

Após a temporada de balanços do quarto trimestre, os gestores de investimentos refazem as contas para saber quais as ações de empresas estão com preços de entrada interessante na Bolsa. Fernando Camargo Luiz, da Trópico Investimentos, identificou cinco delas que estão subavaliadas, com potencial de entregar bons retornos no futuro. Todas fazem parte do portfólio de investimentos da gestora.
A primeira da lista é a Desktop Sigma (DESK3), que atua no mercado de telecomunicações, com foco no fornecimento de acesso à internet via fibra ótica. “É uma das empresas mais baratas da Bolsa, com expansão garantida pela frente, eficiente na operação, margens altas e uma alavancagem operacional (capacidade de transformar lucro operacional em dinheiro disponível) importante”, diz o gestor.
Segundo ele, devido às aquisições passadas e a forma como foram feitas, a DESK3 ainda não está gerando caixa operacional. “Mas é uma questão de tempo. A empresa é muito bem gerida e potencialmente forte geradora de caixa.”
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Pelo último balanço, a Desktop obteve receita de R$ 292 milhões (+11% ao ano), Ebitda de R$ 150 milhões (+11% a.a) e margem Ebitda de 51,4%. A margem líquida, no entanto, foi de 7,8%. No mês, seus papéis valorizam acima de 2,5%, com queda de 45% em 12 meses. O múltiplo P/VP – que compara o preço da ação com o valor patrimonial por ação – indica que a empresa está negociada abaixo do valor contábil. Hoje, o mercado avalia a companhia em apenas 70% do seu patrimônio líquido, sugerindo que ela pode, realmente, estar subvalorizada.
Dividendos da Copel
A segunda da lista de Luiz, da Trópico, é a Copel (CPLE6), estatal paranaense do setor de energia e saneamento, famosa no mercado pelos dividendos. “A Copel está próxima de anunciar uma nova política de dividendos, estabelecendo metas de alavancagem e diretrizes de alocação de capital”, diz o gestor.
Segundo ele, a empresa tem uma situação financeira confortável o bastante para pagar todo o seu lucro líquido aos acionistas (ou seja, distribuir 100% dos lucros na forma de dividendos) por vários anos seguidos. Isso sem comprometer sua saúde financeira, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro operacional), que não passa de 3 vezes, “assumindo que não haja investimentos adicionais”. Empresa bem gerida e previsível, opina.
No mês, a CPLE6 sobe quase 3% e, no ano, mais de 16%. Pelo critério preço/lucro (P/L), a empresa está entre as mais bem avaliadas do setor de energia elétrica atualmente, com um múltiplo de 11,34 — sinal de que o mercado atribui um bom valor aos seus lucros.
Setor de shoppings
A terceira companhia é a Allos (ALOS3), do setor imobiliário de shoppings. “A empresa apresentou resultado sólido no quarto trimestre, de 2024, refletindo crescimento nas vendas, aumento da ocupação e forte geração de caixa”, diz o gestor.
Segundo observa, o crescimento das vendas por metro quadrado foi de 10,7% ano sobre ano, enquanto a taxa de ocupação subiu para 96,8%, com taxa de inadimplência em queda. A ALOS3 vem sendo negociada a 80% do seu patrimônio líquido, num múltiplo mais em conta em relação às maiores do setor, como a Multiplan (MULT3) e Iguatemi (IGTI11). Em 2025, já valorizou mais de 10%.
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Luiz chama atenção para o cap rate (taxa de capitalização) da Allos, medida usada para avaliar investimentos imobiliários. O indicador representa a rentabilidade anual de um ativo em relação ao seu valor de mercado. Quanto maior o cap rate, mais barato o ativo está em relação à renda que ele gera. “Em shoppings, a taxa de capitalização (cap rate) costuma ser de 7%, enquanto a ALOS3 negocia cap rate de 18%. Uma assimetria que não se justifica”, diz.
Sobrando dinheiro no caixa
Mostrando resultado e crescimento de distribuição de dividendos com Yield de 16% este ano, a Bemobi Mobile Tech (BMOB3) aparece no top 5 da Trópico. Esta é uma empresa focada na distribuição e monetização de aplicativos, games e serviços digitais móveis para países emergentes. “A receita líquida cresceu 11% sobre o ano anterior, com Ebitda ajustado de R$ 48 milhões e margem estável de 32,8%.”
Com situação confortável de liquidez e dívida líquida negativa, a BMOB3 vem de um histórico de crescimento de mais de 70% de receita nos últimos cinco anos. Só em 2025 já valorizou mais de 24% na Bolsa. “A geração de caixa foi de R$ 35,6 milhões (+15%), com caixa líquido de R$ 514 milhões.”
Mais uma defensiva
Por fim, Luiz traz outro papel defensivo, citando a Cemig (CMIG4), outra estatal (de Minas) do setor de energia, que reportou um 4T24 forte. Destaque para o seu segmento de distribuição, que teve um Ebitda ajustado de R$ 923 milhões, 17% acima do esperado e com alta de 18% em relação ao ano anterior. “A companhia anunciou R$ 1,88 bilhão em dividendos adicionais, elevando o total de proventos de 2024 para R$ 5,15 bilhões, o que representa um dividend yield de 14%.”
Em relação ao P/L é uma das ações mais baratas do setor e vem num 2025 de correção, com seus papéis caindo quase 8% depois de um 2024 de forte valorização, acima dos 40%.