O dólar encerrou a sessão de segunda-feira (16) abaixo dos R$ 5,50. Cotado a R$ 5,4861 ao final do pregão, a moeda americana chegou ao menor patamar desde outubro de 2024, fruto de um combo de fatores que levou a cotação a uma queda acumulada de 11,23% este ano.
Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas, atribui o bom momento do real a três fatores principais: fluxo estrangeiro positivo, expectativas fiscais e políticas e o saldo positivo da balança comercial. “O Brasil continua se beneficiando de uma balança comercial robusta, com exportações fortes, especialmente no agronegócio e na mineração, o que sustenta a entrada de dólares no País”, diz. “O mercado também vem reagindo positivamente a sinais de compromisso com o ajuste fiscal e à tramitação de medidas econômicas no Congresso. Qualquer avanço nesse sentido reduz a percepção de risco e fortalece o real.”
Mas não é um movimento apenas local. O dólar tem se enfraquecido globalmente em meio às incertezas comerciais e ao nível de endividamento dos EUA, destaca Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad. Na última quinta-feira (12), o índice DXY, que mede a performance da moeda americana contra outras seis divisas fortes como euro e iene, caiu abaixo dos 98 pontos pela primeira vez em três anos. Nesta segunda, chegou a atingir a mínima de 97,685 pontos.
“As incertezas e a busca por diversificação vêm diminuindo os fluxos de capital para os EUA, com investidores aumentando a diversificação internacional num contexto em que o país ainda corresponde a mais de 50% do mercado global e o dólar a mais de 60% das reservas internacionais”, diz Zogbi. Parte desse fluxo é direcionado a emergentes, como o Brasil. Até a quinta-feira (12), dado mais recente disponibilizado pela B3, a entrada de capital estrangeiro na Bolsa brasileira estava positiva em R$ 23 bilhões.
O dólar vai se manter a abaixo de R$ 5,50?
O comportamento do mercado cambial é uma das variáveis mais difíceis de se prever, mas os especialistas veem espaço para a continuidade do bom momento do real. Na avaliação de Elson Gusmão, da Ourominas, a possibilidade de a cotação do dólar se manter abaixo de R$ 5,50 no curto prazo é “factível”, especialmente se o cenário externo continuar favorecendo moedas emergentes. “Mas vale lembrar que o câmbio é muito sensível a eventos inesperados, tanto no Brasil quanto no exterior, como dados macroeconômicos, decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ou ruídos políticos”, diz.
O primeiro desafio no caminho do real no curto prazo está na “Super Quarta“, dia em que coincidem as reuniões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Por aqui, o mercado está dividido entre os que apostam que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai elevar a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual e aqueles que esperam a manutenção de juros no atual patamar de 14,75% na quarta-feira (18) – veja os detalhes dos palpites aqui. Mas, independentemente da escolha, a decisão deve causar pouco impacto no câmbio.
É nos EUA que a decisão importa mais, explica Matheus Pizzani, economista da CM Capital. Por lá, a expectativa geral aponta que o Fedmanterá a taxa de juros entre 4,25% e 4,5% ao ano. Mas o tom do comunicado vai ser monitorado de perto pelo mercado, especialmente em meio às incertezas causadas pela agenda econômica do presidente Donald Trump. “Assim como no Brasil, o viés do comunicado vai ser bem importante para as moedas emergentes. Um Fed muito mais hawkish (mais duro) do que se espera pode acabar pegando muita gente no contra pé e fazer com que o real devolva parte desse movimento benigno que estamos vendo nos últimos dias”, explica Pizzani.
O que esperar da cotação do dólar no médio e longo prazos?
Já no médio e longo prazo, ainda que o mercado esteja começando a revisar para baixo as estimativas, a moeda brasileira tem desafios mais relevantes. O Boletim Focus projeta um câmbio de R$ 5,77 ao final de 2025 – para a previsão se concretizar, o dólar à vista precisaria subir quase 5% contra o real até dezembro.
Para Paula Zogbi, da Nomad, uma correção mais expressiva do real depende da parte fiscal. “O impasse em torno de medidas arrecadatórias, a ausência de propostas claras para contenção de gastos e o desconforto com o viés expansionista da política fiscal em um ano pré-eleitoral mantêm o risco Brasil em evidência”, ressalta. “A continuidade de um movimento de valorização do real dependeria, em grande medida, da postura do governo brasileiro em enfrentar a pauta fiscal com medidas eficientes, além da continuidade do movimento global.”