A recente desvalorização da Nvidia (NVDA), que perdeu mais de US$ 500 bilhões em valor de mercado após o surgimento da startup chinesa de inteligência artificial (IA) DeepSeek, acendeu um alerta entre investidores. Diante das incertezas sobre o futuro da companhia americana, especialistas sugerem que é hora de olhar para outras oportunidades de investimentos no setor de tecnologia e inteligência artificial. Empresas como AMD e TSMC (TSM), que também produzem semicondutores, surgem como alternativas, enquanto gigantes como Microsoft (MSFT) e Google seguem investindo em IA sem depender exclusivamente do hardware da Nvidia.
A forte queda das ações da Nvidia ocorreu após a DeepSeek demonstrar um modelo de inteligência artificial capaz de entregar desempenho comparável ao de chatbots ocidentais por um custo muito menor. Esse avanço gerou preocupações sobre a necessidade de investimentos cada vez maiores em chips de alto desempenho, base do modelo de negócios da Nvidia.
O mercado, que vinha precificando a empresa por cerca de 50 vezes seu lucro anual, agora reavalia se a expectativa de longo prazo para a companhia ainda se sustenta. “O mercado enxerga a Nvidia com bastante cautela. Apesar dos resultados excepcionais e cultura aguerrida da companhia, o mercado sempre buscou rachaduras na sua estrutura e agora foi a vez de o DeepSeek fazer esse papel. Como acontece desde 2023, o fato caiu como uma luva na narrativa da ‘bolha de IA'”, diz Pedro Carvalho, analista de tecnologia da Empiricus Gestão.
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Apesar da turbulência, grandes empresas de tecnologia continuam ampliando seus investimentos em inteligência artificial. A Meta (META) anunciou que gastará até US$ 65 bilhões em projetos do tipo, enquanto OpenAI, SoftBank (SFTBY) e Oracle lançaram uma joint venture de US$ 100 bilhões para expandir centros de dados nos EUA. Além disso, um consórcio liderado pelo empresário Elon Musk, que inclui a Vy Capital e a xAI, fez uma oferta de US$ 97,4 bilhões para adquirir a OpenAI, ampliando a disputa entre Musk e o CEO da empresa, Sam Altman.
A proposta, que visava transformar a OpenAI em uma plataforma de código aberto focada em cibersegurança, foi recusada por Altman, que ironizou a oferta ao sugerir a compra do X (antigo Twitter) por US$ 9,74 bilhões. Especialistas observam que esses movimentos indicam que o setor segue aquecido, mas que os investidores devem buscar alternativas diversificadas, evitando depender de uma única empresa para capturar as oportunidades desse mercado.
Empresas de IA que estão no radar dos investidores
Ao olhar por esse ângulo, Carvalho aponta que as fabricantes de semicondutores, como a TSMC; fornecedores de resfriamento, como a Vertiv (VRT); e empresas de infraestrutura de data centers, como a Celestica (CLS), surgem como oportunidades promissoras para investidores atentos à expansão desse mercado. Além disso, o analista afirma que a demanda crescente por energia tem fortalecido empresas como Constellation Energy (CEG) e Vista, que fornecem eletricidade para gigantes como Amazon, Microsoft e Google.
Carvalho justifica a escolha dessas empresas por causa da necessidade de maior capacidade computacional para aplicações de IA que têm aquecido o mercado de semicondutores, área em que a TSMC se destaca como uma das principais fornecedoras da Nvidia e da Apple (AAPL). Ao mesmo tempo, soluções para evitar o superaquecimento dos processadores são cada vez mais requisitadas, beneficiando companhias como a Vertiv, especializada em resfriamento líquido. Já no segmento de infraestrutura, a Celestica vem ganhando espaço com serviços voltados para a manutenção e operação de data centers, essenciais para garantir a eficiência dos novos sistemas de IA.
Guilherme Amaral, analista da Kinea, aponta que fabricantes de semicondutores como Broadcom (AVGO) e Marvell (MRVL) se beneficiam da tendência dos chips customizados (ASICs), voltados para aplicações específicas de IA. Assim como Carvalho, ele também destaca a posição estratégica da TSMC. No setor de software, Amaral menciona que companhias como Salesforce (CRM), ServiceNow (NOW) e Snowflake (SNOW) estão incorporando IA para aumentar a produtividade dos clientes, enquanto a Oracle vem consolidando sua posição como a quarta maior provedora de nuvem, com foco em infraestrutura para inteligência artificial.
