Agora, o Copom colocou os juros no maior nível nominal desde julho de 2006, no primeiro governo Lula. Desde setembro, o Banco Central já aumentou a Selic em 4,50 pontos, o segundo maior ciclo de alta dos últimos 20 anos, perdendo apenas para a elevação de 11,75 pontos entre março de 2021 e agosto de 2022, que ocorreu após o fim da pandemia.
Mais cedo, nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed) manteve as taxas de juros americanas na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano, conforme esperado pelo mercado. O comunicado veio com poucas mudanças em relação ao último, com o Fed reconhecendo que a economia americana permanece crescendo de maneira sólida, enquanto o mercado de trabalho segue saudável e a inflação ainda acima da meta.
“Devemos ver o Fed mantendo a postura cautelosa nas próximas reuniões, à espera de novos dados para ganhar confiança sobre a trajetória que a economia americana está caminhando. Assim, mantemos a visão que o banco central americano só deve atuar quando houver sinais claros de que o mercado de trabalho está em recessão”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
No caso do Copom, o comunicado destacou que os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. O Comitê afirmou que acompanha com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros, ressaltando que, para assegurar a convergência da inflação à meta, é necessário manter uma postura contracionista por período “bastante prolongado”.
A autoridade monetária também antecipou uma pausa no ciclo de alta de juros, caso o cenário esperado se confirme, para avaliar os impactos da Selic elevada. “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, disse.
Agentes do mercado classificaram o tom do comunicado como hawkish (duro), apesar de avaliarem que a Selic deve se manter em 15% em 2025, sem novas altas. Veja a seguir as primeiras impressões sobre a decisão do Copom:
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay
Consideramos adequada a decisão de manter a política monetária em território significativamente contracionista por um período prolongado. O comunicado indica que o estágio atual do ciclo exige cautela adicional, com o Comitê adotando postura vigilante e flexível.
Mantemos a expectativa de que a Selic permaneça no patamar de 15% nas próximas reuniões, a depender da dinâmica da inflação e da atividade econômica, bem como do comportamento da política fiscal. Caso o processo de desinflação se mostre mais lento que o esperado, novas altas não estão descartadas.
Por fim, o comunicado reafirma a estratégia do Copom de atuar com prudência e transparência, preservando a credibilidade do regime de metas e ancorando as expectativas, com foco na estabilidade de preços.
Cláudia Moreno, economista do C6 Bank
Acreditamos que a decisão do Banco Central foi correta, assim como a comunicação. Um dos pontos novos foi a inclusão do termo “bastante” ao dizer que os juros devem ficar em patamar restritivo por longo tempo. Por fim, no trecho em que sinaliza a possível interrupção do ciclo, o texto destaca que o Comitê ainda vai avaliar se o nível atual da Selic, em 15%, é suficiente para conduzir a inflação à meta. Caso não seja, o BC pode retomar as altas de juros. Nossa projeção é de que a Selic permaneça em 15% até o fim de 2026, porque acreditamos que o mercado de trabalho seguirá aquecido e que a inflação deve continuar resistente.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg
Apesar da alta, a sinalização futura aponta para uma interrupção no ciclo de elevação da Selic, em se confirmando o cenário esperado daqui até a próxima reunião. Os membros querem agora examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado e, assim, avaliar se o nível atual é suficiente para assegurar a convergência da inflação para a meta. Acreditamos que esse movimento marcou o final do processo de ajuste da taxa básica de juros, que seguirá estável provavelmente até o final de 2025.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research
O comunicado veio no tom adequado. A decisão unânime é importante no início da gestão do Gabriel Galípolo. Um ponto considerável que foi ressaltado é que a política monetária vai ficar no patamar significativamente contracionista por um período “bastante prolongado”. Ao nosso ver, isso afasta a probabilidade de qualquer corte de juros em 2025. A nossa projeção internamente é de que a Selic fique em 15% até o final do primeiro trimestre e encerre 2026 a 13%.
Julio Cesar Barros, economista do Banco Daycoval
O texto deu a entender que o ciclo de corte de juros é assunto fora da mesa. Isso, de certa forma, vai em linha com nossa expectativa de retomada das reduções apenas em 2026. Diante do que foi decidido e em função da conjuntura econômica, por ora, passamos a considerar que o ciclo se encerrou e que será preciso deterioração importante para a retomada da alta de juros novamente neste ano.
Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1
Entendemos que os membros do Copom quiseram reforçar a mensagem de que não pretendem começar a cortar a taxa de juros nos próximos meses, com o intuito de tentar evitar que o mercado precifique um início prematuro de um ciclo de afrouxamento monetário. No geral, avaliamos que o BC procurou encerrar o ciclo de aperto monetário de uma forma hawkish.
Essa estratégia, ao nosso ver, busca reduzir o risco de que o mercado interprete a decisão de interromper o ciclo de aperto monetário com a projeção de inflação acima da meta como um sinal de menor comprometimento com o combate à inflação, o que poderia agravar a desancoragem das expectativas. Por outro lado, também mostra preocupação com o risco de apertar a política monetária além do necessário e gerar uma piora maior do que a esperada na atividade econômica.
Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital
Eu entendo que a subida adotou um tom bastante positivo. Apesar de o Banco Central ter sinalizado uma interrupção do ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados, para mim está bem claro que é um fim de ciclo. A Selic deve continuar em 15% até o final deste ano.
Na sexta-feira (20), a Bolsa pode sofrer um pouco, porque, toda vez que os juros sobem, isso acaba tendo impacto para a renda variável de uma forma geral. Mas, como o mercado já vinha dividido, tinha uma probabilidade relativamente grande de isso acontecer, então acredito que grande parte já está precificado.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos
A decisão é hawkish ao entregar a alta, quando uma parte dos economistas esperavam manutenção. No entanto, achei a comunicação um pouco dovish (leve), ao dar mais um passo na avaliação de atividade, mostrando um pouco mais de certeza na desaceleração, além de já deixar claro que o plano de voo é parar.
O comunicado fala em “algum” dinamismo do mercado de trabalho, ou seja, intensidade inferior ao que se via na reunião anterior – isso apesar dos dados mais fortes na margem. Também troca o “insipientes” por “certa” ao qualificar a desaceleração.
O texto ainda usa “bastante prolongado” para sinalizar a estratégia à frente. Assim, tenta inibir a previsão de antecipação de cortes. Para frente, o Comitê deixa claro que o cenário base é pausar o ciclo. Quanto às projeções, mantemos a expectativa de que a Selic fique em 15% em 2025, com cortes apenas no primeiro trimestre de 2026.
Pablo Spyer, Conselheiro da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (ANCORD)
A decisão do Copom de elevar a taxa Selic para 15% ao ano é dura, mas coerente com a persistência das pressões inflacionárias e a falta de clareza no ajuste fiscal. O Banco Central demonstra, mais uma vez, seu compromisso com a estabilidade de preços em meio a um cenário de incerteza local e externa. Para o mercado de capitais, a decisão reforça a necessidade de disciplina macroeconômica e o papel crucial da política monetária na preservação da confiança dos investidores.
Thomas Gibertoni, sócio da Portofino Multi Family Office
No comunicado oficial sobre a Selic, o tom foi bastante firme, indicando que os juros devem se manter em um patamar alto por um tempo prolongado. O Copom também destacou que os riscos para a inflação estão equilibrados, ou seja, há possibilidades tanto de alta quanto de queda nos preços no futuro. No entanto, a análise do Banco Central sugere que as pressões inflacionárias, como o aumento de custos ou a alta da demanda, parecem mais prováveis no momento.