Tarifaço de Trump aumenta temores de recessão na economia dos EUA. (Foto: Adobe Stock)
As tarifas extras de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros mudaram o clima político, aponta relatório do Citi. Até então, o debate em Brasília girava em torno do equilíbrio fiscal e redistribuição de renda, pressionando a popularidade do governo. Após o anúncio, “o discurso mudou para a justiça e a motivação para as tarifas, particularmente porque os EUA têm um superávit em relação ao Brasil”, segundo o banco.
Essa mudança de retórica estancou a perda de aprovação do Planalto e isso, segundo o Citi, reverteu a tendência em relação à popularidade do governo e adia o desejo dos investidores de se envolverem em uma negociação eleitoral já em 2025.
“Para compensar o impacto econômico das tarifas, o governo anunciou um plano chamado Brasil Soberano. Se as isenções fiscais incluídas neste plano forem percebidas como permanentes, acreditamos que o prêmio de risco pode aumentar. Um catalisador anterior às eleições, portanto, deve ser o ciclo de corte de taxas de juros que esperamos começar no primeiro trimestre de 2026.”
Para o banco, do ponto de vista econômico, o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos tem peso modesto. “A economia brasileira é mais fechada e menos exposta ao comércio com os EUA do que outros mercados emergentes”, lembra o Citi. As exportações locais equivalem hoje a cerca de 17% do Produto Interno Bruto (PIB), ante média de 25% na América Latina e 37% no México. Só 12% delas vão para o mercado americano (contra 40% na região e 82% no México).
Segundo o Citi, mesmo assim, o salto tarifário é expressivo: com as isenções anunciadas, a alíquota efetiva deve ficar em 32%, bem acima dos 2,2% vigentes antes de abril de 2025. Os produtos com taxa menor respondem por 45% das vendas brasileiras aos EUA, ou 0,8% do PIB.
O Citi avalia como baixa a chance de retaliação política de Brasília. “O governo brasileiro continua tentando negociar”, observa o banco. Na frente econômica, a estrutura relativamente fechada do país tende a limitar danos macro mais severos, ainda que setores como o agro possam sofrer.
Com toda essa mudança no cenário geopolítico, o Citi realizou mudanças em sua carteira recomendada. Nesse contexto saem BTG, Bradesco e Orizon e entram GPS Participações, Banco Inter, Itaú, Vibra, Assaí e Rede D’Or. Segundo a casa, entre as ações consideradas “grandes jogadores” estão Marcopolo, Itaú, Klabin. A lista de “MVPs” passa a ter Marcopolo, Itaú, Copel, cada uma com peso de 10%; Inter, Prio, Petrobras, Vibra, Ecorodovias Vivo, Smartfit, Assaí e Rede D’Or com 5% e GPS com peso de 15%.
“Nossa carteira superou o Ibovespa nos últimos 30 dias, com alta de 1,6%”, disse o banco. No ano, a carteira soma 26%, contra 13% do índice. A lógica, reforça o Citi, é “uma abordagem bottom-up (de baixo para cima), levando em consideração as pressões top-down (de cima para baixo)”, com 10 a 15 ações distribuídas em pesos de 5%, 10% ou 15%, mirando ganhos superiores ao Ibovespa no longo prazo.