Os números divulgados pela empresa confirmaram esse pessimismo, com destaque para a queda acentuada do lucro líquido, o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROE) no nível mais baixo desde 2016 e o aumento das perdas esperadas com empréstimos, que cresceram 89,3% no primeiro semestre em razão do aumento da inadimplência nessas carteiras. O retorno sobre o investimento (ROI) também registrou queda relevante, chegando a 8,4%, contra patamares de cerca de 13% anteriormente, configurando o segundo pior índice desde 2000 entre grandes bancos brasileiros.
O Banco do Brasil registrou lucro líquido ajustado de R$ 3,784 bilhões no segundo trimestre de 2025, queda de 60% na comparação anual. Projeções compiladas pela LSEG, empresa de análise de dados financeiros, apontavam lucro de R$ 5 bilhões, o que mostra que o resultado do 2T25 do Banco do Brasil ficou bem abaixo das expectativas, mesmo aquelas já consideradas pessimistas pelo mercado.
“O Banco do Brasil divulgou números bastante fracos, aquém de nossas estimativas em lucratividade”, diz Evandro Medeiros, analista CNPI da Suno Research, sobre o resultado do BB no 2T25. “É provável que o mercado reaja negativamente dada a drástica queda no lucro líquido e a perspectiva de dividendos módicos em 2025 frente ao observado nos últimos três anos.”
BB no 2º tri: deterioração da carteira de crédito
O principal fator que pressionou o lucro no período, segundo analistas ouvidos pela reportagem, foi o aumento das provisões para devedores duvidosos (PDD). A deterioração da carteira de crédito, especialmente no agronegócio, combinada à Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) 4.966, que antecipou perdas futuras, elevou as provisões em cerca de 80% em relação ao segundo trimestre de 2024, retirando quase R$ 14 bilhões do resultado.
Outros fatores que impactaram o desempenho foram os custos de captação e o aperto da margem financeira. O desligamento de recursos prefixados do Tesouro e o aumento do custo das aplicações elevaram o custo de funding, termo que se refere ao financiamento necessário para que o banco mantenha suas operações. Esse aumento pressionou o spread líquido, que é a diferença entre os juros recebidos em empréstimos e o custo para captar recursos, reduzindo a margem de lucro da instituição.
A demanda por crédito manteve-se em nível razoável, gerando crescimento das receitas de juros, mas insuficiente para compensar o aumento dos custos. As despesas administrativas do BB também avançaram, enquanto a margem financeira com o mercado caiu devido a oscilações cambiais e às emissões de funding.
Redução do payout
Em atualização de estimativas, o BB informou que o lucro líquido ajustado para 2025 deve ficar entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões, revisão feita após ter suspendido projeções em maio, quando previa entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões. A instituição também anunciou em fato relevante ao mercado uma redução no payout do Banco do Brasil, que é a porcentagem do lucro distribuída aos acionistas como dividendos, para 30% em 2025, ante estimativa anterior de 40% a 45%.
Investidores acompanhavam com atenção o balanço do segundo trimestre do BB após o resultado do primeiro trimestre, divulgado em meados de maio, ser considerado pior do que o esperado. Naquele período, o lucro líquido ajustado atingiu R$ 7,37 bilhões, pressionado pelo aumento da inadimplência em parte da carteira de agronegócios e por novas normas contábeis. Na sequência da divulgação, as ações do BB chegaram a cair quase 15% no pregão, e desde então acumularam perda superior a 30% diante de revisões de perspectivas e dados do Banco Central sobre o setor financeiro.
“Logo após a divulgação de hoje, fontes do mercado reforçaram que praticamente nada de positivo surgiu; os investidores já haviam precificado uma trimestralidade fraca e estavam mais atentos ao que o banco faria em termos de guidance e capital. A reação foi de confirmação do pessimismo: ações do BBAS3 não dispararam após o balanço, com investidores mais preocupados em ler os novos números e projeções do que celebrar qualquer surpresa”, diz Leonardo Andreoli, analista da Hike Capital.
“Podemos falar, com fundamento nos números, que a gestão do banco frente ao cenário desafiador, principalmente para o agronegócio, não foi bem realizada, sobretudo se considerarmos que o banco possui espaço para alavancagem, que poderia ter sido utilizada para amenizar os impactos da alta taxa de juros e do momento complexo que passa o agro”, completa o sales de renda variável da ImvestSmart, Bruno Issa.
“Assumindo um lucro de R$ 20,4 bilhões e um payout de 30%, nos deparamos com um dividend yield de 5,4%”, afirma Medeiros, da Suno.
