

Os juros futuros fecharam a sessão desta terça-feira (9) com alta firme, diante da aversão ao risco elevada pela confirmação do governo dos EUA da aplicação de tarifas adicionais de 50% à importação de produtos chineses. A busca por segurança penalizou o real e levou junto a curva de juros. As taxas na B3 chegaram a abrir quase 20 pontos-base nas máximas em alguns vencimentos, em meio ainda à volatilidade no segmento dos títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries).
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,765%, de 14,678% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 14,20% para 14,39%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 14,32%, de 14,12% ontem no ajuste.
Os mercados percorreram a manhã sob suspense, já que o prazo dado pelos EUA à China para retirada da tarifa de 34% às importações dos EUA venceria às 13h. O país asiático não retrocedeu e a tarifa adicional de 50%, totalizando 104% em sobretaxas, começará a ser cobrada amanhã. O dólar à vista subiu mais de 1% e resvalou novamente na marca de R$ 6, reforçando os riscos inflacionários em meio a dúvidas sobre qual será a postura do Federal Reserve num eventual cenário de estagflação nos EUA, diante de seu duplo mandato.
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As ações estiveram entre os ativos mais afetados nesta terça-feira, mas o economista Vladimir Caramaschi afirma que “a coisa ficará feia mesmo se a guerra comercial começar a afetar taxas de juros de forma mais significativa”. Em comentário no LinkedIn, ele considera que o fato de a taxa dos títulos de 10 anos subir, mesmo com analistas e instituições cortando expectativas de crescimento “a torto e a direito não é um bom sinal”.
No fim da tarde, a T-Note de dez anos apontava taxa de 4,27% e o dólar voltava a flertar com os R$ 6,00, com impacto sobre os DIs. Apesar da pressão na curva, o estrategista-chefe da AZ Quest, André Muller, considera que as taxas estiveram até bem ancoradas, em comparação ao que se vê nas moedas e ações, lembrando que o real hoje foi a pior divisa entre as emergentes.
Muller explica que num quadro de desaceleração global a atividade no Brasil tende a continuar perdendo força e as commodities, a arrefecer, o que pode levar o Banco Central a revisar a condução da política monetária, podendo antecipar o fim do ciclo de aperto da Selic. “O investidor quer saber que impacto esse ambiente externo terá sobre as ações do BC”, afirma o estrategista, acrescentando que o País já tem um nível de juro muito alto e que ao ficar no piso das tarifas aplicadas por Trump está em posição melhor do que vários outros, por exemplo, asiáticos.
Dado que a China é um dos países mais prejudicados pelo tarifaço, os preços das matérias-primas derretem e, por aqui, aumenta a expectativa em torno dos combustíveis, o que seria boa notícia para o cenário de preços.
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“A despeito da alta do dólar de quase 2% para R$ 5,9/US$ ante o nível da véspera do Copom de março (R$ 5,80/US$), a redução mais agressiva do preço médio do barril de -10% na mesma comparação, avaliamos uma probabilidade elevada do corte do preço da tarifa da gasolina de 3% a 5%”, afirma o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho.