O retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado (ROE, na sigla em inglês) do Itaú atingiu 23,3%, superior aos 22,5% do primeiro trimestre e 22,4% do mesmo período de 2024. A avaliação unânime entre analistas é de que os números confirmam a capacidade da instituição de entregar rentabilidade acima dos concorrentes diretos, com controle de inadimplência, avanço da margem com clientes e crescimento da carteira de crédito, dando o tom para que os demais players do setor consigam chegar próximos a tais resultados.
O Bradesco BBI, por exemplo, avalia que o Itaú encerrou o segundo trimestre com desempenho positivo, com destaque para a expansão da margem financeira líquida em 20 pontos-base na comparação com os três meses anteriores. Esse avanço foi atribuído à melhora na composição da carteira de produtos e ao custo mais eficiente dos recursos captados. Esse movimento levou o BBI a revisar para cima as projeções de crescimento da margem financeira com clientes, indicando que o banco deve seguir entregando resultados firmes nessa frente. A receita com tarifas teve avanço leve, mesmo com pressões nas linhas de consultoria, contas correntes e cartões de crédito.
A decisão do Itaú de manter a carteira de crédito praticamente estável foi interpretada pelo BBI como uma escolha mais cautelosa, o que deve fazer com que o crescimento do crédito neste ano fique mais próximo da faixa inferior da meta divulgada pelo próprio banco, atualmente entre 4,5% e 8,5%. A expectativa do BBI é de um avanço de 4,9%. O relatório também atualizou a estimativa de retorno ao acionista via dividendos, prevendo um rendimento da ordem de 10,5%, com base nas projeções de crescimento da carteira. Para o lucro líquido deste ano, a projeção do BBI foi mantida em R$ 47 bilhões, valor acima da estimativa da Bloomberg, que está em R$ 45,9 bilhões.
Para o Morgan Stanley, o Itaú entregou mais um trimestre com resultados operacionais levemente acima do esperado, mantendo indicadores chave em trajetória positiva. A margem financeira líquida com clientes, frisa o banco, cresceu 3% no trimestre e 15% no ano, alinhada às projeções, com melhora no mix de produtos, aumento dos volumes médios de empréstimos e elevação dos spreads e da margem sobre os passivos.
O Morgan ainda aponta que a provisão para perdas com empréstimos foi 11% inferior à estimativa, contribuindo para a estabilidade na qualidade da carteira, com inadimplência acima de 90 dias mantida em 1,9%. A receita com seguros teve crescimento de 9% no trimestre e 17% no ano, superando em 6% as projeções. A alíquota efetiva de impostos caiu para 30,4%. O índice de Basileia, que mede a capitalização do banco, subiu para 16,5%, enquanto o capital de nível 1 alcançou 14,6%.
O BTG Pactual, por sua vez, acrescenta que a operação de varejo do banco voltou a ser mais rentável que a de atacado pela primeira vez desde 2021, com retorno de 28% no segmento, frente a 26,7% no corporativo. A instituição também enfatiza o avanço da margem financeira no Brasil, que voltou a atingir dois dígitos, algo não visto desde 2019, e sustenta a elevação da projeção de crescimento da margem financeira líquida com clientes para este ano, agora entre 11% e 14%.
O relatório observa que a eficiência operacional permanece em patamar favorável, com índice de 38,8% no consolidado e de 36,9% no Brasil, mesmo com aumento das despesas com tecnologia, pessoal e marketing. Outro ponto relevante, segundo o banco, é a elevação de 50 pontos base no índice de capital principal (CET1), que chegou a 13,1%, mais de 1,5 ponto acima dos concorrentes privados, com o BTG destacando a qualidade do capital do banco, apoiada por maior proporção de capital tangível sobre o patrimônio. O banco vê espaço para revisão positiva nas expectativas futuras, à medida que o Itaú avança em seu processo de transformação digital e modernização dos canais de atendimento, o que deve reduzir custos operacionais nos próximos anos e fortalecer sua posição competitiva.
O recado do Itaú para o mercado financeiro
Para Alexandre Abu-Jamra, CEO da Klooks, empresa de tecnologia focada em análise financeira, o desempenho do Itaú serve, sim, como uma referência para os demais bancos. “O resultado sinaliza que o setor financeiro está sendo avaliado pela capacidade de gerar rentabilidade de forma consistente e com controle de risco”, diz.
Segundo ele, a diferença entre o ROE do Itaú e Bradesco ajuda a explicar por que os investidores tratam os dois bancos de forma tão distinta. No segundo trimestre, o Itaú registrou um ROE de 23,3%, enquanto o Bradesco ficou em 14,6%. A vantagem do Itaú, observa Abu-Jamra, é atribuída, em parte, ao avanço da digitalização. A plataforma One Itaú e o SuperApp têm permitido ao banco reduzir custos, melhorar a experiência do cliente e manter uma base forte de receitas. Essas iniciativas também funcionam como uma resposta direta ao avanço das fintechs e dos bancos digitais, que têm atraído clientes com serviços mais simples e personalizados.
