

Carnaval passou e a conta chegou. Além dos gastos obrigatórios de início de ano, os extras da folia estimulam o maior uso do crédito, que somado ao cenário de juros elevados tornam a gestão financeira das famílias cada vez mais desafiadora. E com a dívida crescente no radar, muita gente se pergunta: vale a pena resgatar investimentos para quitar dívidas?
O critério essencial para responder essa pergunta é comparar a taxa de juros da dívida com a rentabilidade do investimento. Como regra geral, os juros de financiamentos e parcelamentos são muito superiores aos rendimentos da maioria das aplicações financeiras. Por isso, a resposta na maioria dos casos é: sim.
“Não tem sentido deixar dinheiro aplicado rendendo menos. A dívida cresce muito mais rápido porque tem juros maiores”, diz o diretor de estudos e pesquisas da Associação Nacional de Executivos (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira.
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“Por isso, sempre vai valer a pena resgatar o investimento para liquidar ou amortizar o máximo que for possível do débito. Depois disso, volta a fazer depósitos para investimento“, afirma o especialista. Ele dá como exemplo, uma pessoa que paga juros de dívida em 2% a 4% ao mês e obtém retorno de 0,8% num investimento. “Não faz sentido”, reforça.
Cartão é a maior dívida do brasileiro
Segundo os últimos dados da a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o cartão é a principal modalidade de crédito do brasileiro. Representa, na média, 30% dos gastos, sendo que para 1/5 das famílias essa despesa chega a ser 50% de suas obrigações mensais.
Para o economista chefe da CNC, Felipe Tavares, esse cenário tende a piorar a partir deste mês de março. “A necessidade de recorrer ao crédito para consumo, somada à manutenção de juros elevados, deve tornar a gestão financeira um desafio ainda maior para os consumidores brasileiros”, afirmou o economista à Agência Brasil na divulgação da Peic em fevereiro.
Para quem empurra a dívida no rotativo do cartão, o cenário é preocupante. Os juros podem passar de 22% ao mês, no caso dos clientes da Crefisa, instituição com a maior cobrança, em janeiro, segundo a pesquisa do Banco Central com 55 instituições financeiras. A mediana das taxas do rotativo é de 16% ao mês, de acordo com o BC, o que representa uma taxa anual de 500%.
Será que vale a pena vender um bem?
A venda de um bem para quitar dívidas também pode ser uma alternativa, mas exige cautela. Se o compromisso for pequeno, não seria razoável se desfazer de um ativo valioso. No caso de valores mais altos, poderia ser uma solução se a venda não envolver uma grande perda financeira, como uma grande depreciação, o melhor é buscar outras formas para quitar o passivo.
Um carro, por exemplo, envolve custos elevados como IPVA, seguro e manutenção. Se ele não for indispensável para o dia a dia, vendê-lo pode aliviar o orçamento e eliminar uma dívida cara. “A pessoa teria problema, no entanto, se precisa do carro para trabalhar. Neste caso não faz sentido”, observa Oliveira.
Cenário exige atenção nos gastos
Em momentos de estabilidade, tomar crédito pode ser uma estratégia viável para antecipar sonhos e investimentos, desde que feito com planejamento. Mas no atual ambiente em que o custo do dinheiro está elevado e a renda vem sendo corroída pela inflação acima da meta (4,56%), manter as finanças equilibradas é o melhor a ser feito.
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Veja nesta matéria cinco estratégias para sair das dívidas rapidamente e alcançar a estabilidade financeira.
O ideal é não contar com dinheiro que ainda não foi recebido e priorizar um estilo de vida sustentável, aconselha o executivo da Anefac, alertando que o descontrole pode levar a um ciclo de endividamento e risco de inadimplência, quando as dívidas ficam tão grandes que não é possível quitá-las mais.
Para evitar o endividamento, o primeiro passo é elaborar um orçamento detalhado, listando todas as receitas e despesas, ajustando os gastos a realidade da renda familiar, evitando consumir mais do que se ganha. Muitas pessoas negligenciam pequenos gastos, que, somados, podem comprometer o planejamento financeiro. “Identificar despesas supérfluas e cortá-las é essencial, principalmente em um cenário de juros altos e crescimento econômico mais lento. Orçamento são escolhas”, diz Oliveira.