Cristiano Castro é diretor do segmento de Wealth Management da BlackRock (Foto: BlackRock/Divulgação)
O Brasil não é a bola da vez para o investidor estrangeiro, disse Cristiano Castro, diretor do segmento de Wealth Management da BlackRock Brasil, em entrevista ao E-Investidor nos bastidores do Avenue Connection, evento realizado na capital paulista entre os dias 16 e 17 de julho. Segundo ele, a gestora tem alocado recursos em outros mercados emergentes vendo um prêmio de risco moderado no maior país da América Latina.
“Hoje o Brasil não é a bola da vez, nem na renda fixa, nem na renda variável. Não quer dizer que não vá receber mais aportes – há uma alocação considerável, pois o investidor estrangeiro não está negativo em relação ao Brasil e, sim, neutro”, explica Castro. Segundo o especialista, a BlackRock compartilha essa visão sobre o Brasil em virtude de uma série de fatores.
O primeiro é a perspectiva de desempenho da renda variável. Na visão de Castro, a Bolsa brasileira chegou a ser negociada com um desconto de 20% no começo do ano, mas agora essa métrica está entre 5% e 7%. A redução do desconto ocorreu após o Ibovespa subir 15,44% no primeiro semestre de 2025.
Segundo ele, o risco Brasil está em um patamar elevado devido às questões tarifárias e fiscais. Na quarta-feira (9) da semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% para os produtos brasileiros. O republicano publicou uma carta em sua rede social, Truth Social, alegando que a imposição das taxas corresponde ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas de tecnologia.
O ganho de cerca de 5% a 7% na Bolsa não torna a relação risco-retorno atrativa para a BlackRock. Além disso, a própria renda fixa brasileira perde o brilho para alguns investidores do mercado internacional, diz Castro: os juros elevados equivalem a altíssimo risco, atraindo apenas indivíduos com perfis mais arrojados para o Brasil. “A dívida corporativa dos mercados emergentes tem um risco maior pelo fato de a taxa de juros estar um pouco mais alta. Então, o investidor estrangeiro não está fazendo tanta alocação em renda fixa brasileira por receio dos riscos”, explica o especialista da BlackRock
Quais mercados emergentes entusiasmam a BlackRock?
Castro comenta que a gestora tem apontado preferência para países como Índia e Arábia Saudita. No caso da Índia, a perspectiva é mais positiva com a bancarização, algo já bem explorado no Brasil, em oposição à baixa perspectiva de grande crescimento no país latino-americano.
“Na Arábia Saudita, há um elevado investimento em tecnologia e em parque de dados. Então, o Brasil sofre um pouco, porque há outros pares com histórias mais atrativas e próximas dos investidores globais”, argumenta. Ele reforça que essa questão de o Brasil não ser a preferência entre os emergentes refere-se ao médio prazo. Para o longo prazo, o país ainda continua atrativo.
Para se proteger das tarifas do presidente americano, a BlackRock vê como possibilidade apostar em ativos focados em inteligência artificial, infraestrutura e crédito privado. Segundo Castro, essa evolução tecnológica é um dos pontos mais debatidos na atualidade. Já as empresas de sustentabilidade e infraestrutura seriam beneficiadas pela necessidade da IA consumir mais energia, o que demandaria energia renovável e demais empresas do setor.
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“Todos esses ativos citados seriam no exterior. O brasileiro tem de pensar em investir em outros países com foco em inteligência artificial e nos demais segmentos mencionados. O mercado doméstico ainda apresenta limitações, por isso, para conseguir uma boa proteção, o ideal é ter uma carteira diversificada globalmente”, conclui o especialista da BlackRock.