Empréstimos, despesas e agronegócio: o calcanhar de Aquiles do Banco do Brasil
Com o balanço financeiro em mãos, Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, avalia que as perdas do Banco do Brasil com empréstimos cresceram quase 90% no primeiro semestre, totalizando cerca de R$ 32 bilhões, principalmente no segmento de pessoas jurídicas (PJ), enquanto o impacto sobre pessoas físicas foi menor. No entanto, diz ele, a carteira de crédito para pessoa física apresentou aumento de cerca de 8%, contribuindo para uma maior diversificação em relação ao histórico do banco, que tradicionalmente concentra mais risco em empresas.
Outro ponto que chamou atenção de Pletes foi o crescimento das despesas administrativas, das quais 70% correspondem a gastos com pessoal. “O aumento das perdas esperadas com empréstimos está associado a ineficiências na cobrança da carteira e à gestão dos recursos humanos e tecnológicos. A presidente do Banco do Brasil [Tarciana Medeiros] ressaltou recentemente a necessidade de capacitação e uso de tecnologia, medidas consideradas fundamentais diante do quadro de custos elevados e de resultados financeiros em queda”, observa.
Há, ainda, um problema maior, segundo os analistas ouvidos pelo E-Investidor. O Banco do Brasil direcionou cerca de 30% de sua carteira de crédito ao agronegócio, setor que enfrenta níveis recordes de inadimplência. Dados do Banco Central (BC) indicam que os atrasos acima de 90 dias atingiram 3,5%, enquanto os pagamentos em atraso entre 15 e 90 dias chegaram a 2,9%. O aumento da inadimplência forçou o banco a elevar as provisões de forma histórica, pressionando de maneira intensa o lucro da instituição. “Se essa tendência não se reverter rapidamente – o que é improvável no curto prazo – as despesas com PDD seguirão altas, corroendo resultados futuros”, alerta Andreoli.
Conforme especialistas, do lado positivo, a instituição atualizou seu guidance para este ano, oferecendo maior visibilidade ao definir faixas para carteira de crédito, margem financeira bruta, custo de crédito e lucro líquido ajustado. A manutenção das metas para receitas de serviços e despesas administrativas, segundo eles, denota a disciplina operacional do banco, permitindo que investidores e analistas recalibrem suas expectativas com base em parâmetros mais claros.
Dividendos e recomendação: vale a pena investir em BBAS3?
Com o lucro ajustado do segundo trimestre de 2025 do BB abaixo das expectativas, o Banco do Brasil sinaliza que poderá reavaliar sua política de payout. Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a prioridade deve ser a preservação de capital. “Se o objetivo for preservar capital, a distribuição de dividendos pode ser reduzida ou postergada, especialmente se as provisões continuarem elevadas e prejudicarem a geração de caixa livre”, afirma Lima.
Para ele, a divulgação do balanço do BB reforça a intenção da instituição de proteger recursos em um momento de pressão sobre a carteira de crédito, sobretudo no agronegócio, onde a inadimplência permanece em níveis elevados. O lucro abaixo do esperado, combinado com o custo de crédito ainda alto, aumenta a cautela sobre a ação no curto prazo.
Em comparação, Lima diz que bancos privados como o Itaú (ITUB4) têm apresentado resultados mais estáveis e mantido políticas de dividendos fortes, oferecendo maior previsibilidade aos investidores. Dessa forma, avalia ele, a atratividade das ações do Banco do Brasil dependerá da disposição do investidor em lidar com maior volatilidade e menor distribuição imediata, na expectativa de ganhos futuros caso as métricas de rentabilidade e a qualidade da carteira se recuperem.
Antes da divulgação do balanço, as principais casas de análise ajustaram suas recomendações para BBAS3. O JPMorgan manteve avaliação neutra para o papel, com preço de fechamento em 9 de julho de R$ 21,49 e preço-alvo para dezembro deste ano de R$ 28. A Genial Investimentos seguia mais otimista e recomenda, até então, compra, com preço-alvo de R$ 34.
A XP Investimentos decidiu reduzir a recomendação para neutro, considerando maior cautela diante do cenário de resultados e pressão sobre a carteira de crédito. O BTG Pactual, por sua vez, rebaixou a recomendação de compra para neutro e cortou o preço-alvo de R$ 34 para R$ 30. Já o Itaú encerrou sua posição comprada em BBAS3, após a ação perder o suporte em R$ 21,05 e formar um pivô de baixa dentro de uma tendência descendente. A operação foi finalizada com prejuízo de 4,74%, indicando menor expectativa de repique no curto prazo.
Colaboração de Isabela Ortiz