

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nesta segunda-feira (7) aplicar uma taxa adicional de 50% às importações chinesas, caso o país asiático não retire até terça-feira (8) as tarifas retaliatórias de 34% sobre produtos americanos. A piora da guerra comercial desencadeia uma forte volatilidade no Ibovespa e nas principais Bolsa do mundo. O E-Investidor conversou com os analistas do mercado financeiro para saber o que o investidor deve fazer agora, em meio ao pânico global.
Na visão de Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, a queda dos índices acionários pelo mundo reflete uma piora nas projeções de resultados para as empresas em geral, em especial as de commodities. Ele diz que diversas ações da bolsa americana precificavam um crescimento constante na lucratividade das empresas de grande capital, o que se reverteu ao longo dessas ultimas semanas.
“Uma resposta agressiva de outras economias deve gerar uma desaceleração no consumo das economias e queda na cotação de diversas commodities, impactando a balança comercial de economias exportadoras de commodities e a arrecadação tributária do setor público ao redor do globo. As tarifas de Trump, em primeiro momento, causarão um aumento de preços, queda na demanda e mudança nas relações comerciais entre os países, o que poderá gerar custos adicionais às economias”, diz Belitardo.
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Sidney Lima, analista da Ouro Preto investimentos, lembra que o JPMorgan elevou a probabilidade de recessão de 40% para 60% após o anúncio das tarifas. Ele observa que uma recessão global afetaria diretamente o Brasil, dada sua integração no comércio internacional. A redução na demanda por commodities (por exemplo) poderia pressionar os preços para baixo, impactando negativamente as exportações brasileiras.
“O Ibovespa já reflete essa preocupação, registrando quedas significativas devido à fuga de ativos de risco”, diz Lima. Nesta segunda (7), o principal índice de Bolsa de Valores recuou 1,31%, aos 125.588,09pontos. O dólar subiu 1,30%, a R$ 5,9106 na venda.
Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos e da Top Gain, explica que, se o cenário de recessão se confirmar, o Brasil entra desprotegido: o país está com juros elevados e inflação acelerada. “O que já anda ruim para muitos empresários só tende a piorar”, aponta Correia.
O que o investidor deve esperar dos mercados agora?
Os três analistas explicam que o futuro dos mercados deve ficar nas mãos do presidente americano. Segundo ele, o que vai ditar o ritmo dos mercados é exatamente até que ponto Trump vai levar essas taxações adiante e de que forma esses contra-ataques por parte dos países vão acontecer.
Sidney Lima, da Ouro Preto, aponta que nos próximos meses os mercados serão influenciados por desenvolvimentos na guerra comercial, decisões de políticas monetárias por bancos centrais, especialmente o Federal Reserve, e indicadores econômicos que sinalizem a saúde da economia global. “A volatilidade deve permanecer elevada enquanto persistirem as incertezas”, salienta.
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Belitardo, da Hike Capital, diz que os dados do mercado de trabalho americano podem ditar o comportamento do dólar e, como consequência, dos ativos de risco ao redor globo.
O que o investidor deve fazer agora com Trump ameaçando a China?
Dois dos analistas ouvidos pela reportagem preferem que o investidor vá para a renda fixa em vez de continuar na renda variável. Lima, da Ouro Preto investimentos, diz que diante da atual volatilidade, investidores com perfil conservador podem considerar a migração para ativos de renda fixa, aproveitando taxas de juros atrativas e menor exposição ao risco.
No entanto, ele diz ser essencial avaliar o horizonte de investimento e a tolerância ao risco individual. “Se um investidor possui um horizonte longo de investimento, agora seria o melhor momento para começar a alocar gradualmente na renda variável”, diz Lima.
Alison Correia, da Dom Investimentos, lembra que o Brasil tem um das maiores taxas de juros do mundo. “Com tantas incerteza e instabilidade, é difícil não jogar a renda fixa”, diz Correia.
Os analistas sugerem que o investidor deve alocar seu dinheiro em ativos de renda fixa atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), pois ele não possui marcação a mercado, facilitando o resgate. Além disso, a taxa básica de juros da economia, a Selic, está em trajetória alta, com o mercado precificando a taxa em 15% ao término de 2025 contra os atuais 14,25%. Por isso esse seria o melhor momento para aportar na renda fixa.
Investidor mais arrojado pode se arriscar em meio ao tarifaço de Trump
Já Ângelo Belitardo, da Hike Capital, tem uma visão um pouco diferente. Ele argumenta que o investidor deverá reduzir sua posição em ações ligadas a commodities e em empresas cíclicas, aumentando a posição em ações de empresas resilientes e que façam ou não o uso de alavancagem, como as ligadas ao setor de logística, transportes, educação, farmácias e seguros.
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“Esses setores são resilientes e lucrativos, pouco impactados aos movimentos do consumo global, e irão se beneficiar de uma queda nas taxas de juros. Adicionalmente, as ações de empresas nesses setores estão bastante atrativos devido aos cenários de estresse na curva de juros local entre o final de 2024 e início de 2025”, diz.
Belitardo comenta que o investidor deve procurar ações que, no combinado de dividendos e alta dos preços dos ativos, podem render acima da Selic a 15%. Ele recomenda compra para as ações da Pague Menos (PGMN3), Panvel (PNVL3), Ânima (ANIM3), CSU Digital (CSUD3), Vamos (VAMO3), Movida (MOVI3), Ecorodovias (ECOR3), Desktop (DESK3), Eletrobras (ELET3) e BB Seguridade (BBSE3).
“São empresas geradoras de caixa e cujo preço atual das ações não reflete o real valor das companhias. Adicionalmente, são companhias cujo modelo de negócios é pouco vulnerável às oscilações do consumo global, mas que irão se beneficiar de forma bastante expressiva em um cenário de queda de juros global”, argumenta Belitardo.
Em linhas gerais, o ideal é o investidor conservador e moderado ficarem na renda fixa, visto que a Selic elevada traz melhor ganho de capital sem o stress do mercado com a guerra comercial de Donald Trump. Já o mais arrojado pode diversificar o patrimônio com a renda fixa em CDI e as ações recomendadas pelo gestor da Capital.
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