“Home Bias“. Esse é um termo utilizado no mercado de investimentos para se referir ao viés do investidor de preferir investimentos de seu próprio país em relação a outras praças – e nisso o brasileiro é bom. Juros altos, familiaridade com os ativos locais e a segurança de investir na moeda que já conhece.
Mas manter a carteira concentrada apenas em ativos domésticos, todos interligados aos riscos do Brasil, não é a recomendação dos especialistas. A diversificação internacional pode valer para todo o tipo de investidor, incluindo aqueles iniciantes ou com pouco patrimônio. E independentemente do cenário e do momento do mercado, defenderam Isabella Nunes, diretora executiva na J.P Morgan Asset Management, e Rachel de Sá, estrategista de investimentos na XP, na Fin4She Summit, evento realizado em São Paulo nesta segunda-feira (16).
Nos últimos meses, as bolsas de valores globais viveram dias de muita volatilidade. Em abril, com o a anúncio de pacote de tarifas recíprocas de Donald Trump nos Estados Unidos, os mercados acionários americanos chegaram a cair quase 20%. E já recuperaram boa parte.
“Picos de incerteza só reforçam o quão importante é ter a carteira diversificada. Hoje estamos falando de um risco institucional que vem dos EUA, mas que amanhã pode ser no Brasil”, destacou Rachel de Sá. No painel “Diversificação global: como proteger e rentabilizar seu portfólio em cenários voláteis”, as executivas deram alguns motivos para o investidor olhar para fora.
Por que investir no exterior?
Brasil é só um pedaço do mercado global
A alta taxa de juros do Brasil é o que leva muitos investidores brasileiros a serem “rentistas”. O cenário atual ilustra isso bem: a taxa Selic está em 14,75% ao ano, permitindo um retorno acima de 1% ao mês em ativos conservadores como o Tesouro Selic. “O CDI (Certificado de Depósito Interbancário, principal parâmetro de rendimento de investimentos) é o meu maior competidor”, disse Nunes.
A diretora do JP Morgan disse que em dez anos, o retorno nominal do CDI superou os 140%, mas, se descontar a inflação acumulada pelo período, o retorno real cai para quase 40%. Se o investidor descontar a variação do câmbio, ou seja quanto o real se desvalorizou contra o dólar na década, o retorno cai para 4%. “No JP usamos a regra 3, 2, 1. O Brasil é apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) global, só 2% da renda fixa global e apenas 1% da renda variável mundial. Faz sentido investir 99% do portfólio no Brasil?”, questionou.
Variação do dólar impacta diretamente o bolso
E a desvalorização do real frente ao dólarnão impacta apenas os investimentos. Um estudo recente pelo time de economia da XP Investimentos tentou mapear o peso das variações cambiais nos itens que compõem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação do Brasil. Ao menos 40% deles vê os preços aumentarem quando o dólar sobe.
“A cada 10% de variação do câmbio, pagamos mais 8% em eletrônicos, eletrodomésticos, mas principalmente alimentos. O primeiro lugar onde a gente sente é na comida”, afirmou Rachel da Sá, da XP. “Além do ganho na diversificação nos investimentos, você também está protegendo o seu poder de compra.”
Bolsa brasileira fora das grandes teses mundiais
Além de representar uma fatia muito pequena da economia mundial, o investidor brasileiro não consegue acessar as grandes teses de investimento que têm despontado nas empresas globais. Inteligência artificial, biotecnologia e saúde. Comprando apenas ações na B3, o acionista vai ficar de fora desses segmentos.
“Dentro do JP temos falado muito da diversificação além dos EUA, mas, para o investidor brasileiro que está começando. Os temas seculares que vão movimentar o mercado nos próximos anos, dificilmente são empresas brasileiras; muitas vezes são as americanas que estão se beneficiando ou construindo essas teses”, reforçou Isabella Nunes, do JP Morgan.