Em 2024, o PagBank, em parceria com a B3, lançou o jogo Duelo dos Investimentos, inspirado no Super Trunfo, com cartas que representam diferentes formas de poupar e investir. No mesmo ano, reformulou o clássico Banco Imobiliário em colaboração com a Estrela, incorporando elementos como cartões e máquinas de pagamento. Já em fevereiro de 2025, disponibilizou por meio da Bolsa brasileira o Crushing Cripto, em que os jogadores exploram ilhas temáticas para aprender sobre o mercado de criptomoedas.
Outros bancos seguiram o mesmo caminho. Em março deste ano, a Caixa Econômica Federal desenvolveu o Universo CAIXA na plataforma de jogos Roblox, que garante aos participantes a chance de acumular moedas – as CAIXA Coins – para poupar, investir e desbloquear novas fases.
Também no Roblox, a mais recente iniciativa veio do Banco do Brasil, que disponibilizou o Rolê que Rende na plataforma. O game traz um tabuleiro digital que simula situações do dia a dia dos jovens e os estimula a buscar soluções financeiras. Há etapas para pagar imposto, receber uma transferência via Pix e investir.
De acordo com Aglailton Soares, executivo de relacionamento com clientes PF do Banco do Brasil, o jogo já soma 4 mil usuários, que passam em média 60 a 90 minutos na plataforma. O executivo vê o Rolê que Rende como uma porta para trazer mais usuários à conta BB Cash, permitindo que os pais monitorem as ações de seus filhos, oferecendo cartão e até fundos de investimento aos mais novos. A conta é voltada para jovens entre 8 e 17 anos, mas Soares ressalta que o BB pretende cortar essa limitação de idade. “Quando a pessoa nascer, a conta já poderá ser aberta.”
O executivo explica que o banco adota diversas métricas para acompanhar a eficácia de sua estratégia voltada ao público jovem. Entre os indicadores, estão o nível de engajamento dos clientes e o rejuvenescimento dos resultados, além de pesquisas com o Net Promoter Score (NPS), que avaliam o grau de satisfação dos usuários.
Jogos financeiros são a melhor estratégia de aprendizagem?
Na visão de educadores financeiros, os games representam uma boa estratégia para aproximar os jovens de assuntos relacionados a dinheiro, pois trazem uma linguagem acessível que aproxima os mais novos. A dinâmica de ganhar benefícios, estrelas e premiações também traz uma sensação de progresso, que ajuda no aprendizado.
Thiago Godoy, conhecido nas redes como Papai Financeiro, acredita que esses projetos compõem uma jornada envolvente para a criança adquirir conhecimentos sobre finanças. “Eu sou a favor de qualquer iniciativa que seja saudável e esteja alinhada com a realidade e a faixa etária do jovem”, afirma.
Quem também tem uma visão positiva sobre os jogos é a educadora financeira Aline Soaper. Ela explica que a fase de acumular moedas, por exemplo, pode ensinar conceitos importantes sobre dinheiro. “À medida que você coloca uma moeda na caixinha, ela começa a render e atrair mais moedas, o que traz a ideia dos juros compostos.”
Os especialistas fazem, no entanto, uma ressalva: os jogos sozinhos não são suficientes para compor o processo completo de educação financeira. Para Godoy, esse tipo de recurso deve ser encarado como um complemento das trocas em família, já que as crianças aprendem com o exemplo dos pais e precisam estar envolvidas nas escolhas financeiras diárias.
Outro aliado é a escola. Soaper toca o projeto Efinckids, que leva educação financeira para as salas de aula por meio de materiais didáticos e dinâmicas lúdicas. “Muitos acham que esse tema envolve só a matemática, com contas, mas ele vai além e abrange aspectos de comportamento”, destaca.
Godoy é cofundador da BEM Educação, que também desenvolve programas educacionais. Um dos colégios atendidos é o Progresso Itu, onde estudam as alunas Maria Eduarda Ramonsini e Yasmin Leme de Sousa. As jovens, que estão no 7º ano do ensino fundamental, começaram a ter aulas de educação financeira em 2024 e devem seguir aprendendo sobre o tema até o 2º ano do ensino médio. No dia a dia, os conteúdos são trabalhados com exemplos práticos e atividades lúdicas, como jogos em que o desafio é economizar.
