Produção industrial do País ganha destaque no Ibovespa hoje em meio a julgamento de golpe no STF. (Foto: Adobe Stock)
O Ibovespa hoje terminou o pregão em queda e perdeu o patamar de 140 mil pontos. Nesta quarta-feira (3), o principal índice da B3 encerrou em baixa de 0,34% aos 139.863,63 pontos. As atenções do mercado estiveram nos dados de produção industrial brasileira em julho em meio ao segundo dia do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na agenda do dia, a edição de agosto do Livro Bege, do Federal Reserve (Fed), apontou que a inflação nos Estados Unidos segue pressionada por custos de insumos e tarifas, com sinais de que a tendência pode se intensificar. Segundo o documento, “dez distritos caracterizaram o crescimento dos preços como moderado ou modesto”, mas outros dois relataram forte crescimento nos preços de insumos, “superando o crescimento moderado ou modesto dos preços de venda”. O documento também destacou que quase todos os distritos notaram aumentos de preços relacionados a tarifas.
No geral, há um certo compasso de espera nos mercados pelo relatório oficial de emprego dos EUA, o payroll, que sairá na sexta-feira (5), além da atenção no julgamento sobre a trama golpista no STF. “O dado mais importante sairá no fim da semana. Então, essa espera deixa o mercado um pouco de lado, e tem esses eventos políticos. Não é nada que influencie. O importante mesmo será a resolução do julgamento”, descreve Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset.
Nem o tom positivo dos índices de ações norte-americanos – à exceção do Dow Jones – e a alta de 0,71% do minério de ferro hoje, na China, ajudaram a impulsionar o principal índice da B3 hoje. No câmbio, o dólar hoje fechou em queda de 0,4%, no valor de R$ 5,4529.
As possibilidades de novas sanções dos Estados Unidos contra o governo brasileiro, sobretudo a algumas instituições como o Banco do Brasil (BBAS3), em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, também impuseram cautela. O recuo do petróleo foi outro fator a limitar o fôlego do IBOV. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o WTI para outubro fechou em baixa de 2,47% a US$ 63,97 o barril. Já o Brent para novembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), recuou 2,23% a US$ 67,60 o barril.
“Também segue a apreensão em relação a uma possível retaliação de Trump. A sentença está por vir, o grande ponto é em qual magnitude. Tentaram usar o Trump para fazer o ex-presidente escapar da prisão, mas parece que o tiro saiu pela culatra. E estão usando até isso como argumento no processo”, diz Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos.
Investidores também seguem atentos a desdobramentos das tarifas do governo Trump, que foram consideradas ilegais por um tribunal de apelações nos EUA no fim da semana passada.
No cenário doméstico, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a produção industrial apresentou queda de 0,2% em julho ante estabilidade (dado revisado) em junho. O recuo veio menos intenso do que a mediana negativa das expectativas, de 0,3%.
“Setembro começou com aversão a risco nos mercados. Isso, apesar de Trump sofrer algumas derrotas”, pontua Alvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec Brasil. Conforme ele, ao perder a marca dos 140 mil pontos, o Índice Ibovespa corre o risco de descer ainda mais, rumo aos 138 mil ou 137 mil pontos.
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Ainda na agenda econômica, o Tesouro Nacional fez um leilão extraordinário de títulos. Segundo a secretaria, “o objetivo é contribuir para a eficiência das curvas de juros e do mercado secundário de títulos públicos”.
Ibovespa hoje: os principais assuntos desta quarta (3)
Bolsas de Nova York fecham sem direção única
Tribunal dos EUA considera ilegais tarifas impostas por Trump. (Foto: Adobe Stock)
Os índices em NY subiram, após perdas na terça-feira (2), com investidores atentos a dados econômicos e incertezas sobre as tarifas dos EUA. A única exceção foi o Dow Jones, que recuou 0,05%. O governo de Donald Trump deve recorrer à Suprema Corte para reverter a decisão que considerou ilegais as novas alíquotas sobre importações – entenda mais sobre a decisão nesta matéria. O presidente norte-americano defende urgência no julgamento.
