O BB reportou um lucro líquido ajustado de R$ 7,374 bilhões no primeiro trimestre de 2025, uma queda de 20,7% em relação a igual período de 2024. Já o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) foi de 16,7% no trimestre, recuo de 4,98 pontos percentuais em base anual e de 4,16 pontos percentuais em três meses.
Para analistas, três pontos principais pressionaram os números. O primeiro foi a chamada Resolução nº 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que começou a valer em 2025 e trouxe mudanças na forma como as instituições financeiras registram seus instrumentos financeiros. Durante a divulgação dos resultados do quarto trimestre, o BB já havia antecipado que os três primeiros meses de 2025 seriam um período de transição, devido à adoção da medida.
Outro fator que pesou no balanço do Banco do Brasil foi a inadimplência da carteira de agronegócio, que atingiu 3,04%, uma alta de 0,6 pontos percentuais na comparação trimestral e de 1,9 ponto percentual na comparação anual.
Quem também pressionou o balanço foi a Receita Líquida de Juros (NII), que totalizou R$ 23,9 bilhões no primeiro trimestre, recuando 7,2% na comparação anual. Ela foi negativamente impactada pelo descasamento entre ativos prefixados e passivos pós-fixados, situação agravada pelo cenário de Selic elevada. Mudanças contábeis geradas pela Resolução 4.966 também afetaram esse resultado e reduziram cerca de R$ 1 bilhão do NII, segundo os cálculos da Genial Investimentos.
Vale destacar que o banco também colocou o guidance (projeção) de custo do crédito, margem financeira bruta e lucro líquido ajustado para o exercício de 2025 em revisão. A decisão se deve ao cenário de incerteza e só deve mudar quando for possível realizar uma avaliação mais consistente “da magnitude dos impactos” a serem incorporados nas projeções.
Diante do maior número de dúvidas, a Ágora Investimentos e o Bradesco BBI rebaixaram a recomendação das ações BBAS3 de compra para neutra, com um novo preço-alvo de R$ 31. Olhando para o futuro, as casas acreditam que o ano começou de forma mais desafiadora do que o esperado para a empresa, com taxas de inadimplência mais altas e crescimento fraco da receita. “Como resultado, vemos riscos de queda em nossas estimativas para 2025 e esperamos uma reação negativa do mercado”, dizem os analistas Marcelo Mizrahi, do BBI, e Renato Chanes, da Ágora.
O rebaixamento, segundo explicam, é reflexo das novas mudanças contábeis e também da revisão do guidance do banco para 2025, enquanto as preocupações com a qualidade dos ativos aumentaram, com a deterioração de todos os segmentos.
Além de rebaixarem a recomendação para BBAS3, os analistas também reduziram suas estimativas de lucro líquido para a empresa em 19% para 2025 e 2026, para R$ 32,6 bilhões e R$ 36,1 bilhões (16% abaixo do consenso para 2025 e 13% abaixo para 2026), respectivamente. “De acordo com nossas novas estimativas, esperamos agora um ROE de 17% para 2025, o que, considerando o custo de capital próprio do banco de 17%, parece precificado de forma justa”, acrescentam.
Outra casa que adotou uma visão mais negativa para os papéis do BB foi a Genial. A corretora rebaixou a recomendação de compra para manter (equivalente a neutra) e reduziu o preço-alvo de R$ 40,3 para R$ 31,4, considerando um ROE de 16,5%, um custo de capital de 18,05% e uma taxa de crescimento de 7%. “Diante de um cenário mais desafiador e incerto, vemos possibilidade de deterioração adicional dos resultados ao longo de 2025, especialmente com a expectativa de agravamento do ciclo de inadimplência em algumas carteiras no segundo semestre, pressões persistentes sobre a qualidade dos ativos no agronegócio e maior dificuldade de crescimento de receita”, destaca.
Quem ainda mantém uma visão otimista para BBAS3
Há também casas que mantiveram suas recomendações de compra para as ações do Banco do Brasil. Uma delas foi a XP Investimentos, “Vemos esses resultados como negativos e estamos nos tornando mais cautelosos em relação às perspectivas do BB para este ano. Ainda assim, mantemos nossa classificação de compra devido ao valuation e aos dividendos atraentes”, sinaliza a corretora, que tem preço-alvo de R$ 41 para os ativos.
Quem seguiu o mesmo caminho foi o BTG Pactual. Apesar de reconhecer que o resultado do primeiro trimestre foi pior que o esperado, o banco acredita que o valuation da ação segue atrativo. “Nossa primeira reação ao olhar os resultados foi considerar rebaixar a recomendação da ação. Mas não achamos que isso ajudaria a nós ou aos nossos clientes. A mudança contábil provavelmente apenas antecipou a constatação de que o BB não tem um ROE recorrente ou sustentável acima de 20%. Por outro lado, ninguém precificava a ação com base nisso, nem de perto”, diz.
No modelo de cálculo utilizado pelo banco, o valuation do Banco do Brasil segue bastante “modesto” e deve se tornar ainda mais atrativo com a queda desta sexta-feira, especialmente em comparação com outras opções na Bolsa após o forte rali do Ibovespa no ano. “Vamos digerir os números, a mensagem da gestão e, com sorte, voltar na próxima semana com uma análise mais clara sobre o que fazer com a ação. Por ora, mantemos nossa recomendação de compra com base no valuation, mas com viés negativo”, ressalta o BTG, que tem preço-alvo de R$ 34 para BBAS3.
Analistas ouvidos pelo E-Investidor nesta matéria reconhecem que o atual momento também pode abrir uma oportunidade de compra para as ações do banco. “Com certeza, ainda vejo o Banco do Brasil como uma oportunidade para quem tem interesse em receber dividendos, ainda que esteja passando por esses problemas agora. Obviamente o balanço causa um susto nos papéis, mas não para quem quer investir no longo prazo”, afirma Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da casa de análise Top Gain.
O especialista acredita que agora é um bom momento para comprar os ativos por um preço “barato”. “É muito possível que o BB não vá pagar a mesma quantidade de dividendos que já vinha pagando nos ritmos anteriores, mas acredito que seja algo temporário”, ressalta.
Já Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, afirma que a instituição é sólida e que o movimento de hoje representa um misto de especulação com realização de lucros. “O lucro de mais de R$ 7 bilhões do Banco do Brasil parece ter sido deixado de lado pelos investidores, que passaram a observar mais a queda percentual em relação ao período anterior e as projeções futuras, do que apreciar o número extraordinário do balanço”, comenta.