Com o ouro em alta, a companhia colheu bons frutos de janeiro a março, antes mesmo dos efeitos do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ou da guerra comercial com a China. A Aura registrou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado recorde de US$ 81,5 milhões no primeiro trimestre de 2025, alta de 53% sobre o primeiro trimestre de 2024 e de 3% frente ao quarto trimestre de 2024. No acumulado de 12 meses, o ebitda ajustado totalizou US$ 295 milhões, com preço médio do ouro no período de US$ 2500 por onça.
A receita líquida foi de US$ 161,8 milhões, 23% acima do primeiro trimestre de 2024, puxada por volume das vendas e preço do ouro. Em relação ao período imediatamente anterior (4T24), houve queda de 6% com a redução nas vendas. O preço médio de venda do ouro chegou a US$ 2.786 por onça, alta de 8% no trimestre e 39% no ano. O cobre também subiu 3% no trimestre, com uma média de US$ 4,26 por libra, e avançou 11% no ano, respectivamente.
O custo caixa – que representa todos os custos diretos e indiretos na produção do ouro – foi de US$ 1.149, alta de 5% frente ao quarto trimestre de 2024 e de 15% na comparação anual, influenciado por Aranzazu. A dívida líquida subiu para US$ 271,9 milhões, aumento de US$ 83,8 milhões frente ao quarto trimestre de 2024, devido a investimentos no projeto Borborema, dividendos e recompra de ações.
No geral, o cenário é positivo. Rodrigo Barbosa, CEO da Aura, está otimista e acredita que o ouro pode chegar a US$ 6 mil nos próximos anos e diz que a alta nos preços veio para ficar. Com Ebitda em alta, ouro valorizado e Borborema prestes a entrar em operação no terceiro trimestre de 2025, a expectativa é de forte geração de caixa e dividendos. Confira entrevista exclusiva:
E-Investidor – O ouro está sendo negociado acima de US$ 3.300 e os efeitos dessa alta já apareceram no resultado do 1T25, com Ebitda recorde. Alguns especialistas projetam o metal a US$ 4 mil ou até US$ 5 mil a onça até 2028. Na sua visão, até onde o ouro pode chegar?
Rodrigo Barbosa, CEO da Aura – O que está por trás da alta do ouro, na minha visão, são mudanças estruturais, eu diria até movimentos tectônicos que o mundo vem enfrentando nos últimos anos. Isso já era perceptível antes, mas agora está mais claro. Desde o início, temos sustentado essa visão: o ouro vai subir. E agora o mercado começa a enxergar isso também.
Mesmo que as tensões entre China e EUA se resolvam ou que guerras tarifárias esfriem, o preço do ouro não deve recuar, porque os vetores dessa alta são mais profundos. Um exemplo veio da guerra na Ucrânia. Quando os EUA e aliados congelaram US$ 300 bilhões das reservas russas em dólar, deram um sinal forte: a moeda americana passou a ser usado como arma geopolítica. Até a Suíça, tradicionalmente neutra, participou. Isso acendeu um alerta em países como China e Turquia. Se houver conflito com os EUA, precisam se perguntar: ‘Meus ativos em dólar estão seguros?’
Nesse cenário, a China vem aumentando fortemente suas compras de ouro. Ela já é o maior importador e produtor do mundo, mas só 6% das reservas chinesas estão em ouro. Para comparar: EUA, Alemanha, Itália e França têm entre 72% e 75% das reservas em ouro. Ou seja, a China, um país muito relevante, ainda vai compor reservas e isso impulsiona os preços do metal.
Outro ponto fundamental fica com a situação fiscal dos EUA. A dívida saltou de US$ 20 trilhões para mais de US$ 32 trilhões em três ou quatro anos. O déficit foi de US$ 2 trilhões no ano passado e pode passar de US$ 2,5 trilhões com juros altos. Quando um país imprime moeda sem resolver o fiscal, causa inflação. E o ouro, ao contrário do dólar, não pode ser impresso.
Por isso, acredito que o ouro pode continuar se valorizando. Antes, eu achava otimistas os preços de US$ 2.500 ou US$ 3 mil. Mas hoje, quando vejo projeções de US$ 4 mil, US$ 5 mil ou até US$ 6 mil, não considero exagero. Esse movimento de alta no preço do ouro, na minha opinião, não tem volta.
