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A partir da próxima sexta-feira (1º), todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos serão taxados em 50% pelo governo americano. Caso não haja uma reviravolta na relação comercial entre os dois países nos próximos dias, Erivelto Rodrigues, CEO da agência de classificação de risco Austin Rating, estima que as medidas impostas pelo presidente Donald Trump devem causar um impacto de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
No entanto, os prejuízos podem ser maiores se o governo brasileiro escolher retaliar as ações do republicano, como tem sinalizado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Há uma semana, o petista negou a existência de uma guerra tarifária com os EUA, mas alertou que isso poderia se tornar realidade caso Trump não mudasse de ideia sobre suas medidas. Veja os detalhes nesta reportagem do Estadão.
Desde o dia 9 de julho, quando as tarifas foram anunciadas, o governo brasileiro recorre à diplomacia para tentar reduzir as taxas. Mas diante da ausência de diálogo com o republicano que mantém apoio expresso ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Poder Executivo conta com uma carta na manga: a Lei da Reciprocidade que foi regulamentada no dia 15 de julho.
A legislação, aprovada pelo Congresso Nacional, prevê retaliações e a suspensão de acordos comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual. No entanto, para o executivo, a alternativa possui efeitos limitados e pode piorar o cenário doméstico.
“Vejo que o Brasil tem poucas ferramentas de retaliação. E não vejo possibilidade desse ano a Selic ser reduzida por causa dos efeitos das tarifas na inflação”, afirma Rodrigues.
A disputa comercial também adicionaria pressão sobre a atual nota de crédito do País.
Em julho de 2023, a Austin manteve o rating BB+ para o Brasil, mas alterou a perspectiva de “estável” para “positiva” em moeda local. Na época, os motivos estavam relacionados à aprovação do novo arcabouço fiscal e ao texto base da reforma tributária.
Dois anos depois, o cenário não é mais o mesmo. Segundo Rodrigues, o Brasil ficou mais distante dessa classificação por causa da escalada do risco fiscal e, por isso, deve ser revista em agosto. “É quase impossível o Brasil conseguir um grau de investimento até 2026. Nenhuma agência de classificação deve conceder essa nota de crédito até o fim do governo pelo menos”, afirma o CEO da Austin.
E-Investidor – Em julho de 2023, a Austin Rating alterou a perspectiva do Brasil para positiva. Hoje, mesmo com a escalada do risco fiscal, essa avaliação se sustenta?
Erivelto Rodrigues – A perspectiva positiva permanece, mas com ressalvas. Observamos que o País ficou mais distante dessa classificação. O grande responsável por isso é o risco fiscal. Em meados de agosto, devemos convocar um comitê para avaliar se mantemos ou alteramos essa visão para o Brasil.
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20Os membros estão bem divididos. Uma metade quer manter, enquanto a outra quer reduzir. Em maio, uma das agências de ratings internacionais reduziu a perspectiva.
Diria que é quase impossível o Brasil conseguir um grau de investimento até 2026. Nenhuma agência de classificação deve conceder essa nota de crédito até o fim do governo pelo menos.
Se o Brasil resolver o problema fiscal, voltaremos ao grau de investimentos?
Se o governo conseguir resolver o problema do aumento das despesas, especialmente as primárias, e reduzir a taxa de juros para níveis mais próximos dos países em desenvolvimento, acredito que isso abre uma possibilidade de aumento do rating no futuro. Mas esse conjunto de medidas sozinho não será o bastante para que se torne possível o aumento da nota de crédito.
Para o Brasil alcançar um nível de grau de investimentos, vamos precisar enfrentar um período ainda mais longo.
Como o Sr. avalia o impacto das tarifas de Trump para o Brasil?
Acredito que teremos uma negociação diferente dos 50%. Se continuarmos desse jeito, estimamos um decréscimo de 0,3% do PIB e os desdobramentos desse impacto podem aumentar o risco soberano do Brasil. Mas é prematuro fazer essa análise. O que eu percebo é que as empresas, com algumas exceções, como a Embraer (EMBR3), vão conseguir mercados alternativos.
Vejo que o Brasil tem poucas ferramentas de retaliação. E não vejo possibilidade desse ano a Selic ser reduzida por causa dos efeitos das tarifas na inflação. Essa briga comercial com os EUA coloca mais ‘lenha na fogueira’.
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Com as recentes movimentações de Trump, qual o risco de Austin rebaixar a nota de crédito dos Estados Unidos?
Trump é um trator na forma como governa, querendo passar por cima de tudo. Ele deveria fazer política de forma mais suave. O dólar se desvalorizou em torno de 10% em relação a outras moedas sob o seu governo. Com as suas medidas alopradas, o presidente americano causou uma balbúrdia no mundo.
Essa bagunça fez os investidores reduzirem sua exposição nos EUA em busca de outro investimentos. O euro, franco suíço e o ouro, por exemplo, estão se valorizando. Quem tinha 30% de exposição em ativos dolarizados, agora está reduzindo para 25%.
Não dá para dizer que os EUA deixaram de ser o porto seguro do mundo, mas essa política econômica de Trump bagunçou os mercados.
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