Com as aulas, as estudantes passaram a falar mais sobre dinheiro com os pais e até questioná-los sobre seu planejamento financeiro. “É um tema que desperta bastante a curiosidade das crianças em geral, porque não entendemos alguns conceitos e queremos aprender como eles funcionam para termos independência lá na frente”, comenta Sousa, de 13 anos.
Durante as aulas, a jovem conta que gostou de estudar sobre empreendedorismo e formas de gerar renda online, enquanto teve dificuldades para entender as diferenças entre renda fixa e renda variável. Para Ramonsini, de 12 anos, o mais difícil foi aprender sobre o cartão de crédito. “Foi complicado decorar todas as regras do cartão”, relata. “Já a minha aula favorita foi sobre turismo responsável.”
Para além dos jogos: o que bancos têm feito para atrair jovens
Existem outras iniciativas de instituições financeiras para atrair o público jovem ao meio financeiro. O Bradesco lançou o nextJoy, uma conta digital em parceria com a Disney para crianças e adolescentes de 0 a 17 anos. Nessa modalidade, é possível atribuir missões ao jovem por meio de desafios e atividades. Ela também oferece conteúdos por faixa etária e adapta a linguagem à necessidade do cliente.
Já para o público universitário, Eduardo Medeiros, especialista em Educação Financeira e Investimentos da Ágora Investimentos, do Bradesco, conta que existe o Challenge. O programa da corretora permite que os participantes entrem em uma jornada gamificada que simula o ambiente de uma gestora para que eles passem por desafios do mercado financeiro. “Foram 823 inscritos em 2023. Em 2024, esse número aumentou, com mais de mil inscritos e 178 grupos, e, em 2025, a gente vai continuar com o Challenge”, diz Medeiros.
O Nubank, por sua vez, possui uma conta para menores de 18 anos que inclui as principais funções da conta padrão. Ela oferece as Caixinhas, que permitem aos jovens organizar seu dinheiro por objetivos. Os pais, que devem ser clientes da fintech, são os responsáveis pela abertura da conta destinada para pessoas de 6 a 17 anos.
Já o Inter possui a Conta Kids, para crianças de 0 a 12 anos, e a Conta You, para os adolescentes entre 13 e 17 anos. Ambas são gratuitas e permitem acesso à plataforma de investimentos do banco onde estão disponíveis todas as modalidades, exceto o Home Broker.
No caso do C6 Bank, existe a conta C6 Yellow. A contratação é feita para jovens de até 17 anos e seis meses de idade. Nessa modalidade, o cliente pode fazer investimentos em Certificado de Depósito Bancário (CDB) de liquidez diária, que rendem 102% do CDI.
O aprendizado começa em casa: o dever da família em aproximar jovens às finanças
O primeiro passo é entender que as crianças vão observar o comportamento dos pais em casa. “Se a família estiver vivendo no descontrole, o jovem vai acreditar que o descontrole financeiro é o normal”, diz Godoy. “Por outro lado, se os pais tratam o dinheiro com responsabilidade, os filhos vão ver esse comportamento como natural.”
O educador explica que, nos sete primeiros anos de vida, ocorre um processo chamado socialização econômica, fase em que a criança começa a formar sua compreensão sobre o dinheiro. A partir dos três anos, já é possível introduzir noções básicas de finanças. Nessa etapa, os pequenos começam a perceber a ideia de troca, embora ainda não compreendam os valores envolvidos.
Quando se inicia o processo de alfabetização e o ensino de matemática básica, o jovem passa a ter uma noção maior de números e de cálculos, entendendo melhor sobre quantias. Com isso, já é possível envolvê-lo em decisões diárias, como comparar preços no mercado e tomar escolhas para economizar.
Colocar o dinheiro na mão das crianças também é importante. “Eu não aconselho nem a dar mesada, mas sim a semanada, porque é mais fácil para o jovem lidar com dinheiro num curto espaço de tempo do que em um mês. Os pais precisam, porém, estipular um valor fixo”, afirma Soaper.
A especialista utiliza um método de educação financeira que propõe dividir o dinheiro em três partes. A primeira é destinada para a criança gastar com o que quiser; a segunda, para guardar e realizar um sonho, como comprar um jogo. “A terceira parte é o ‘dinheiro do tesouro’, que ela nunca vai gastar, porque é o que vai fazê-la ficar rica. Nesse caso, estamos falando dos investimentos”, explica.