

O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, optou por manter a taxa de juros americana inalterada no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano. A decisão anunciada nesta quarta-feira (19) não é novidade, dado que as condições da economia do país ainda não permitem um afrouxamento na condução de política monetária. Nesse sentido, as atenções estavam voltadas a Jerome Powell, presidente do Fed.
A coletiva que Powell concede após a reunião do Fed geralmente contém direcionamentos sobre os próximos passos da instituição. Algo que vem sendo monitorado de perto pelo mercado em meio a tendências conflitantes na economia americana. Ao mesmo tempo que a inflação de fevereiro trouxe uma surpresa positiva, o mercado de trabalho permanece robusto com baixo nível de desemprego. Tudo isso em meio às incertezas geradas pela guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump.
Por isso, a postura de maior cautela para 2025. “O Fed claramente ainda não quer se comprometer com impactos que ainda não conhecemos, o que é difícil de refletir os preços, ou seja, o elevado grau de incertezas. Mas uma afirmação podemos fazer: essas medidas já estão dificultando o trabalho do Fed, que precisa ficar com um olho no peixe (meta de inflação) e outro no gato (desaceleração do PIB e consequentemente do mercado de trabalho)”, diz Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
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A aposta majoritária do mercado, após a decisão, é de uma redução total de 50 pontos-base na taxa de juros americana ao longo de 2025, mostra a ferramenta Fed-Watch do CME Group. Isso pode significar dois ajustes de 0,25; junho continua sendo o mês mais provável para o início do movimento, segundo 63,4% das apostas. Essa também é a projeção dos próprios membros do FOMC.
“O cenário para a política monetária não foi alterado (2 cortes de 0,25 pp) e mercados reagiram positivamente ao comunicado e às novas projeções. A vida dos membros do Fomc ficou mais difícil, mas até o momento os ajustes nas perspectivas para a política monetária foram bastante parcimoniosas. Até a próxima reunião muita coisa pode mudar”, pondera Danilo Igliori economista-chefe da Nomad.
Logo após a decisão, o dólar bateu a mínima do dia, com queda de 0,57% frente o real, a R$ 5,6400. Os juros longos dos Treasuries, que estavam em alta pela manhã, inverteram o sinal e passaram a cair. Em Nova York, os principais índices acionários sobem: Nasdaq avança 1,66%, enquanto Dow Jones e S&P 500 têm ganhos de 1,06% e 1,26%, respectivamente. O Ibovespa, por sua vez, subia 1,15% aos 132,9 mil pontos.
O Fed deixou a porta aberta para as próximas reuniões, numa postura “data dependent” frente a um cenário cheio de fatores de incerteza. Ainda assim, na coletiva de imprensa, Jerome Powell disse que a política monetária dos EUA está bem posicionada para lidar com um ambiente de incerteza elevada e que não tem pressa para alterá-la.
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Na avaliação de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Reserach, o Fed deve reduzir os juros ainda na primeira metade do ano, mas não terá espaço para novos cortes no segundo semestre.
“No médio prazo, os efeitos das tarifas colocam o Fed em uma posição delicada. O banco central terá que decidir entre manter os juros elevados para conter a inflação ou reduzi-los para estimular a economia”, afirma. “Esse dilema se tornará mais evidente no segundo semestre de 2025 e 2026, quando o impacto das tarifas for sentido e os sinais de desaceleração se intensificarem.”