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Fabrizio Gueratto

OPINIÃO: Inflação não baixa com boné na cabeça

A inflação, que corrói o poder de compra da população, está longe de ser um problema resolvido

O uso de bonés tem se tornado símbolo de identidade política e ideológica, uma forma de se conectar com as massas e reforçar posicionamento. Foto: Reprodução/Instagram@bolsonarosp e Ricardo Stuckert/Presidência da República
O uso de bonés tem se tornado símbolo de identidade política e ideológica, uma forma de se conectar com as massas e reforçar posicionamento. Foto: Reprodução/Instagram@bolsonarosp e Ricardo Stuckert/Presidência da República

Ultimamente, tenho reparado uma curiosa tendência nas ruas e nas redes sociais: o uso de bonés com frases nacionalistas, que têm se espalhado por diversos grupos políticos. Esse fenômeno, que já foi observado na candidatura de Donald Trump nos Estados Unidos, com seu icônico “Make America Great Again”, tem ganhado força no Brasil.

Figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do governo têm adotado bonés com a frase “O Brasil é dos Brasileiros”, enquanto membros da oposição se apropriam de bonés com o lema “Comida barata novamente”. Esses acessórios têm se tornado símbolos de identidade política e ideológica, uma forma de se conectar com as massas e reforçar posicionamentos. No entanto, apesar da popularidade crescente dos bonés e dos slogans como “Brasil acima de tudo”, a dura realidade econômica do País permanece: a inflação continua alta e não cede diante de frases de efeito ou gestos simbólicos.

A inflação, que corrói o poder de compra da população, está longe de ser um problema resolvido e, na minha opinião, é evidente que um boné de político não vai mudar essa realidade. Tanto o governo quanto a oposição precisam deixar de lado as brigas nas redes sociais e enfrentar de forma séria o problema que afeta a vida de todos os brasileiros. O IPCA, principal indicador da inflação no Brasil fechou o ano de 2024 com alta de 4,83% e agora para 2025, a estimativa de inflação subiu de 5,08% para 5,50%. A meta era de 3% com tolerância de até 4,5%, porém como podemos ver o número ainda está bem acima da meta estabelecida pelo Banco Central.

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Além disso, a inflação tem afetado diretamente a vida dos brasileiros, especialmente em itens essenciais como alimentos e combustíveis. O preço dos alimentos, por exemplo, subiu 8,23% em 2024, com aumentos expressivos em itens básicos como arroz, feijão, carne e óleo. Já os combustíveis, que são um dos maiores vilões da inflação, registraram alta de 9,71% nos últimos 12 meses e  têm gerado uma pressão adicional sobre os preços de outros bens e serviços.

Essa escalada de preços tem levado o Banco Central a adotar medidas drásticas para tentar controlar a inflação, com a Selic subindo para 13,25% em janeiro, e com a previsão de alcançar 15% até o fim do ciclo de alta. Com os juros elevados, o crédito se torna mais caro, o que desestimula o consumo e ajuda a desacelerar a demanda, o que, teoricamente, poderia aliviar a pressão sobre os preços. No entanto, os efeitos dessa política não são imediatos e podem gerar consequências negativas, como o aumento da inadimplência, o crescimento do desemprego e uma desaceleração ainda maior da economia.

O cenário se torna ainda mais desafiador ao observarmos o impacto da inflação nas camadas mais vulneráveis da população. O poder de compra das famílias foi severamente comprometido, o que tem feito muitos brasileiros verem sua capacidade de adquirir bens essenciais diminuir drasticamente. O custo de vida nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, tem subido de forma alarmante, forçando muitas pessoas a readequar seus orçamentos para conseguir sobreviver. Com o aumento dos juros, a tendência é que, em pouco tempo, também vejamos uma queda nos empregos, agravando ainda mais a situação e tornando o cenário econômico cada vez mais difícil.

No fim das contas, a alta taxa de juros e os constantes aumentos de preços não serão resolvidos com frases em bonés ou gestos simbólicos, mas com políticas econômicas consistentes que possam garantir o controle dos preços sem prejudicar o crescimento econômico. Não adianta símbolos e slogans para atrair apoio, os números da economia não mentem: é preciso mais do que boné na cabeça para resolver a crise inflacionária que atinge a todos. O grande desafio, agora, será encontrar um equilíbrio entre o combate à inflação e a retomada do crescimento econômico, sem que as medidas de austeridade resultem em mais dificuldades para a população, especialmente para os mais pobres.

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