Como a Aura Minerals se beneficia da alta do ouro? Esse movimento se traduz em geração de caixa e dividendos?
Tivemos um aumento expressivo nos resultados. No primeiro trimestre, por exemplo, o Ebitda ajustado foi recorde: US$ 81,5 milhões. Hoje temos uma combinação muito interessante na Aura: o preço do ouro está subindo, novas minas estão entrando em operação e estamos aumentando a produção. Algum tempo atrás produzíamos 200 mil onças. No ano passado, chegamos a 270 mil e, neste ano, temos uma meta entre 260 mil e 300 mil onças. Com os projetos que estão entrando em operação, devemos alcançar entre 450 mil e 600 mil onças mais na frente. Ou seja, é a combinação perfeita: preço do ouro em alta, aumento de produção e custos que se mantêm estáveis ou até menores, já que as novas minas têm estrutura de custo mais eficiente.
Nossa política de dividendos prevê a distribuição de 20% do Ebitda menos o capex (investimentos) recorrente. Como o Ebitda vem crescendo e deve continuar, isso naturalmente se traduz em mais dividendos. No primeiro trimestre de 2025, o preço médio de venda do ouro foi de US$ 2.786. Agora já passa de US$ 3.300 e ainda temos Borborema entrando em operação no terceiro trimestre.
Embora a regra seja distribuir 20%, historicamente já pagamos mais. Com isso, temos gerado dividend yields (rendimentos de dividendos) de 8% a 9%, considerando também recompras de ações, o que nos coloca entre as mineradoras que mais retornam valor ao acionista no mundo. Neste primeiro trimestre de 2025, estamos distribuindo US$ 30 milhões em dividendos. Desse total, cerca de US$ 20 milhões vieram da geração de caixa recorrente e US$ 13,5 milhões de um pagamento não recorrente pela venda de um ativo. O dividend yield, considerando recompras, ficou em 2% no trimestre.
Nos últimos 12 meses, nossas ações subiram 214,57%. Ainda assim, o dividendo segue entre os maiores do setor, o que mostra nossa agilidade em capturar valor com a alta do ouro. E desse retorno total ao acionista, cerca de 80% a 90% é via dividendos e o restante, por recompras.
A Aura está entre as maiores pagadoras de dividendos entre mineradoras de ouro no mundo. Qual é o diferencial? Há planos de se tornar uma forte pagadora no Brasil também, como Vale e CSN Mineração?
Ficamos sabendo que estamos entre as maiores pagadoras de dividendos em ouro por relatórios de analistas. Nosso diferencial é o crescimento. Enquanto grandes mineradoras como a Newmont, com valor de mercado próximo a US$ 40 bilhões, têm dificuldade para crescer, por já produzirem volumes enormes, nós ainda temos espaço e capacidade real de expansão.
Saímos de 200 mil para 270 mil onças e agora temos Borborema, que deve produzir entre 33 mil e 40 mil onças em 2025. Também temos Matupá e o projeto da Bluestone, na Guatemala. Poucas mineradoras têm hoje um plano de crescimento como o nosso, com boa geração de caixa. Nosso custo de produção é baixo, os projetos se pagam rápido, em até dois anos, e isso nos permite crescer e, ao mesmo tempo, pagar dividendos. A maioria das empresas precisa escolher entre um ou outro. Nós conseguimos fazer os dois.
Sobre concorrer com Vale (VALE3) e CSN Mineração (CMIN3) em dividend yield, não é nosso objetivo estressar a estrutura da Aura para isso. Vamos pagar o máximo possível, dentro da estratégia. Essas mineradoras são gigantes, mas têm menos crescimento. Nosso dividendo pode ser menor agora, mas com muito mais perspectiva de valorização à frente. São poucas empresas que combinam forte crescimento com dividendos robustos. Vamos manter a política atual de distribuir 20% do Ebitda menos capex recorrente pelos próximos cinco anos. E com o Ebitda crescendo rápido, isso já vai se traduzir em bons retornos.
Com os pagamentos não recorrentes no primeiro trimestre de 2025 e a alta do ouro, este deve ser um ano melhor em dividendos para a Aura? Ou ainda é cedo para afirmar?
