Cosan (CSAN3): prejuízo de R$ 1 bi e um único gatilho para destravar as ações; veja por que bancos apostam em alta de 300%
Holding de Rubens Ometto viu resultados piorarem, mas mercado ainda acredita no turnaround na empresa; Raízen (RAIZ4) é o "calcanhar de aquiles" do balanço
Queda das ações da Cosan (CSAN3) na Bolsa é vista por bancos como oportunidade para comprar na baixa um ativo que pode triplicar de valor. (Foto: Adobe Stock)
Na semana final da temporada de balanços do segundo trimestre de 2025 (2T25), enquanto todos os holofotes estavam virados para os resultados do Banco do Brasil (BBAS3) e o comportamento de suas ações, outras empresas podem não ter ganhado a atenção que merecem. É o caso da Cosan (CSAN3), a holding de Rubens Ometto, que na noite da última quinta-feira (14) reportou prejuízo líquido de R$ 946 milhões.
Trata-se de uma piora de 316,7% em relação aos R$ 227 milhões de prejuízo registrados no mesmo período de 2024. Mas esse não é um balanço para ser lido apenas pelos números, mas também pelos sinais. Ao menos, é o que diz o BTG Pactual em relatório.
A Cosan está comprometida em reduzir a alavancagem há um tempo. Ao final de 2024, a holding mudou o board (diretoria) das subsidiárias numa tentativa de ajustar a estrutura de capital e anunciou venda de ativos para ganhar liquidez – incluindo o desinvestimento dos 4,14% do capital social que detinha da Vale (VALE3), como o E-Investidor já havia antecipado aqui.
Sem anúncios desde a venda na mineradora, o mercado especula novas medidas: venda de ativos da Raízen ou da participação na Compass e até mesmo a abertura de capital da Moove.
“A Cosan tem progredido em suas iniciativas de gestão de passivos. No entanto, com o passar do ano, não vimos novos sinais que pudessem desencadear o tão necessário desalavancamento do balanço patrimonial. É provável que seja por isso que o preço das ações caiu aproximadamente 30% até agora”, diz o BTG Pactual.
Até o fechamento do pregão de terça-feira (19), a CSAN3 era a segunda maicor queda do Ibovespa no ano.
O pior já ficou para trás
A empresa tem liquidez, apesar de alavancada, e não tem nenhum empréstimo a vencer antes de 2028. Além disso, viu o índice de cobertura de juros, que relaciona os dividendose desinvestimentos recebidos com o custo da dívida, ficar praticamente estável em 1,2x. A dívida líquida também estacionou no balanço de 2T25 da Cosan, a R$ 17,5 bilhões.
É um cenário desafiador, com um balanço trimestral ainda pressionado, especialmente tendo em vista os juros de dois dígitos e as incertezas macroeconômicas. Mas os bancos parecem otimistas com a companhia. Não só mantêm a recomendação de compra do papel, como veem progresso nas operações da holding.
“É possível argumentar que o pior ficou para trás em termos de alavancagem, ainda que os indicadores da dívida possam oscilar em uma faixa pequena nos próximos trimestres. Estamos construtivos com os diversos gatilhos de melhoria progressiva da estrutura de capital da Cosan”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus.
Subsidiárias pressionam no 2T25, mas Moove surpreende
Por ser uma holding, o balanço trimestral da Cosan é apurado por meio da equivalência patrimonial das subsidiárias Rumo (RAIL3), Raízen (RAIZ4), Compass, Moove e Radar.
Incêndio atingiu fábrica da Moove, subsidiária da Cosan, em fevereiro de 2025. (Foto: Moove/Divulgação)
Algumas delas já divulgaram seus números do 2T25. Na última quinta-feira (14), junto com o balanço da holding, o destaque ficou com a Moove, com uma surpresa positiva que não tem muito a ver com a operação.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado da empresa, de R$ 505 milhões, superou muito as expectativas de mercado – em termos de comparação, o Itaú BBA esperava por R$ 103 milhões. Mas o resultado ocorreu pelo reconhecimento de indenizações parciais do incêndio na fábrica da Moove, em fevereiro deste ano, no Rio de Janeiro. “O momento desse reconhecimento foi inesperado e exige uma análise mais aprofundada”, destacou o BBA.
Os outros números da Moove vieram abaixo do consenso. Excluindo o ganho da indenização, o Ebitda ficou em R$ 61 milhões, uma queda de 74% em relação ao trimestre anterior e de 66% ante o que esperava a XP para a empresa. “Isso mostra como as operações da Moove ainda estão comprometidas após o incêndio em sua fábrica”, diz a corretora.
A Raízen ainda é o principal “calcanhar de aquiles” da Cosan e viu seu Ebitda cair 23% na comparação anual graças a um volume menor na venda de cana, enquanto o endividamento subiu. Mas é “importante reconhecer os esforços da nova gestão da Raízen no turnaround (recuperação) operacional”, destaca Larissa Quaresma, da Empiricus.
As despesas gerais e administrativas caíram 20% em base anual e os investimentos foram reduzidos em 23% na mesma visão. Com isso, a queima de caixa operacional foi reduzida em R$ 2 bilhões versus o 2T24, tendo ficado em R$ 2,4 bilhões negativos no 2T25. “Ainda há um longo caminho a percorrer, mas a direção está correta”, diz Quaresma.
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Nos outros negócios, a Compass e a Rumo entregaram números tidos como sólidos.
Ações da Cosan (CSAN3) ainda valem a pena? O que dizem XP, BTG e BBA
O prejuízo trimestral da Cosan – e o desafio de reduzir a alavancagem em um ambiente de juros altos e cenário macroeconômico incerto – não afeta o otimismo dos bancos com o papel. Pelo contrário. A queda das ações na Bolsa de Valores é vista com oportunidade para comprar na baixa um ativo que, se as projeções estiverem corretas, pode mais do que triplicar de valor.
Quem tem a projeção mais baixa é a XP Investimentos, com preço-alvo em R$ 17 na recomendação de compra de CSAN3 para o período de 12 meses. Trata-se de uma alta potencial perto de 215% em comparação aos R$ 5,4 a que o papel encerrou esta terça-feira (19).
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O Itaú BBA também mantém as ações CSAN3 como “overweight“, o equivalente a compra. O preço-alvo é de R$ 20, um potencial de valorização de 270%.
O preço-alvo mais elevado vem do do BTG, que vê a CSAN3 chegar a R$ 23 em 12 meses. Poderia ser uma alta de 325% no papel, mas que só vai acontecer quando a companhia anunciar novas ações voltadas à desalavancagem. Até lá, manter as ações na carteira tem a ver com “sentimento”.
“Possuir ações da Cosan hoje exige uma certa dose de confiança de que a gestão tem o necessário para encontrar as melhores opções para vender ativos, vender participações em empresas e/ou melhorar o desempenho operacional das subsidiárias mais problemáticas, a fim de fazer a matemática a seu favor”, diz o banco.
Mas os analistas confiam: “Se estivermos certos, as ações da Cosan oferecem uma combinação poderosa de desalavancagem e redução do desconto de holding”, destaca o BTG.