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Henrique Vasconcellos, analista da Nord Investimentos, reforça a importância do setor de semicondutores, listando empresas como AMD, Qualcomm (QCOM), ARM (empresa adquirida pela Nvidia, em processo de compra), Marvell e KLA Systems (KLAC) como beneficiadas pelo crescimento da IA. Segundo ele, a ASML (ASML), fabricante holandesa de máquinas de litografia avançada, mantém seu monopólio na produção dos equipamentos essenciais para a fabricação de chips de última geração.
No campo das aplicações, Vasconcellos aponta empresas que vêm se destacando com o uso de IA. A Palantir (PLTR), especializada em análise de dados, teve valorização superior a 1.000% nos últimos 18 meses. Já a Tempus AI (empresa privada) aposta na inteligência artificial para descoberta de medicamentos, enquanto a Hims & Hers Health (HIMS) explora seu potencial na triagem de pacientes em telemedicina.
Como escolher o investimento em IA ideal e como se proteger
O setor de inteligência artificial atrai investidores em busca de oportunidades de alto crescimento, mas escolher ações de empresas menores exige atenção a critérios específicos. Especialistas dizem que entre os fatores mais importantes estão a tecnologia desenvolvida, a competitividade no mercado e o modelo de negócios. Também é fundamental avaliar a saúde financeira porque companhias com alto endividamento ou dependentes de novos aportes podem ter dificuldades à medida que as condições econômicas mudam.
Outro aspecto a ser considerado é a adoção da tecnologia. “Empresas menores podem ter produtos inovadores, mas precisam demonstrar que suas soluções são viáveis e que há interesse do mercado. O crescimento da receita e a capacidade de manter clientes mostram a força da operação. Parcerias com grandes companhias também dão credibilidade e podem garantir contratos de longo prazo”, explica o economista e especialista em mercado internacional, Paulo Godoi Filho.
Para reduzir riscos, ensina ele, o investidor deve distribuir seu capital entre diferentes empresas, evitando depender de poucas apostas. “Acompanhar os resultados trimestrais e avaliar a governança da companhia ajuda a identificar possíveis problemas antes que se agravem. Além disso, é importante observar a liquidez das ações, pois empresas menores podem ter menor volume de negociação, dificultando a venda do papel em momentos de instabilidade”, pontua.
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Por fim, é recomendável que o investidor se mantenha atualizado sobre tendências do setor e mudanças regulatórias que possam afetar as empresas de IA. Os especialista consultados nesta reportagem deixam claro que o avanço da inteligência artificial é dinâmico, e tecnologias que hoje parecem inovadoras podem se tornar obsoletas rapidamente. Adotar uma abordagem criteriosa e buscar orientação de especialistas são estratégias inegociáveis para entrar nesse mercado sem assumir riscos excessivos.
Setores e empresas promissoras para Investimentos em IA
Semicondutores
Empresas que fabricam chips e semicondutores estão entre as mais beneficiadas pelo crescimento da inteligência artificial:
- TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) – principal fornecedora da Nvidia e Apple, destacada pela solidez e capacidade produtiva.
- ASML – possui o monopólio na fabricação de máquinas de litografia avançadas, essenciais para a produção de chips de última geração.
- AMD, Qualcomm, Broadcom, ARM, Marvell e KLA Systems – empresas que atendem à crescente demanda por chips personalizados para IA.
Infraestrutura de energia
O aumento da demanda computacional impulsiona o setor elétrico:
- Constellation Energy e Vistra – fornecem eletricidade para grandes empresas como Amazon, Microsoft e Google.
- Vertiv – especializada em soluções de resfriamento para data centers, essenciais para evitar superaquecimento de servidores usados em IA.
Infraestrutura de data centers
Com a necessidade de maior capacidade computacional, empresas que atuam na manutenção e operação de data centers estão em alta:
- Celestica – ganhando espaço no segmento com serviços voltados à eficiência operacional de data centers.
- Oracle – consolidando sua posição como a quarta maior provedora de nuvem, com foco em infraestrutura para IA.
Aplicações de IA em diferentes setores
Companhias que integram inteligência artificial em seus produtos e serviços estão atraindo investidores:
- Salesforce, ServiceNow e Snowflake – incorporam IA para aumentar a produtividade de clientes corporativos.
- Palantir – especializada em análise de dados, registrou valorização superior a 1.000% nos últimos 18 meses.
- Tempus AI – utiliza inteligência artificial para descoberta de medicamentos.
- Hims & Hers Health – explora o uso de IA na triagem de pacientes em telemedicina.