Enquanto Gol finaliza sua recuperação judicial nos EUA, Azul avalia entrar no Chapter 11. (Foto: Adobe Stock)
Desde a aprovação do plano de recuperação financeira da Gol (GOLL4) pela Justiça dos Estados Unidos (Chapter 11) na terça-feira (20), a cotação do papel disparou na B3. O ganho acumulado na semana passada foi de 34%, levando o valor de mercado da companhia aos R$ 440 milhões. Na quinta (22) e na sexta-feira (23), ele chegou aos R$ 500 milhões, o que não se via desde o começo de abril.
Mas a retomada do fôlego da Gol tem como contraste o momento inoportuno que enfrenta a sua principal concorrente na Bolsa, a Azul (AZUL4). A companhia tem tido dias difíceis no mercado desde que a sua oferta de ações (follow-on) para a troca de dívidas em papéis recebeu pouca atenção do investidor – relembre aqui.
A Azul encara saídas de caixa significativas e elevadas despesas financeiras, o que motivou um rebaixamento de rating pela S&P na semana passada. Conforme o Broadcast apurou, até mesmo o mecanismo de Chapter 11, que a Gol está próxima de deixar, está sendo considerado.
Ao longo da semana passada, a Azul chegou a valer menos que a Gol na B3. No fechamento da sexta-feira, contudo, estava um pouco à frente da concorrente, com valor de mercado de R$ 449 milhões. Mas a trajetória é descendente: em uma semana, caiu 6,3%; em um mês até o dia 23, derreteu 66,9%.
Adiante, o mercado debate quais são as tendências para os papéis. Há uma ala que pondera que as companhias estão com uma situação financeira muito próxima, o que explica também essa aproximação de valores de mercado. Quando observada a alavancagem, pelo critério de dívida líquida sobre Ebitda (lucro antes de juros, depreciação, amortização e impostos), a da Azul estava em 5,2 vezes no primeiro trimestre.
Em fato relevante divulgado na data da aprovação da recuperação financeira nos EUA, a Gol afirmou que projeta deixar o Chapter 11 com alavancagem em 5,4 vezes, uma redução em relação ao final do primeiro trimestre, quando o indicador estava em 5,8 vezes.
“A Gol reestruturou toda a sua dívida, que agora virou equity (patrimônio líquido de uma companhia ou uma participação societária nela), e a operação está estável. A Azul também está com a operação em ordem, reestruturando suas dívidas e apresentando perspectivas melhores que a Gol em termos de crescimento e custos”, diz Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital.
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Ele pontua que a Gol está atualmente nas mãos dos credores, enquanto a Azul permanece nas dos acionistas. Este cenário, argumenta o analista, torna plausível uma operação de fusão e aquisição (M&A), já ventilada pelo mercado, na qual se busca equilibrar a participação porcentual entre ambas as empresas.
No entanto, Queiroz destaca uma possível divergência: não se sabe se os acionistas da Azul aceitariam um valuation igual ao da Gol, já que a Azul possui uma clara vantagem operacional. “Isso pode acabar atrasando uma eventual fusão”, ressalta.
Já Artur Horta, da GTF Capital, acredita que hoje a situação da Gol é melhor. Para ele, o fato de a companhia aérea ter eliminado a maior parte da sua dívida torna a situação “bem mais confortável” do que a da Azul. “A empresa vai poder respirar e voltar a investir”, ressalta.
Ele chama atenção, contudo, para a diluição da participação acionária dos investidores nos próximos meses, uma vez que haverá a emissão “massiva” de ações. “Então, de fato, operacionalmente é uma coisa, mas na parte societária e patrimonial do acionista é outra”, conclui sobre Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) em Chapter 11.