

O banco Inter revisou nesta sexta-feira (14) a sua projeção para diferentes indicadores econômicos brasileiros em 2025. Em relação ao dólar, que já cai 7,55% no ano, a instituição reduziu sua estimativa de R$ 6 para R$ 5,9, sem enxergar, no entanto, que o real tenha grande espaço para se recuperar.
“Após o pico de R$ 6,3 em dezembro, o real voltou a apreciar no começo de 2025 e ajustamos nossa expectativa para R$ 5,9. Apesar do maior diferencial de juros e da recente alta das commodities, o risco de nova expansão fiscal deve continuar no radar impedindo uma valorização mais significativa da moeda brasileira“, afirma o banco em relatório assinado por sua economista-chefe, Rafaela Vitória.
Com a acomodação atual do câmbio em um patamar próximo a R$ 5,80 e os sinais de desaceleração da atividade, o Inter também ajustou seu cenário de alta para a Selic para 14,75% ao final do ciclo de aperto monetário. A visão é um pouco mais otimista do que a presente no Boletim Focus, em que a mediana para a taxa básica de juros brasileira, atualmente, está em 15%.
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O banco espera que o Copom efetive a alta de 1 ponto percentual na próxima reunião em março, conforme antecipado pelo último comunicado, e faça um ajuste final de 0,50 ponto percentual em maio. Para a instituição, outra possibilidade seria uma desaceleração mais acentuada da atividade levando a uma pausa do aperto monetário já em maio, com a Selic terminal em 14,25%.
Quanto ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o Inter revisou sua projeção de 1,7% para 1,5% em 2025, mantendo a de 2026 em 2,2%. O banco também espera um crescimento do PIB de 0,5% no último trimestre, encerrando o ano de 2024 em 3,4%. “Para 2025, acreditamos que a desaceleração se intensifique, resultado do maior aperto monetário e da redução da oferta de crédito combinada com a ausência de novo impulso fiscal”, explica a casa.
O risco de crescimento maior da economia em 2025 depende de novas medidas de estímulo pelo governo. Por outro lado, o Inter observa que esses potenciais anúncios podem levar a uma nova deterioração das condições financeiras, com desvalorização do real e nova aceleração da inflação, resultando em retomada do ciclo de alta de juros e comprometendo o crescimento também em 2026.
No que se refere à inflação, o banco ajustou sua projeção de 4,9% para 5,2% em 2025 e de 3,9% para 4,2% em 2026. A decisão ocorre baseada no entendimento de que a deterioração da inflação de serviços e a alta do câmbio devem manter o IPCA acima de 5% ao longo de 2025, com uma inércia maior para 2026, apesar do cenário mais restritivo da política monetária.
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Na visão do Inter, a recente alta das commodities também impactou os preços de alimentos e deve resultar em reajustes de bens industriais à frente. “Uma desaceleração maior do crédito e da atividade pode favorecer uma queda mais acelerada da inflação no segundo semestre. Por outro lado, o cenário externo de economia mais aquecida nos EUA e o risco fiscal no radar podem voltar a impactar o câmbio e gerar novas pressões.”
Risco fiscal ainda deve dominar o cenário em 2025 e 2026
A instituição entende que a aceleração na dívida pública e o desafio de cumprir o arcabouço fiscal permanecem como principal risco no cenário em 2025 e 2026. Depois de chegar a 76% do PIB, com custo médio de 11%, a casa estima nova aceleração da dívida pública para 79% em 2025.
“A Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano ainda passa por análise com estimativa de aprovação somente em março. Mesmo considerando uma revisão do crescimento de despesas, após a aprovação das medidas de ajuste em dezembro, estimamos déficit de R$ 80 bilhões em 2025, ou 0,6% do PIB, próximo do cumprimento do limite da meta (que exclui R$ 40 bilhões de pagamento de precatórios)”, completa o Inter.
Em um cenário como esse, o banco acredita que o risco fiscal deve permanecer no radar com potenciais propostas de gastos fora do arcabouço e outros parafiscais, como o recente exemplo dos R$ 6 bilhões do programa Pé-de-Meia. Além disso, para 2026, a discussão da proposta de isenção de Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil mensais pode novamente deteriorar o resultado fiscal em ano de eleição.
Nos EUA, pausa no ciclo de queda de juros
Em janeiro, o Federal Reserve (Fed) decidiu interromper o ciclo de relaxamento monetário iniciado em setembro nos Estados Unidos. Em suas projeções mais recentes, o Fed antevia mais dois cortes de juros ao longo de 2025, mas, apesar do ano ainda estar no início, a perspectiva para esses cortes se torna cada vez mais limitada.
O índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA de janeiro, de 0,5%, bem acima do esperado, deve tornar a autoridade monetária ainda mais cautelosa em suas próximas decisões. “Com a inflação a 3% no acumulado dos últimos 12 meses, o espaço para a retomada dos cortes no 1º semestre é praticamente inexistente, especialmente se considerarmos que as políticas tarifárias de Donald Trump têm o potencial de causar um aumento na volatilidade da inflação no curto prazo”, reflete o Inter.
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Nesse contexto, o banco não vê espaço para o Fed retomar os cortes até a reunião de setembro. “A retomada dos cortes antes disso dependerá de uma piora substancial do mercado de trabalho, que não parece estar no horizonte de curto prazo.”
Dólar cai ao menor nível desde novembro
Nesta sexta-feira (14), o dólar opera em queda de 0,98% a R$ 5,7118, menor nível desde novembro, com apoio das commodities e uma leitura mais positiva quanto ao tarifaço de Trump. O republicano anunciou na quinta-feira (13) um plano para implementar novas tarifas contra países e produtos que taxam importações dos EUA, mas que não é imediato. Haverá um prazo de negociação até abril antes de decisões definitivas.
“Os sinais de que as tarifas recíprocas dos Estados Unidos podem levar semanas para entrar em vigor deixam os investidores menos apreensivos. Em outros mercados, o dólar estende a baixa frente às principais moedas”, destaca a Ágora Investimentos em relatório.
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