As bolsas de Nova York fecharam em baixa nesta sexta-feira (31), pressionadas pelos anúncios de tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A administração afirmou que as taxações entrarão em vigor amanhã, e rechaçou rumores de que eventuais isenções estariam incluídas. Desta forma, Washington passará a cobrar tarifas de 25% de produtos do México e Canadá, além de 10% das exportações chinesas. O cenário ofuscou a temporada de balanços, que contou com divulgações relevantes após o fechamento do mercado ontem. O bitcoin também recuou hoje. Os títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries) e o dólar, por outro lado, avançaram.
A semana terminou com alta no Dow Jones e recuos no S&P 500 e Nasdaq, mais afetados pelas fortes quedas do setor de tecnologia envolvendo o chatbot da chinesa DeepSeek. O índice Dow Jones caiu 0,75%, a 44.544,66 pontos, o S&P 500 recuou 0,50%, a 6.040,53 pontos, enquanto o Nasdaq teve queda de 0,28%, a 19.627,44 pontos. Na semana, houve alta de 0,27%, e quedas de 1,00% e 1,64%, respectivamente.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou que as tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá começarão a valer a partir de 1° de fevereiro, assim como as tarifas de 10% para a China. Sobre tarifações à União Europeia, a Casa Branca reiterou que ainda não há nada definido e que os EUA não desejam iniciar uma guerra comercial com o Canadá. A notícia derrubou as ações, que vinham em alta em uma sessão que contou com a leitura do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos EUA, que subiu 2,6% em dezembro, na comparação anual, acelerando ante o resultado de novembro. Já o núcleo – que exclui itens voláteis como alimentos e energia – teve avanço anual de 2,8% no período, permanecendo estável. Ambos os números vieram em linha com o esperado pela FactSet.
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Entre os balanços, as ações da Apple caíram 0,67%, depois que a empresa divulgou que teve lucro líquido de US$ 36,3 bilhões no trimestre encerrado em dezembro, aumento de mais de 7% em relação a igual período do ano anterior. Já as vendas do iPhone caíram no trimestre, um sinal de que seu software de inteligência artificial ainda não deu início a um novo ciclo de crescimento para seu produto mais valioso. A empresa reportou uma queda nas vendas na China de mais de 11%. Já os papéis da Chevron tombaram 4,56%, depois que a companhia divulgou que teve lucro líquido de US$ 3,2 bilhões no quarto trimestre de 2024, maior do que o ganho de US$ 2,3 bilhões apurado em igual período do ano passado. As ações da Intel recuaram 2,90% depois que a empresa publicou resultados, assim como a Visa, que caiu 0,36%.
Juros dos EUA avançam
Os juros dos Treasuries operaram em alta, diante da busca por ativos considerados mais seguros e aceleraram os ganhos após a Casa Branca confirmar que as tarifas contra México, Canadá e China, anunciadas ontem por Donald Trump, passam a valer a partir de amanhã. Pela manhã, dados de inflação dos EUA e falas da dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Michelle Bowman, também influenciaram a dinâmica das taxas dos títulos.
No fim da tarde, perto do horário de fechamento da bolsa de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos se manteve estável a 4,203%. O rendimento de 10 anos avançava a 4,547%. O juro do T-bond de 30 anos subia a 4,803%.
No meio da tarde, a Casa Branca confirmou que as tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá começarão a valer a partir de amanhã, 1° de fevereiro, assim como as tarifas de 10% para a China. Bowman, por sua vez, alertou hoje para a necessidade de clareza do impacto da política econômica de Trump antes de alterar as taxas de juros.
A alta nos Treasuries reflete as incertezas em torno das políticas de Trump, como apontado pelo BMO. Contudo, com Trump de volta, “o manual tradicional precisa ser ajustado para lidar com os riscos associados às agendas de comércio e imigração do presidente”, aponta o banco. Atualmente, as negociações de ativos relacionados a tarifas estão sendo feitas com uma visão “puramente reflacionária”, ou seja, o
mercado está antecipando um aumento na inflação devido às tarifas e outras políticas comerciais de Trump, diz o BMO.
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A SG destaca que a instabilidade nos mercados foi acentuada após Trump seguir com seus planos tarifários “sem oferecer detalhes sobre quais produtos ou setores seriam afetados”, incentivando a busca de ativos mais seguros.
