia 2 (R$ 5,6648). No cenário doméstico, investidores repercutiram o rombo de R$ 38,8 bilhões registrado nas contas do governo. O déficit ocorre quando a arrecadação de tributos e impostos fica abaixo do gasto do período. O resultado foi negativo mesmo com a arrecadação recorde para o mês de junho.
Os números levantaram temores de que o governo federal tenha que fazer novos congelamentos de gastos adicionais, uma vez que a contenção de gastos já anunciada, de R$ 15 bilhões, pode não ser suficiente para garantir o cumprimento das metas fiscais neste ano.
“Super Quarta” pode mexer com o dólar
O mercado se posiciona para uma semana que será marcada pela “Super Quarta”, com decisões de juros nos Estados Unidos e no Brasil. A expectativa é de que, no cenário doméstico, o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a Selic no patamar de 10,5% ao ano.
Para Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, o Brasil tem mais fatores pesando para manter ou aumentar a taxa de juros do que para cortá-la. “Primeiro pelo cenário fiscal, que mesmo com a arrecadação subindo 9,08% real nos últimos 12 meses, ainda temos projeção de déficit fiscal para 2024 e 2025. O corte de R$ 25,9 bilhões no orçamento de 2025 também parece ser insuficiente para cumprir a meta fiscal e o colegiado deve cobrar isso em sua comunicação”, afirma.
Publicidade
Já o Federal Reserve (Fed) deve manter a taxa de juros no mesmo patamar neste mês, mas abrir a porta para um corte mais à frente. Ferramenta de monitoramento do CME Group mostra 100% de chances de que o Banco Central americano inicie o movimento de relaxamento monetário em setembro. As apostas majoritárias são de uma redução acumulada de 75 pontos-base até dezembro.
Em relação ao câmbio, que nos últimos dias ultrapassou os R$ 5,60, Oliveira acredita que o real deverá continuar desvalorizado ao longo do ano, mesmo com uma possível queda de juros nos Estados Unidos. “As eleições americanas ainda não fizeram impacto no mercado, mas uma vitória de Donald Trump deve fortalecer o dólar mundialmente. A única maneira do real se valorizar novamente em relação ao dólar é com o governo recuperando sua credibilidade fiscal,” explica o tesoureiro do Paraná Banco Investimentos.
*Com informações do Broadcast