Projeção do Itaú é de Selic estável em 14,75% anual até o fim de 2025. Foto: AdobeStock
Com a taxa de juros nas alturas, muitos investidores permanecem confortáveis no quentinho da rentabilidade dos títulos pós-fixados, ignorando os sinais de possível mudança no cenário. Muitas casas já preveem que os juros não devem subir mais neste ano, colocando fim a um ciclo de alta que teve início em março de 2021.
O Boletim Focus do Banco Central, que mostra as projeções do mercado sobre economia brasileira, mantém a expectativa de Selic estável em 14,75% anual até o fim de 2025, com queda em 2026, quando os juro básicos fechariam o ano em 12,50%.
Apesar de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, ter dito nesta semana que os juros vão permanecer altos por mais tempo, parte do mercado viu sua fala como recado ao governo. Com a Selic já em 14,75% e o BC adotou um tom mais brando em seus comunicados, o que faz crescer a aposta em estabilização, ainda que haja uma nova alta de 0,25 pontos na taxa básica na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em junho.
Projeções do mercado para inflação e juros (%)
Ano
2025
2026
Projeção
Atual
Há 4 semanas
Atual
Há 4 semanas
IPCA (%)
5,5
5,57
4,5
4,5
IGP-M (%)
4,95
4,92
4,6
4,52
Selic – final do ano (%)
14,75
15
12,5
12,5
Fonte: Boletim Focus 16 de maio
Mesmo que não haja cortes ainda este ano, e que eles sejam pequenos no ano que vem, novos tempos exigem alterações na estratégia de alocação. “O juro real da taxa livre de risco, do pós-fixado, ainda está acima dos títulos atrelados à inflação. Mas isso não vai perdurar, inclusive porque é extremamente insalubre para a própria economia do Brasil”, comenta Braian Largura, sócio da VNT Investimentos.
Em outras palavras, mesmo títulos IPCA+ pagando 7% nos papéis públicos e, até mais, nas emissões privadas, investimentos atrelados ao CDI ainda pagam mais. Para os especialistas, manter a aposta de que esses ganhos vão se manter, pode custar melhores oportunidades no médio prazo. Agora seria a hora de reavaliar a alocação e considerar a migração gradual para ativos que protegem o poder de compra e garantem retornos reais mais duradouros, defendem.
“Agora é o melhor momento para mexer na carteira”, afirma Gabriel Lago, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital. Segundo ele, um dos erros mais comuns é o investidor esperar demais para reagir, deixando para fazer mudanças apenas quando a queda da Selic já estiver em curso. “É um erro deixar para fazer a mudança no final do ciclo”, alerta.
Esse potencial erro aconteceria porque, ao migrar para o prefixado ou IPCA+ após os juros já terem recuado, o investidor entra em um patamar de rentabilidade inferior — e ainda corre o risco de ver as taxas voltarem a subir enquanto está travado em uma taxa mais baixa.
Na verdade, esse movimento começou no início deste ano com os juros futuros, que refletem a expectativa do mercado para a Selic nos próximos meses ou anos. Mesmo assim, ainda há espaço para buscar outros rendimentos que não os pós-fixados. “Às vezes o investidor demora muito para tomar essa atitude e acaba fazendo-a no pior momento”, observa Lago.
A estratégia defendida pelo especialista envolve migrar gradualmente de pós-fixados para prefixados e títulos indexados à inflação (IPCA+) com vencimentos longos (10 a 15 anos), tanto em títulos públicos, como em papéis isentos de emissão privada, a exemplo de debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs).
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O objetivo é capturar a valorização desses ativos quando os juros caírem, evitando a armadilha de uma mudança precipitada para ativos de curto prazo que não se beneficiam de uma virada de ciclo.
Migrando de CDI para IPCA +
“Essa é a ideia: sair um pouquinho da Selic, do CDI, para taxas pré e IPCA+ de longo prazo para tentar aproveitar esse movimento”, diz Lago. Na sua visão, títulos atrelados à inflação, acima de dez anos, podem dar um bom resultado na carteira, caso os juros caiam de fato, além de proteger a carteira. Ele reconhece que esse movimento aumenta o risco dos investimentos, mas, para um investidor que está confortável com um prazo de uma década ou mais, é uma aposta que valeria a pena.
“Maior risco é pegar um papel muito curto, porque o alocador pode cair numa armadilha , caso os juros não sejam reduzidos e o CDI fique mais alto por mais tempo”, completa o especialista da The Hill Capital. Neste caso, pondera, seria melhor ficar no pós-fixado, mantendo o mesmo retorno.
A lógica de apostar na queda da Selic é garantir, por mais tempo, a rentabilidade elevada de hoje. Com o CDI ainda pagando acima de 1% ao mês, o investidor pode travar essas taxas em prazos mais longos. Quando os juros começarem a cair, quem prefixou manterá retornos maiores por mais tempo.
Neste sentido, uma mudança gradual no portfólio envolve reduzir a participação de pós-fixados. Um espaço que pode ser ocupado por títulos prefixados e pelos papéis atrelados à inflação (IPCA+), que poderiam ocupar até 40% da carteira, num movimento que deve acompanhar a tolerância a risco de cada investidor.