O dólar hoje fechou em queda no mercado doméstico de câmbio pela oitava vez seguida. Nesta quarta-feira (29), a moeda americana encerrou em baixa de 0,06% a R$ 5,8662, depois de ter chegado a atingir mínima a R$ 5,8427 pela manhã. A divisa até conseguiu subir em alguns momentos do pregão, mas voltou a ficar no território negativo.
A movimentação ocorreu em meio à “Super Quarta” – termo usado no mercado financeiro para nomear as quartas-feiras em que coincidem as decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Lá fora, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) optou por manter os juros inalterados na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano, em decisão unânime.
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Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, o comunicado da autoridade veio em tom mais duro do que o esperado. “Foram poucas alterações, mas vale destacar que o trecho referente à inflação teve uma mudança mais dura, com o Fed retirando a frase em que afirmava que a inflação progredia em direção à meta”, destaca.
Em coletiva de imprensa, Jerome Powell, presidente do Fed, disse que a autoridade monetária segue focada em seu mandato duplo, de máximo emprego e estabilidade de preços. “A inflação diminuiu significativamente nos últimos dois anos, mas continua um pouco elevada em relação às nossas estimativas de meta de longo prazo de 2%”, ponderou.
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As falas mais brandas de Powell ajudaram a melhorar o desempenho do real. “A Super-Quarta normalmente é um dia marcado por cautela dos mercados. Então, hoje a gente teve um dólar oscilando entre R$ 5,84 e R$ 5,88, principalmente aguardando a divulgação do que iria ser a decisão de política monetária por parte do Fed”, diz Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
Após o fechamento do mercado, chega a vez do Comitê de Política Monetária (Copom) decidir os rumos da Selic no País. A expectativa é de que a autoridade cumpra o guidance (orientação futura sobre os juros) dado na última reunião e eleve a taxa básica de juros brasileira em 1 ponto percentual para o patamar de 13,25% ao ano.
Dólar também passou por realização
Márcio Estrela, consultor da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), destaca que as variações do dólar de um dia para o outro, muitas vezes, representam movimentos de realização de lucros e ajustes de posições. Nesta quarta (29), a moeda americana subiu no exterior. O índice DXY, que compara o dólar frente a outras seis principais divisas, chegou a ultrapassar os 108 pontos pela manhã. Ao final da tarde, avançava 0,07% aos 107,941 pontos.
Para Estrela, outro fator que mexeu com a cotação do dólar em relação ao real e fez a moeda subir em parte da sessão foram os dados sobre o fluxo cambial brasileiro, que ficou negativo em US$ 7,953 bilhões de 1º a 24 de janeiro, segundo informações preliminares divulgadas pelo Banco Central. O canal financeiro teve saída líquida de US$ 3,942 bilhões. Já o comercial, saldo negativo de US$ 4,012 bilhões.
“Uma das principais questões domésticas que vão explicar o desempenho do câmbio tem a ver com as contas externas, porque elas são a principal fonte de dólar que a gente tem no mercado. Então, os dados que saíram agora no começo do ano mostraram uma saída de dólar, um fluxo negativo”, ressalta o consultor da Abracam.
O que faz o dólar subir 5% em janeiro?
O dólar acumula, em janeiro, perdas de 5,08%. Na última semana, a moeda americana fechou abaixo de R$ 6 pela primeira vez no ano, retomando os patamares observados em novembro de 2024. A avaliação do mercado é de que as propostas apresentadas por Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, até o momento, foram mais brandas do que as inicialmente previstas.
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Na última terça-feira (21), o republicano afirmou a jornalistas que está discutindo a imposição de uma tarifa de 10% sobre os produtos importados da China em 1º de fevereiro. A taxa planejada, no entanto, é mais branda do que a anteriormente prometida durante a campanha, quando Trump chegou a dizer que a tributação seria de 60%.
Além de se beneficiar do tom mais brando adotado pelo republicano, o real também tem ganhado força com a falta de notícias turbulentas na área fiscal no Brasil. Com o recesso parlamentar, que se estende até fevereiro, a agenda doméstica tem sido mais tranquila. Agora o foco fica na decisão de juros do Copom. “O mercado segue atento ao diferencial de juros entre Brasil e EUA, com as apostas de que hoje o Comitê elevará a Selic em 1 ponto porcentual”, diz Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas.
Em relação às expectativas para o dólar ao final do ano, a estimativa da última edição do Boletim Focus se manteve em R$ 6, mesmo patamar previsto para 2026. Já as medianas do relatório para a cotação da moeda americana no longo prazo subiram. A projeção intermediária para o fim de 2027 passou de R$ 5,92 para R$ 5,93.
*Com informações do Broadcast
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