Os mercados estão totalmente comprometidos com um corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) nesta quarta-feira (17), com dados da CME mostrando que os investidores precificaram em 0% a chance de manutenção, à medida que números fracos do mercado de trabalho e uma inflação mais branda alimentam apostas dovish.
Economistas como Jim Reid, do Deutsche Bank, e Paul Donovan, do UBS, alertaram que, embora os dados de manchete sustentem a flexibilização, os detalhes revelam pressões mais mistas que Powell terá de ponderar. Há poucas “certezas absolutas” quando se trata de economia. No entanto, os traders de juros estão 100% convencidos de que um corte está vindo na próxima reunião do Fed.
Claro, isso significa que os mercados podem estar se preparando para um cenário doloroso caso Jerome Powell e o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) não estejam tão convencidos pelos dados que estão vendo.
Alguns fatores impulsionaram a confiança do mercado em um corte no juros. O primeiro é o mercado de trabalho, que está consideravelmente mais fraco do que se imaginava. Uma série de indicadores tem pintado esse quadro, desde a desaceleração nas contratações (as folhas de pagamento adicionaram apenas 22 mil empregos no mês passado) até uma revisão significativa para baixo nos números do ano passado (911 mil postos a menos do que o informado anteriormente).
Isso significa que a atenção do FOMC pode ser forçada de volta para o lado do mandato que trata do pleno emprego, obrigando-o a ceder parte do foco sobre a estabilidade de preços e a inflação na meta de 2%.
De fato, o lado da estabilidade de preços pode estar se saindo um pouco melhor do que o esperado. No domingo (14), o Bureau of Labor Statistics divulgou a atualização mais recente do índice de preços ao produtor (PPI), que muitas vezes serve como precursor das tendências mais amplas da inflação. E, inesperadamente, a demanda caiu 0,1% em agosto, embora os preços excluindo alimentos, energia e serviços de comércio tenham subido 0,3%, a quarta alta consecutiva.
Dito isso, o aumento marginal não foi suficiente para dissuadir os investidores de suas esperanças dovish. Segundo o FedWatch, da CME Group, a probabilidade de o Fed manter os juros na próxima reunião deste mês é de 0%.
Na manhã desta segunda-feira (15), 92% dos analistas apostavam em um corte de 25 pontos-base, enquanto 8% apostavam em 50 pontos-base; a manutenção está precificada em 0,0%.
Ignorando os detalhes
Esse sentimento, aliado à alta do S&P 500 puxada em parte pelos ganhos da Oracle, levou a uma “alinhamento perfeito entre o macro e o micro”, escreveu Jim Reid, do Deutsche Bank, a clientes.
Ele acrescentou: “Considerando as categorias do PPI que alimentam o núcleo do PCE [índice de despesas de consumo pessoal] — passagens aéreas, investimento em portfólio e serviços médicos — nossos economistas veem o núcleo do PCE de agosto em +0,32%, em linha com as expectativas pré-PPI. Mas o foco do mercado estava muito na surpresa negativa do número de manchete, visto como espaço adicional para cortes de juros nos próximos meses.”
No UBS, o economista-chefe Paul Donovan comentou de forma semelhante que, embora o detalhe seja mais importante que a manchete, os mercados (e até os políticos) usarão os dados para reforçar a opinião de que a taxa básica está excessivamente restritiva.
“Houve aumentos extremamente altos no preço de computadores montados nos EUA, componentes eletrônicos, peças de veículos, pneus, têxteis domésticos e assim por diante”, observou Donovan. “As margens de lucro, que aparecem de forma indireta nos dados, parecem estar aumentando em áreas como móveis, atacadistas de roupas e varejo de vestuário.
“O padrão nos detalhes não é, talvez, totalmente inesperado: preços mais altos onde os custos estão subindo e margens maiores onde os varejistas conseguem criar uma narrativa que culpe algum fator que não seja ‘mais lucro para nós’.
“Com os dados oficiais de inflação ao consumidor dos EUA divulgados nesta segunda-feira (15) para agosto, os mesmos problemas surgem. São os detalhes, mais do que o número principal, que vão importar, embora os políticos usem o dado de manchete para marcar pontos.”
Se Jay Powell pretende ou não cortar os juros em setembro, provavelmente terá de suportar mais algumas críticas de “tarde demais” até lá.
Esta história foi originalmente apresentada na Fortune.com
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