O mercado ficará de olho na divulgação das estimativas de endividamento federal na segunda-feira, que oferecerá uma visão antecipada do que deve ser esperado do anúncio de refinanciamento da dívida do governo na quarta-feira, disse o BMO.
Moedas globais: dólar sobe
O dólar avançou em relação às principais moedas, com os ganhos se intensificando após a confirmação da Casa Branca de que as tarifas de 25% sobre o México e o Canadá, e de 10% sobre a China, entrarão em vigor a partir de amanhã. Os dados de inflação PCE dos Estados Unidos, divulgados mais cedo, também contribuíram para fortalecer a moeda americana durante a sessão.
O índice DXY, que mede a variação do dólar ante seis principais moedas, fechou em alta de 0,53%, a 108,356 pontos. Ao final do dia em Nova York, o dólar era cotado em alta a 155,14 ienes. A libra esterlina recuava a US$ 1,2410. O euro cedia a US$ 1,0383. A moeda americana tinha alta a 20,6703 pesos mexicanos e cedeu a 1,4499 dólares canadenses.
A Capital Economics destaca que já era certo que o dólar se destacaria nessa semana após reuniões de bancos centrais, balanços corporativos e dados econômicos dos Estados Unidos. “Acreditamos que a política comercial continuará a direcionar os mercados de câmbio nos próximos meses e que, no final das contas, essas políticas irão fortalecer o dólar quando se materializarem”, destaca a instituição.
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Ainda segundo a Capital, “os investidores estão avaliando as tarifas como positivas para o dólar”. Para a BBH Strategy, o dólar se manteve firme com as tarifas anunciadas por Trump. Além disso, a instituição destaca que o “forte crescimento” e “inflação elevada” nos EUA, junto com um Fed “mais agressivo”, continua a favorecer a valorização do dólar. Esse cenário, para a BBH, sustenta a expectativa de “rendimentos mais altos nos EUA”, o que atrai investidores para os ativos denominados em dólares, impulsionando ainda mais a moeda americana.
Bitcoin recua
O bitcoin operou em baixa, encerrando uma semana de queda e volatilidade para o ativo, que oscilou diante de um mercado de tecnologia em turbulência por conta dos desenvolvimentos do chatbot da chinesa DeepSeek. Além disso, seguem observadas as medidas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, envolvendo o setor de criptoativos.
Pouco antes das 17h15 (de Brasília), o bitcoin recuava 3,44%, a US$ 102.134,61, segundo a Binance. Já o ethereum tinha alta de 1,54%, a US$ 3.313,47.
“A semana foi marcada por um queda no mercado de tecnologia por conta da avalanche provocada pela Deepseek que também trouxe efeitos no setor cripto, apesar da rápida recuperação. O bitcoin teve um desempenho notavelmente superior, impulsionado em parte por manchetes positivas detalhando os projetos de lei de reserva em estados dos EUA e por aumento das taxas de financiamento e dos volumes de negociação”, afirma Fábio Plein, diretor regional da Coinbase para as Américas.
“Paralelamente, a MicroStrategy continua sua estratégia agressiva de acumulação de Bitcoin, adquirindo recentemente 10.107 bitcoins por US$ 1,1 bilhão, elevando suas participações totais para 471.107 bitcoins, avaliados em aproximadamente US$ 47 bilhões”, aponta Ana de Mattos, analista técnica da Ripio. “Embora esta seja uma informação positiva para o mercado cripto, os investidores devem ficar atentos aos riscos dessa concentração. A exposição da MicroStrategy ao bitcoin pode gerar forte volatilidade em suas ações, principalmente em períodos de correção do mercado”, pondera a analista.
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Nesta semana, El Salvador retirou o status de moeda legal do bitcoin, o que ficou claro na reforma da Lei Bitcoin que a Assembleia Legislativa aprovou. Com a modificação de seis artigos e a eliminação de três da legislação pioneira de setembro de 2021, o criptoativo deixa de ser moeda oficial, seu uso é relegado a trocas entre cidadãos e empresas privadas, e sua aceitação passa de obrigatória a voluntária.
O CME Group, principal mercado de derivativos do mundo, anunciou hoje que apresentará opções sobre futuros de bitcoin na sexta-feira, em 24 de fevereiro, enquanto se aguarda a revisão regulatória. Esses novos contratos serão as primeiras opções de criptomoeda do CME Group a serem liquidadas financeiramente, com vencimentos disponíveis todos os dias da semana comercial, de segunda a sexta-feira.