

O risco de uma recessão global derrubou os preços do petróleo esta semana, bem como a pausa de 90 dias nas tarifas para importação nos Estados Unidos fez o preço da commodity voltar a subir. A volatilidade sempre fez parte do planejamento das empresas do setor. No entanto, o grau de incerteza do momento gera mais cautela no que diz respeito à alocação de capital.
Em evento do Bradesco BBI nesta quarta-feira, em São Paulo, o CEO da PetroReconcavo (RECV3), José Firmo, disse que a atual variação nos preços do petróleo não muda os planos da companhia, já que oscilações do tipo fazem parte do negócio. “O ano de 2025 exige mais cautela do que se não houvesse crise. A arma continua sendo custo baixo”, disse.
Enquanto ele falava, os preços caiam. Horas depois, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que aumentaria a tarifa cobrada da China para 125%, com vigência imediata. Ao mesmo tempo, decretou uma pausa para os países que não retaliaram suas medidas – saiba tudo nesta matéria.
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O anúncio reverteu a queda e fez a cotação do petróleo subir, assim como as ações de petrolíferas – a Petrobras (PETR3; PETR4), por exemplo, retomou R$ 17 bilhões em valor de mercado. “Foi um sinal de que o governo americano pode ter se assustado”, diz o analista de ações Ricardo Viana, que tem oito anos de experiência no mercado de ações, com foco em petróleo e siderurgia, e passagens por Verde Asset e Credit Suisse.
Ele explica que uma queda mais persistente nos preços, baseada no fato de que as tarifas dos EUA levariam a um sinal de recessão global, teria efeito negativo maior nas chamadas “junior oils” (petroleiras que compram reservas mais antigas e não atuam na exploração de novas fontes de petróleo).
A razão para isso é que essas companhias têm um grau de diversificação menor do que a Petrobras, que além de exploração, ainda tem a cadeia de refino em seu negócio. “Além disso, algumas delas estão mais endividadas”, pontua Viana.
O grau de endividamento varia entre os pares. Enquanto a PetroReconcavo tem alavancagem de 0,8x (dívida líquida/Ebitda, lucro antes de juros, depreciação, amortização e impostos), por exemplo, a alavancagem da Brava Energia (BRAV3) no fim de 2025 estava em 2,8x (no cálculo em dólares).
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Em geral, Viana avalia que a cautela em novos investimentos é recorrente quando o preço do petróleo brent está nos níveis em que chegou esta semana, cerca de US$ 60 o barril. “Esse preço não costuma ser o suficiente para retirar capacidade, mas pode colocar em dúvida a perfuração de novos poços, por exemplo. O que, no longo prazo, pode significar redução de oferta, já que o petróleo é um bem finito”, explica.
Para ele, porém, a palavra crise ainda não se justifica, já que, para a retirada de capacidade, os preços do petróleo teriam de baixar para perto de US$ 40. O que se vê pela frente ainda, portanto, é muita instabilidade.