O dólar à vista engatou 12 pregões consecutivos de queda ante o real, período em que a cotação caiu mais de R$ 0,38 até bater R$ 5,75. A sequência foi interrompida nesta quarta-feira (05), dia em que a moeda americana teve uma realização de lucros e subiu 0,38% ante o real. A dúvida, agora, é se o dólar vai continuar caindo ou pode retornar aos níveis mais elevados vistos na reta final de 2024, quando a moeda americana bateu um recorde histórico e chegou a ser negociada acima dos R$ 6,20.
À época, o mercado brasileiro enfrentou o auge do estresse em relação ao fiscal, um combo de deterioração das expectativas em relação à inflação e à trajetória da dívida pública após a frustação com as propostas apresentadas pelo governo para reduzir os gastos públicos. O pacote fiscal foi apresentado no dia 28 de novembro – naquela semana, o dólar rompeu os R$ 6 pela primeira vez na história. Com uma queda acumulada de 5,56% em janeiro, a cotação retornou aos mesmos R$ 5,80 a que era negociada antes da apresentação das medidas.
É como se a cotação estivesse, agora, no “zero a zero”, sem os excessos acumulados no final de 2024, explica Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas. “No curto prazo, a trajetória futura dependerá de fatores internos e externos; decisões do Federal Reserve [o banco central dos Estados Unidos] sobre juros, do fluxo de capital para emergentes e do cenário fiscal doméstico. Embora seja improvável um retorno imediato à casa dos R$ 6, oscilações podem ocorrer diante de incertezas políticas e econômicas globais.”
O dólar vai continuar caindo?
A projeção do Boletim Focus, que traz a mediana das expectativas do mercado, é de um dólar a R$ 6 ao final de 2024. Algumas casas têm projeções ainda maiores; mostramos com detalhes nesta outra reportagem. Mas há espaço para o dólar continuar caindo. Ao menos, no curto prazo.
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“Estamos observando um fluxo positivo de entrada de recursos externos em nossa economia e com efeito compra de real. Entendemos que no mês de fevereiro, a taxa de câmbio pode continuar caindo até testar se possível o patamar de R$ 5,70”, diz Lucas Dezordi, economista-chefe da Rubik Capital.
A sequência de queda do dólar se deve a alguns fatores. No Brasil, desde a virada do ano, o Banco Central atuou com frequência para garantir liquidez ao mercado de câmbio, com operações de swap cambial. O recesso parlamentar no Congresso também amenizou – por ora – a volatilidade causada por medidas fiscais.
Enquanto isso, lá fora, o início do governo de Donald Trump está sendo mais brando do que o inicialmente previsto. O presidente dos EUA deu início à sua guerra tarifária, mas chegou a acordos com o México e o Canadá; as medidas que envolvem a China também foram menores do que as prometidas em campanha. Isso levou o dólar a um movimento de alívio global.
“Ninguém esperava que o dólar se enfraquecesse ante outras moedas neste momento”, destaca Felipe Vasconcellos, Sócio da Equus Capital. “Mas a volatilidade do mercado cambial permanece alta. Fatores como as políticas comerciais dos EUA, a situação fiscal brasileira e o cenário econômico global continuarão influenciando o comportamento do câmbio. Não há garantias de uma tendência sustentada de queda.”
Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, lembra que a marcha lenta do Congresso na definição das pautas prioritárias e a previsão de que a votação do orçamento de 2025 do governo Lula ocorra somente após o Carnaval “favoreceram a montagem de novas posições compradas na divisa norte-americana”. E agora? “Os riscos altistas também continuam no âmbito global, com as incertezas a respeito da política tarifária do governo Trump, apesar do alívio temporário gerado pela percepção de que as ameaças serão usadas como moeda de troca para negociações em relação a temas comerciais ou políticos. Há, inclusive, a expectativa de um acordo para a suspensão da aplicação das tarifas à China, similar ao que ocorreu entre os EUA, Canadá e México”, diz Zogbi.
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Com maior apetite por ativos brasileiros, a volta do fluxo de capital externo está beneficiando a apreciação do real. Dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consuloria, mostram que investidores estrangeiros ingressaram com R$ 6,82 bilhões em janeiro deste ano; o maior patamar mensal desde agosto de 2024.
Enquanto esse movimento continuar, o dólar pode continuar caindo. “O fluxo de investimento estrangeiro cresceu devido aos juros altos e à estabilidade econômica, aumentando a oferta de moeda estrangeira no País. A tendência da moeda dependerá das próximas decisões de política monetária no Brasil e no exterior, além da evolução do cenário fiscal”, afirma Pedro Ros, CEO da Referência Capital.