Saiba como blindar seu patrimônio em meio à crise política no Congresso e guerra no radar
Com cenário político instável, inflação, Reforma Tributária e conflitos internacionais, proteger o patrimônio virou um desafio. Veja as estratégias recomendadas
Com cenário político instável, inflação, Reforma Tributária e conflitos internacionais, proteger o patrimônio virou um desafio (Foto: Adobe Stock)
Nas últimas duas décadas, a riqueza global triplicou – saltando de US$ 150 trilhões, em 2000, para US$ 500 trilhões, em 2021, segundo Marta Zaidan, sócia e CIO da Vos Investimentos. No entanto, mesmo com a expansão do volume, o futuro não parece tão límpido e o cenário atual impõe novos desafios aos investidores.
No Brasil, a volúvel política é crescente, a Reforma Tributária entrará em vigor em 2026, e o Congresso segue instável com debates sobre a taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O mercado imobiliário também está sob o radar do governo, enquanto o novo arcabouço fiscal precisa ser cumprido. No exterior, a guerra fiscal entre Estados Unidos e China e os conflitos armados no Oriente Médio pressionam os preços do petróleo. Diante de tantas incertezas e oscilações, a grande pergunta é: como construir um portfólio resiliente a esse cenário global imprevisível?
“Eu trabalho muito com previdência, com os clientes institucionais. Qualquer coisa que você falar de 20 anos [investimentos de longo prazo], a incerteza é tão grande que gera um bloqueio. Em 20 anos eu não sei nem se vai ter Brasil, não sei se vou ter emprego, não sei se vai ter outra pandemia, não sei se terá guerra… E a gente está vivendo esse momento”, contextualizou Francisca Brasileiro, partner na TAG Investimentos.
Questões como risco fiscal elevado, volatilidade nos mercados e as possibilidades de valorização de ativos descontados tornam a construção de uma carteira uma tarefa que deve equilibrar segurança, oportunidade e horizonte de tempo.
A especialista da TAG destaca que um dos principais pontos de partida para estruturar um portfólio sólido é compreender o cenário de risco fiscal enfrentado pelo país. “Um país que tem dificuldade em pagar suas contas, ele tem duas formas de sair dessa situação: organizar a casa, reduzir custos – o que não está sob o nosso controle – ou desvalorizar sua moeda, o que pode levar até à hiperinflação”, afirma. Ela cita exemplos como a Turquia e a Argentina, além do próprio Brasil, para ilustrar como a instabilidade pode impactar o poder de compra do investidor.
Diante desse panorama, a partner enfatiza a importância de montar um “colchão de segurança”, que funcione como uma reserva de valor protegida das oscilações mais bruscas. Segundo ela, “o primeiro princípio de segurança é pensar qual é o pedaço do portfólio que a gente vai tirar para garantir esse poder de compra”. Em sua visão, ativos que entregam retornos reais consistentes, como alguns títulos de renda fixa indexados à inflação, devem ocupar esse espaço estratégico na carteira – especialmente para assegurar liquidez casada com as obrigações do investidor.
Essa abordagem encontra eco na fala de Ana Carolina Shibata, superintendente do Banco Itaú. Para ela, o ponto central da estratégia de investimentos é entender profundamente o mandato de cada cliente: “Quais são os objetivos de longo prazo? Quais as restrições? Qual o nível de volatilidade que aquela família está disposta a suportar?”, questiona.
Francisca Brasileiro também chama atenção para a necessidade de aproveitar oportunidades em momentos de baixa. “Estamos trabalhando num momento em que os ativos estão muito baratos”, observa, apontando para o desconto histórico de ações de Small Caps (com baixa capitalização de mercado) como exemplo.
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Ela alerta, contudo, que esse tipo de investimento exige paciência e visão de longo prazo, muitas vezes superiores a cinco anos, já que os retornos podem demorar para se materializar, dependendo do cenário político e econômico.
Shibata complementa essa perspectiva ao destacar que os períodos de maior volatilidade também abrem espaço para a identificação de oportunidades tanto no mercado local quanto no internacional.
“Temos um comitê de investimentos monitorando o mercado para trazer algumas oportunidades que acreditamos fazer sentido, tanto no Brasil quanto no exterior”, afirma. Ela defende ainda que, principalmente entre famílias de maior patrimônio, a diversificação internacional é essencial. “A cesta de consumo dessas famílias já é dolarizada, então é importante que o patrimônio líquido acompanhe essa realidade”, completa.
Seja amigo da liquidez (mas nem tanto)
Outro ponto importante levantado pela partner da TAG é a atenção ao prêmio em relação a liquidez. Em sua análise, há uma grande diferença entre os retornos oferecidos por ativos de crédito mais líquidos e os que demandam prazos maiores.
“Estamos vendo ativos com 90, 180 dias pagando CDI [Certificado de Depósito Interbancário] +3%, +3,5%, o que representa um retorno de até 18% ao ano líquido de taxa”, explica. Ela aponta que, mesmo diante da resistência cultural do investidor brasileiro a compromissos de médio prazo, a relação risco-retorno nesse tipo de ativo é bastante favorável no cenário atual.
Por fim, Brasileiro defende a inclusão de uma parcela do portfólio voltada ao crescimento, com foco em investimentos que se beneficiem do desenvolvimento econômico e da valorização de empresas saudáveis. “Aqui no Brasil, somos muito mais induzidos por fluxo do que por fundamento”, observa. Assim, mesmo empresas lucrativas e em expansão podem ter suas ações subvalorizadas por longos períodos – o que, paradoxalmente, abre oportunidades para o investidor atento.
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A construção de um portfólio hoje exige equilíbrio entre segurança e risco, paciência e agilidade, foco local e visão global. Tanto a representante da TAG Investimentos quanto a do Itaú convergem em um ponto essencial: o investidor precisa ter clareza de seus objetivos, tolerância ao risco e, principalmente, consciência de que os ciclos de mercado são inevitáveis – mas que, com disciplina, é possível atravessá-los e sair fortalecido.