Veja o que os grandes do mercado enxergam sobre os EUA (Foto: Paulo Bareta)
O excepcionalismo americano é questionado pelo mercado em meio ao contexto da guerra comercial, preocupações com a política fiscal dos EUA e com o fato de a Bolsa dos EUA estar cara, disseram Marina Valentini (VP de mercados globais do JPMorgan), Gabriel Hartung (SPX) e Daniel Popovich (Franklin Templeton) durante o evento Expert XP nesta sexta-feira (25).
Os três especialistas dizem que o excepcionalismo americano – a ideia de que os EUA são um país diferente e único em relação a outras nações – se espalhou pelo mundo, mas causou uma desvalorização do dólar em relação a outras moedas. Daniel Popovich, da SPX, afirmou que essa mudança de paradigma ocorreu devido ao governo do presidente americano Donald Trump, que não demonstra compromisso fiscal.
“O mundo político talvez reduziu um pouco esse caráter do excepcionalismo americano, que parece estar minguando”, disse Hartung. Esse temor do mercado em relação ao fiscal americano ocorre após o governo do presidente Donald Trump estimar que 2025 tende a terminar com o custo da rolagem da dívida em US$ 36,6 trilhões, o equivalente a 124% do PIB, o maior nível da história.
Marina Valentini, do JPMorgan, diz que a questão tarifária é outro fator para essa perda do brilho dos EUA. Segundo ela, foram 6 meses de tarifas de 30% na média e agora a taxa está em 15% após as negociações recentes. Ela aponta que, justamente devido ao problema fiscal, as tarifas devem se manter nesse patamar para conter o déficit público e ajudar a reduzir o endividamento, no pior nível da história.
“O investidor deve se acostumar com esse fato. As tarifas agora serão mais uma dor crônica e suportável do que uma dor aguda com aquela forte volatilidade observada em abril”, explicou Valentini.
Na visão da especialista do JPMorgan, o grande assunto deste ano é repensar se os Estados Unidos brilham tão forte como os investidores estavam acostumados. “Será que não é uma nova fase de excepcionalismo dividido com outros países que estão passando por mudanças estruturais positivas, como a Alemanha após os investimentos no setor militar”, explicou Valentini.
Perda de excepcionalismo e Bolsa cara acendem alerta dos analistas
Em meio a esse cenário de perda central do excepcionalismo, os especialistas dizem que a Bolsa americana está cara. O JPMorgan vê os ativos negociados a 22 vezes o Preço sobre o Lucro (P/L). A métrica mede em quanto tempo o investidor deve ter o retorno do valor investido. No caso de 22 vezes, o dinheiro retornaria em 22 anos após o investimento, o que para a especialista do JPMorgan mostra que a Bolsa americana está cara. “Existem algumas companhias, como as de Inteligência Artificial, que podem ser uma alternativa para o investidor”, diz Valentini.
Gabriel Hartung, da SPX, vê sinais favoráveis para as empresas americanas, mas também comenta que os preços estão elevados. Ele até comenta que o mercado brasileiro pode ser atrativo nesse momento, mas a incerteza tarifária pode pesar. “A disputa comercial sobre a tarifa de 50% pode escalar, o que não seria uma boa opção para o investidor local – poderia causar uma fuga do investidor estrangeiro”, diz Hartung.
Fed deve fazer entre um ou dois cortes de juros até o fim de 2025
Eles esperam que o banco central americano, Federal Reserve (Fed), corte juros ao longo do ano. A VP do JPMorgan estima entre um e duas reduções neste ano. Ela vê o mercado trabalho americano enfraquecendo em função das tarifas, o que deve puxar o corte de juros pela desaceleração econômica. Daniel Popovich, da Franklin Templeton, espera somente um corte do Fed, visto que a desaceleração econômica deve pesar – mas a inflação, por causa das tarifas, pode ser um fator fundamental para o Fed apresentar um tom mais duro em seu próximo comunicado sobre juros.
Já Gabriel Hartung (SPX) acredita que serão dois cortes de juros nos EUA. “Após os cortes desse ano, esperamos que o Fed vá reduzir os juros gradualmente com quatro cortes após a entrada de uma nova gestão favorável ao presidente Donald Trump, o que deve enfraquecer o dólar – por isso, estamos neutros com a moeda”, argumenta Hartung.
Onde o investidor deve aportar neste cenário?
O JPMorgan prefere alocar nas ações globais, que podem continuar superando os Estados Unidos, pois os preços estão atrativos. O banco recomenda uma carteira em 60% em ações e 40% em renda fixa. Já Daniel Popovich, da Franklin Templeton, está neutro em relação à renda variável. Ele diz que há muita incerteza sobre a questão tarifária e a política fiscal americana.
“O tema de IA perdura, temos boas oportunidades por ali. O mercado passou a tomar uma postura mais otimista, pois Trump ameaça, mas faz acordos. Ainda assim, falta catalisador para os ativos de riscos, que sofrem com as incertezas em meio a uma métrica risco versus retorno fraca”, explica Popovich.
O melhor para se proteger no momento, segundo ele, é aportar na renda fixa, pois o prêmio de risco é interessante para o investidor. “Nesse cenário preferimos ficar nos títulos de curto prazo (curva curta). Essa estratégia entrega um dinamismo um pouco maior para ter a precificação do portfólio”, conclui o especialista.