As bolsas europeias, por sua vez, fecharam em alta, recuperando parte das perdas da última sessão, ainda com o avanço dos rendimentos dos títulos de longo prazo no radar. O índice pan-europeu Stoxx 600 encerrou em alta de 0,66%, a 546,78 pontos. Em Londres, o FTSE 100 subiu 0,67%, a 9.177,99 pontos. Em Frankfurt, o DAX avançou 0,48%, a 23.600,53 pontos. Em Paris, o CAC 40 ganhou 0,86%, a 7.719,71 pontos.
Dado de produção industrial
A produção industrial caiu 0,2% em julho ante junho, na série com ajuste sazonal, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio um pouco melhor do que a mediana das expectativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, de retração de 0,3%, com intervalo entre uma queda de 1,3% a uma alta de 0,7%.
Em relação a julho de 2024, a produção subiu 0,2%. Nessa comparação, sem ajuste, as estimativas variavam desde uma queda de 1,7% a um avanço de 1,8%, com mediana positiva de 0,1%. No acumulado do ano, que tem como base de comparação o mesmo período do ano anterior, a indústria teve uma alta de 1,1%. No acumulado em 12 meses, a produção subiu 1,9%.
Conforme o economista do ASA Leonardo Costa, o resultado mostra um quadro de estagnação prolongada da indústria, com quatro meses consecutivos sem crescimento relevante.
Tesouro Nacional capta R$ 17 bi com leilão extraordinário de títulos
Tesouro Nacional realiza leilão extraordinário. (Foto: Adobe Stock)
O Tesouro Nacional vendeu todas as 4,5 milhões de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B) ofertadas em leilão extraordinário (ou ‘off-the-run’) realizado nesta quarta-feira (3). Foram colocados três vencimentos. O volume financeiro somou R$ 17,706 bilhões – veja os detalhes aqui.
O que mais mexeu no Ibovespa hoje?
Temores de novas sanções americanas ao Brasil por conta do julgamento de Bolsonaro no STF limitaram o desempenho dos ativos locais, em meio à audiência em Washington sobre a investigação da Seção 301 (instrumento usado pelo governo norte-americano para investigar práticas consideradas injustas e legitimar punições tarifárias) contra o Brasil.
A agenda econômica desta quarta-feira (3) se voltou aos dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda de 0,2% na produção em julho ante junho fez o setor industrial brasileiro completar uma sequência de quatro meses consecutivos sem crescimento. A indústria acumulou uma perda de 1,5% entre abril e julho.
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O Ibovespa hoje também repercutiu o segundo dia do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) dos acusados de participação em tentativa de golpe de Estado, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ex-ministros militares.
Nos Estados Unidos, a abertura de postos de trabalho caiu para 7,181 milhões em julho, de acordo com o relatório Jolts, publicado hoje pelo Departamento do Trabalho do país. O resultado ficou abaixo da expectativa de analistas consultados pela FactSet, que previam a criação de 7,373 milhões de vagas no período.
O presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, reforçou a importância da independência da autoridade monetária, em meio aos esforços da Casa Branca para demitir a diretora Lisa Cook. Em evento do Peterson Institute for International Economics (PIIE), Musalem explicou que a estrutura do Fed foi desenhada de forma a blindá-lo de interferências do debate político. A instituição continua focada na obrigação de atender o mandato duplo, garantiu o dirigente.
Já o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse nesta quarta-feira que a inflação de bens está subindo por causa de tarifas e que o banco central americano ainda tem muito o que fazer para trazer a inflação para a meta de 2%. “Precisamos ver com o tempo se inflação de tarifas será persistente. Alguns dados sugerem que sim, outros que não”, ponderou o dirigente em evento em Minnesota.
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Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o Ibovespa hoje.
*Com informações de Maria Regina Silva, Silvana Rocha e Luciana Xavier, do Broadcast