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- Desde a quinta-feira (12), o Banco Central injetou cerca de US$ 10,7 bilhões no mercado de câmbio via leilões de dólar para tentar conter a disparada da cotação
- É a maior frequência de intervenções desde 2021, mas a movimentação não tem sido suficiente
- Especialistas explicam que as operações não vão ser suficiente para conter a disparada do dólar até que haja um endereçamento da questão fiscal, o verdadeiro motivo por trás do desequilíbrio recente do câmbio
Desde a quinta-feira (12), o Banco Central injetou cerca de US$ 12,7 bilhões no mercado de câmbio via leilões de dólar para tentar conter a disparada da cotação. É a maior frequência de intervenções desde 2021, mas a movimentação não tem sido suficiente. Nesta terça-feira (17), o dólar ignorou um novo leilão à vista de US$ 1,27 bilhão e superou os R$ 6,20, levando o BC a realizar uma outra venda de US$ 2,015 bi.
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Os leilões de dólar são operações para garantir liquidez ao mercado de câmbio em momento de alta da moeda americana. Apesar disso, nenhuma das operações realizadas pelo BC até aqui tem gerado o efeito desejado. Os especialistas explicam que esse já era um resultado esperado, tendo em vista os motivos por trás das altas recentes.
O primeiro ponto contribuindo para a alta do dólar é a época do ano. Em dezembro, é comum observar um aumento na procura, especialmente por parte de empresas multinacionais que compram a moeda para remeter recursos às matrizes. Isso tende a jogar a favor da oscilação cambial.
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Mas o principal motivo por trás da disparada do dólar é outro: o risco fiscal. Bruno Nascimento, analista de câmbio da B&T Câmbio, explica que a alta neste ano está diretamente relacionada à evolução da tramitação do pacote de corte de gastos no Congresso, cuja aprovação ainda não está clara. O governo tem até a sexta-feira (20) para conseguir aprovar as medidas antes do recesso parlamentar e a descrença com o tamanho do ajuste e sua efetivação é o que mais pesa no câmbio nos últimos dias.
“Embora a ação do Banco Central possa acalmar o mercado, os leilões são uma estratégia de política monetária utilizada para reduzir a velocidade do avanço do dólar. No entanto, para conter significativamente esse movimento, o mercado espera uma postura mais clara e eficiente em relação às reformas estruturais”, diz Nascimento.
Esta também é a avaliação de Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas. Até que haja uma resposta mais clara em relação ao fiscal, os outros pontos que poderiam jogar a favor do real, como leilões de dólar ou o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, acabam não surgindo tanto efeito. “Os leilões não estão e nem vão conseguir segurar a disparada do dólar, que tem como principal motivo a questão fiscal.”
O que são os leilões de dólar
Os leilões de dólar são operações em que a autoridade monetária oferece dólares diretamente aos participantes do mercado, como bancos e instituições financeiras. Dessa forma, eles representam ferramentas utilizadas para regular a liquidez e dar suporte à estabilidade cambial. Intervenções desse tipo sinalizam o compromisso do Banco Central com o equilíbrio do câmbio, ajudando a reduzir incertezas e a diminuir a volatilidade do mercado – por isso, são comumente utilizados em momento de disparada da cotação.
O BC tem um cadastro de dealers de câmbio – bancos e corretoras que atuam como seus intermediários. Esses dealers não são sempre os mesmos, variando de tempos em tempos conforme os critérios estabelecidos pelo Banco Central para o seu credenciamento. “Durante um leilão, esses participantes fazem uma cotação eletrônica, em que cada dealer pode mandar as suas ofertas no limite pré-estipulado pelo Banco Central. Posteriormente, essas ofertas são analisadas: algumas são descartadas e outras, validadas”, descreve Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital.
Com a injeção de um volume grande de dólares no mercado com os leilões do BC, o preço da moeda americana tende a ceder. “Temos visto, no entanto, que esse movimento é momentâneo. A contenção do dólar ocorre temporariamente, mas depois a divisa volta a subir”, pontua Pletes. “Um controle efetivo do dólar vai depender, na verdade, do cenário econômico interno. O risco fiscal está tão pesado que esses leilões não têm sido suficientes para conter a aceleração da moeda americana”, complementa.
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