O recuo do IBOV refletiu a cautela de investidores com o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao mesmo tempo, o Brasil avaliou qual estratégia adotará após a imposição de 50% em tarifas para produtos brasileiros vendidos aos EUA. Há expectativa pela regulamentação da chamada Lei da Reciprocidade, que deve ser publicada até terça-feira (15).
Conforme notícias da imprensa, o País pode pedir redução da tarifa de 50% para 30% e adiamento para até 90 dias. “Seria positivo. O mercado continua cauteloso porque a definição das taxas ainda não é certa. Estamos no aguardo de um anúncio do presidente Donald Trump [sobre a Rússia]”, diz Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital.
Ficou ainda no foco o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Houve queda de 0,74% em maio ante abril, abaixo do piso das estimativas na pesquisa Projeções Broadcast, de recuo de 0,50%. Na comparação com maio de 2024, a prévia do PIB cresceu 3,16%, abaixo da mediana de 4,10%.
No Focus, a projeção é de que o primeiro corte da Selic aconteça em março, e não mais em janeiro como previsto antes. No boletim, a mediana para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 caiu de 5,18% para 5,17%, a sétima baixa seguida, com revisões marginais também para baixo para o câmbio e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).
“Aparentemente, se a taxação dos EUA for mantida, vai elevar a inflação brasileira. E se aumentar, há a preocupação de que provavelmente a taxa de juros fique esticada por muito mais tempo”, avalia em nota Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos.
O impasse sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) também continua no radar. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, recebe nesta terça-feira (15) integrantes do Executivo e do Legislativo para tentar aplacar a crise entre os Poderes criada após o decreto sobre o IOF.
O dólar hoje fechou em alta de 0,66% a R$ 5,5842. “A sobretaxa americana de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada para vigorar a partir de 1º de agosto, amplia as incertezas e eleva a cautela do mercado quanto à reação do governo brasileiro”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
Ibovespa hoje: os principais assuntos que moveram a segunda-feira (14)
Agenda econômica do dia
A agenda econômica desta semana está intensa, com destaque para os índices de preços ao consumidor de Estados Unidos, Reino Unido e zona do euro, além do início da temporada de balanços americanos. No Brasil, o foco do Ibovespa hoje ficou com a regulamentação da chamada Lei da Reciprocidade, que deve ser publicada até terça-feira (15). Aprovada pelo Congresso Nacional, a lei autoriza o Brasil a adotar medidas tarifárias e não tarifárias contra países que impuserem barreiras às exportações brasileiras, como é o caso dos EUA.
Ainda na agenda econômica hoje, teve o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), e o boletim Focus.
Na terça-feira, sai o Monitor do PIB de maio. Na quinta-feira (17), será conhecido o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) de julho. E na sexta-feira (18), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulga a Sondagem Industrial de junho.
Na agenda internacional, na terça, saem os dados de produção industrial da zona do euro e o índice ZEW da Alemanha. Os EUA divulgam o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e o Empire State, enquanto o Reino Unido terá fala do presidente do BoE, Andrew Bailey. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) publica seu relatório mensal.
Na quarta, o destaque fica com a inflação ao consumidor do Reino Unido e o Índice de Preços ao Produtor (PPI) dos EUA, além da produção industrial americana e o Livro Bege (relatório sobre as atuais condições econômicas em cada um dos 12 distritos) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Na quinta-feira, a atenção se volta ao CPI da zona do euro, às vendas no varejo e pedidos de auxílio-desemprego nos EUA. Na sexta, Alemanha divulga o PPI, os Estados Unidos trazem dados de construção civil e o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, enquanto n África do Sul ocorre a reunião de ministros das finanças e presidentes de BCs do G20 – grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia (UE).
Nesta semana começa também a temporada de balanços corporativos do segundo trimestre nos EUA com grandes bancos, como JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citigroup.
Bolsas internacionais enfrentam cautela global com tarifas
As bolsas da Europa fecharam sem sinal único hoje, em uma sessão que teve como destaque a postura tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A proposta de impor tarifas de 30% à União Europeia (UE) anunciada durante o fim de semana conferiu cautela aos negócios.
Trump também disse que irá taxar com o mesmo porcentual produtos do México a partir de 1º de agosto se os dois países não fecharem acordos com Washington. E afirmou que os EUA estão negociando com o Japão e a Coreia do Sul, sendo que os sul-coreanos querem fechar um acordo em breve. “Nosso país está fazendo muito dinheiro com as tarifas”, declarou Trump. Hoje, o comissário de comércio da UE, Maros Sefcovic, disse que voltará a entrar em contato com negociadores dos EUA.
As bolsas de Nova York fecharam em alta nesta segunda-feira, enquanto investidores mantiveram preocupações sobre a política tarifária do presidente dos EUA. Enquanto isso, na China, as bolsas tiveram ganhos modestos após o aumento das exportações do país em junho, tanto na comparação anual como mensal.
Boletim Focus: expectativa para inflação em 2025 cai novamente
O boletim Focus do Banco Central (BC) atualizou, nesta segunda-feira (14), as previsões para os principais indicadores econômicos, incluindo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e taxa Selic.
As projeções da inflação brasileira em 2025 tiveram novo recuo, pela sétima semana seguida, passando de 5,18% a 5,17%, mas ainda acima da meta (4,50%). As apostas do boletim Focus para a Selic no fim de 2025 seguem em 15% – veja aqui as previsões da economia para os próximos anos.
IBC-Br: prévia do PIB recua em maio
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,74% em maio, na comparação com abril e na série com ajuste sazonal, informou a autarquia nesta segunda-feira. O resultado ficou abaixo do piso da pesquisa Projeções Broadcast, de queda de 0,50%. A mediana indicava baixa de 0,02%, e o teto, alta de 0,54%.
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o resultado de maio demonstra desaceleração gradual da atividade doméstica. “Na comparação entre trimestres, o IBC-Br do segundo trimestre até maio indica alta de 0,3%, crescimento mais modesto do que o observado no primeiro trimestre (+1,4%)”, afirma Costa, em nota enviada a clientes.
Em termos de abertura, o destaque negativo na margem ficou para agropecuária (-4,2%) e para indústria (-0,5%), destaca o economista Costa.
Commodities operam sem direção única
Os contratos futuros do petróleo fecharam em baixa, enquanto investidores seguem sob expectativa por um anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação à Rússia. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para agosto encerrou em queda de 0,77% (US$ 0,53), a US$ 66,98 o barril. Já o Brent para setembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), recuou 1,63% (US$ 1,15), a US$ 69,21 o barril.
Entre as commodities hoje, o minério de ferro no mercado futuro da Dalian Commodity Exchange, na China, para setembro de 2025, fechou em alta de 0,26%, cotado a 766,5 yuans por tonelada, o equivalente a US$ 106,92.
O que mais esteve no foco do Ibovespa hoje?
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu no domingo (13) com ministros no Palácio da Alvorada para discutir a resposta do governo. O banco britânico Barclays espera que o ruído em torno da taxação dos EUA ao Brasil continue, com o presidente Lula podendo angariar dividendos políticos do episódio. Por ora, porém, não vê o País retaliando Washington na mesma moeda.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, afirmou que o presidente Lula deve anunciar nas próximas semanas uma nova etapa do PAC Seleções, programa do governo federal voltado à destinação de recursos para obras estruturantes nos municípios.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
*Com informações de Maria Regina Silva, Luciana Xavier e Silvana Rocha, do Broadcast