Ganhei na loteria, e agora? Veja como gerenciar uma fortuna ou herança
Especialistas alertam: o maior erro ao ganhar uma bolada é agir por impulso. Com planejamento e escolhas certas, é possível transformar a sorte em liberdade financeira duradoura
Recebeu um prêmio em dinheiro? Veja como não desperdiçar e fazer o valor render
(Foto: Adobe Stock)
Ganhar uma quantia significativa de forma inesperada — seja em sorteios, prêmios ou até mesmo heranças — é o sonho de muitos brasileiros. No entanto, sem planejamento, esse dinheiro pode desaparecer tão rápido quanto chegou. Uma pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) aponta que cerca de 46% dos brasileiros que recebem um valor extra não sabem administrá-lo bem e acabam gastando tudo em menos de um ano.
Segundo a consultora em finanças Nathalia Arcuri, do projeto Familhão, isso acontece porque o dinheiro, por si só, não resolve problemas estruturais — especialmente se for gerido com base na emoção. “Pode parecer estranho, mas a afobação, a agitação, a felicidade, essa euforia… esses sentimentos assim de muita felicidade podem ser tão nocivos quanto o medo excessivo, as dívidas, as cobranças”, afirma. “É nessas horas que, tomada pela emoção, a pessoa pode tomar uma decisão equivocada. Ainda mais com um dinheiro tão grande, que ela vai poder se arrepender depois. Então, o primeiro passo é não fazer absolutamente nada.”
Ou seja, nada de sair gastando de imediato ou seguir conselhos apressados — nem mesmo os do gerente do banco. “Nem escutar as primeiras alternativas que surgem sem ponderar”, completa Arcuri.
O momento exige calma e estratégia. E, segundo a especialista, não há uma fórmula pronta para o que fazer com a quantia recebida. Tudo depende do perfil da pessoa, dos seus objetivos e da sua realidade. “Não existe regra. Depende da dívida, da taxa de juros, dos objetivos de cada pessoa, do que ela deseja fazer com esse dinheiro, se tem filhos ou não, se é casada. Nem sempre o melhor é quitar uma dívida. Depende até do tipo de dívida.”
Por exemplo, uma dívida imobiliária pode não precisar ser quitada de imediato se o valor do prêmio puder gerar renda passiva suficiente para manter as parcelas sem desequilibrar o orçamento. O importante, segundo Nathalia Arcuri, é fazer contas e considerar todos os cenários antes de agir.
O que a especialista recomenda?
Entre as primeiras atitudes recomendadas por especialistas está montar uma reserva de emergência. “Ela precisa ficar num tipo de investimento com liquidez imediata, ou seja, que eu posso tirar a qualquer momento, e que renda pelo menos 100% do CDI [Certificado de Depósito Interbancário]. Essa reserva é fundamental para que, no momento de uma emergência, eu não precise tirar o dinheiro de uma aplicação voltada ao médio ou longo prazo, como ações”, afirma a especialista em finanças.
Ela alerta que, sem essa reserva, o investidor corre o risco de precisar do dinheiro justamente quando uma aplicação está desvalorizada. “Imagine alguém que colocou tudo em um fundo atrelado ao dólar no começo do ano. Se agora o dólar caiu e ela precisa do dinheiro, vai acabar perdendo. Já se tivesse a reserva separada, evitaria esse prejuízo.”
Outro erro comum é transformar o prêmio em passivos — ou seja, em bens que geram custos. “O prêmio se torna um problema quando o ganhador transforma o dinheiro em patrimônio que gera despesa. Comprar uma casa, um carro… tudo isso tem manutenção, impostos, despesas. É diferente de comprar um imóvel para alugar, que ao menos pode gerar receita. E mesmo assim há riscos, como vacância.”
Para quem nunca investiu, o ideal é começar com produtos conservadores e de fácil compreensão. “O mais seguro de todos seria o Tesouro Selic. Infelizmente, ele é pouco indicado por corretoras e bancos, porque não gera comissão. Mas é o mais seguro, porque 100% dele está protegido”, orienta Arcuri. “Depois, viria um CDB [Certificado de Depósito Bancário] de 100% do CDI. Mas, nesse caso, é importante lembrar que o Fundo Garantidor de Crédito [FGC] só cobre até R$ 250 mil por CPF e por instituição. Quem tem mais do que isso, precisa diversificar.”
Diante de tantas possibilidades e riscos, contar com a ajuda de um especialista é essencial. “É por isso que ter alguém junto para ajudar nessas decisões é tão importante”, reforça.
Cinco dicas de ouro para fazer o dinheiro render:
Não tome decisões imediatas: a empolgação pode levar a atitudes impulsivas. Tire um tempo para refletir e analisar antes de movimentar o dinheiro. Veja 5 dicas de ouro que ajudam a render o dinheiro:
Quite dívidas prioritárias: foque nas dívidas com juros altos, como cartão de crédito e cheque especial. Sair do vermelho é o primeiro passo para crescer financeiramente;
Monte uma reserva de emergência: reserve entre 3 a 6 meses do seu custo de vida em um investimento seguro e com liquidez, para lidar com imprevistos sem dor de cabeça;
Pense no longo prazo: invista parte do valor com foco em metas futuras, como aposentadoria, compra de imóvel ou educação dos filhos. Isso garante frutos duradouros;
Evite compras por status ou pressão social: use o dinheiro para realizar sonhos reais e sustentáveis — não para atender expectativas alheias.
Receber um prêmio é, sim, motivo para comemorar. Mas com equilíbrio e sabedoria, ele pode se transformar em uma virada financeira duradoura — e não em uma oportunidade desperdiçada.