Se você olhar nosso Ebitda recorde de US$ 81,5 milhões no primeiro trimestre de 2025 com produção de 60.086 onças e ouro a US$ 2.786, agora temos uma onça a US$ 3.300. Para o segundo trimestre esperamos produção igual ou maior e preço mais alto do ouro, o que deve aumentar o Ebitda.
Se o ouro se mantiver nesse patamar, o dividendo sobe proporcionalmente. E no terceiro trimestre deste ano ainda temos Borborema entrando em operação, o que fortalece mais ainda o Ebitda. Só com as distribuições recorrentes, o dividendo já pode superar o de anos anteriores.
O Projeto Borborema foi citado várias vezes. Qual será a contribuição dele para o caixa neste e nos próximos anos? Podemos dizer que é a peça-chave da Aura?
Borborema começa produzindo menos da metade da capacidade no terceiro trimestre de 2025, mas até dezembro já deve compensar os dois anos de investimento logo nesses primeiros trimestres. A expectativa é de 33 mil a 40 mil onças em 2025 e, depois, 82 mil a 83 mil por ano. É um salto relevante na produção, com custo abaixo da média, o que vai impactar fortemente o Ebitda e a geração de caixa.
Na Aura, Borborema será nossa segunda maior operação, atrás apenas de Aranzazu, que produziu 20.455 onças no trimestre. E pode até ter custo menor, com geração de caixa forte. E tem novos projetos entrando no radar como Matupá, que vamos desenvolver, e Bluestone.
A dívida líquida e a bruta subiram em relação ao quarto trimestre de 2024, assim como a alavancagem. O que explica esse aumento? E está sob controle para os próximos trimestres?
O aumento da dívida líquida para US$ 271,9 milhões veio por dois fatores: a conclusão das obras de Borborema, com alto gasto no trimestre e ainda sem geração de caixa, e a aquisição da Bluestone Resources na Guatemala, com mais de 3 milhões de onças de ouro e um projeto de energia renovável, Cerro Blanco. Ambas foram situações não recorrentes e não devem se repetir. Em Borborema, os gastos foram maiores pelo final da obra, mas o projeto ainda não gera caixa. E na Guatemala, o pagamento foi feito neste ano, gerando dívida no balanço.
A alavancagem subiu para 0,92 vez o Ebitda, frente a 0,70 vez no quarto trimestre de 2024, mas a Aura segue bem desalavancada. Estamos cumprindo o prometido: crescer com novos projetos e aquisições enquanto seguimos pagando dividendos. E agora Borborema passa a gerar caixa. O próximo projeto só deve demandar recursos em 2026.
Em novembro, lançaram uma nova política trimestral e se posicionaram como pagadora recorrente de dividendos. Como tem sido a experiência até agora, em termos de aumento de investidores e liquidez?
Estamos contentes com a resposta do mercado. Pagar dividendos recorrentes trouxe credibilidade e aumentou tanto os investidores quanto a liquidez. Antes, nossos BDRs (recibos de ações) AURA33 negociavam cerca de US$ 1 milhão a US$ 1,2 milhão por dia, na Bolsa de Valores brasileira e na de Toronto. Agora, estamos acima de US$ 2,5 milhões, quase chegando a US$ 3 milhões.
O objetivo da Aura Minerals (AURA33) é melhorar a liquidez, não só para investidores individuais, mas também para fundos globais. Para isso, precisaríamos alcançar entre US$ 6 milhões e US$ 7 milhões por dia, pois esses fundos buscam investir entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões.
Raio-X da Aura Minerals
AURA33 |
Dividend yield (retorno em dividendos) |
Dividendos por ação |
2025* |
9,09% |
R$ 1,15 |
2024 |
9,15% |
R$ 1,07 |
2023 |
6,34% |
R$ 0,63 |
2022 |
3,18% |
R$ 0,48 |
2021 |
10,79% |
R$ 2,18 |
Levantamento: Elos Ayta Consultoria. Dados de cada ano, considerando dividendos distribuídos de janeiro a dezembro. Apenas para 2025, foi considerado o dividendo por ação e o dividend yield dos últimos 12 meses até 5 de maio
Ação |
Valorização da ação em 2025 |
Valorização da ação em 12 meses |
AURA33 |
50,45% |
214,57% |
Levantamento: Elos Ayta Consultoria. Empresa valorizou com força nos últimos 12 meses, mas segue entregando dividend yield robusto apesar da alta das ações