O especialista explica que a rentabilidade elevada também é sustentada por uma carteira de crédito mais calibrada, menores índices de inadimplência e maior eficiência operacional. Já o Bradesco ainda enfrenta dificuldades para ajustar sua estrutura e reconquistar a confiança do mercado.
Felipe Molinetti, operador de renda variável da Manchester Investimentos, segue a mesma linha ao afirmar que o Itaú permanece como referência entre os grandes bancos, principalmente porque o resultado do segundo trimestre mostra que é possível crescer com controle, mantendo a inadimplência estável e a eficiência operacional, pilares de um modelo que entrega resultados previsíveis. “Para o setor, o sinal é claro: disciplinar risco e buscar eficiência são diferenciais competitivos essenciais”, afirma.
Ações do ITUB4 estão com preço justo? Qual a recomendação?
O balanço financeiro do Itaú no segundo trimestre levou investidores a reforçarem suas posições no papel da instituição bancária. Com números acima do esperado e qualidade nos indicadores de rentabilidade e crédito, as ações preferenciais (ITUB4) avançam mais de 3% nesta quarta-feira (6), sendo negociadas a R$ 36,88 por volta das 10h40 (horário de Brasília).
O Bradesco BBI recomenda outperform, com preço-alvo de R$ 44, indicando que espera desempenho acima da média do mercado. O JPMorgan tem recomendação overweight, equivalente a compra, com preço-alvo de US$ 7,50 para os recibos negociados nos Estados Unidos (ITUB). Já o BTG Pactual também sugere compra, com preço-alvo de R$ 40 no Brasil e US$ 7,27 no exterior, frente aos preços atuais de R$ 35,69 e US$ 6,48, respectivamente.
“Considerando os múltiplos atuais, ITUB4 negocia próximo ao que eu classificaria como valor justo, com viés levemente descontado. O banco está sendo precificado a cerca de 1,6x valor patrimonial e 9x lucros projetados, o que parece coerente com sua entrega de ROE acima de 23% e com uma política de distribuição de lucros bastante atrativa”, avalia Molinetti.
Apesar de boa parte das qualidades do Itaú já estar incorporada ao preço das ações, o analista ainda vê espaço para uma valorização moderada, apoiada por revisões recentes nas projeções da companhia e pela expectativa de dividendos extraordinários, com o índice de capital principal acima de 13%. “Ou seja, o papel não está barato como em momentos de estresse de mercado, mas ainda oferece um bom equilíbrio entre retorno esperado e risco, especialmente para investidores que buscam previsibilidade e fluxo de caixa”, diz.
Por outro lado, Abu-Jamra acrescenta que o resultado do Itaú trouxe um ponto novo que pode levar a revisões nas projeções de analistas. Isso porque o banco elevou sua estimativa de crescimento para a margem financeira com clientes, uma das principais fontes de receita, de 7,5%-11,5% para 11,0%-14,0%. A revisão para cima, diz ele, é relevante e pode influenciar positivamente os modelos de precificação e as recomendações de bancos e casas de análise.
Por que comprar ações do Itaú
Abu-Jamra avalia que as ações do ITUB4 são uma opção defensiva para investidores. Segundo ele, o banco tem apresentado resultados superiores aos seus concorrentes, com rentabilidade bem acima da média do setor e qualidade de crédito destacada, já que a inadimplência acima de 90 dias do Itaú é de 1,9%, contra 4,1% do Bradesco.
Ele afirma que a gestão tem entregado resultados acima das expectativas e que a receita projetada para o banco foi revisada para cima recentemente. Mas há um alerta de que o setor bancário é sensível às variações macroeconômicas, como mudanças nas taxas de juros, inflação e emprego, que podem influenciar os resultados. A competição com bancos digitais e fintechs exige investimentos constantes em tecnologia, o que pode pressionar as margens de lucro do Itaú a longo prazo.
Molinetti, por sua vez, diz que o ITUB4 segue como escolha defensiva para quem busca geração de caixa e estabilidade. A ação, afirma ele, já carrega boa parte das qualidades do banco no preço, o que limita grandes valorizações. O investidor deve acompanhar os números de crédito e inadimplência, especialmente no varejo, que tem assumido papel mais relevante na entrega de retorno.
Também é importante observar as receitas com serviços, que vieram abaixo do esperado no trimestre. Uma melhora nesse ponto ajudaria a reforçar a tese. “Vale a pena investir, desde que o investidor entenda que está comprando previsibilidade e robustez, e não um papel de turnaround ou alto crescimento”, recomenda.