No encontro anterior, em julho, o Copom interrompeu a sequência de altas na Selic, que alcançou o maior nível desde 2006, e indicou a continuidade da interrupção do ciclo. Desta vez, o colegiado mostrou mais convicção de que manter os juros estáveis por um período bastante prolongado será suficiente para levar a inflação de volta à meta de 3% ao ano, dentro do intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.
Os especialistas explicam que o BC considera dados de emprego e inflação para definir a política monetária. A queda do desemprego tende a aumentar o consumo, pressionando os preços, enquanto a recente desaceleração da inflação exerce efeito contrário.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de -0,11%, com recuo nos preços da energia elétrica, gasolina e alimentos. Ainda assim, o índice acumulado em 12 meses está em 5,13%, acima da meta, e as expectativas para este ano e 2026 permanecem elevadas.
Onde investir com a Selic em 15%
A taxa de juros em 15% ao ano mantém a renda fixa como principal destino para os investidores, recomenda Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos. Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), Tesouro Selic e Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de grandes bancos atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), segundo ele, seguem oferecendo liquidez elevada e baixo risco, ao mesmo tempo em que garantem retorno real atrativo diante de uma inflação em torno de 5% ao ano. Esse diferencial de cerca de 10% ao ano no ganho real reforça a atratividade das aplicações conservadoras.
Para investidores com planos de médio e longo prazo, Notas do Tesouro Nacional série B (NTNs-B) e Tesouro IPCA, argumenta Mello, aparecem como alternativas interessantes, com juros reais próximos de 7,5% ao ano para prazos de dez a quinze anos. Esses papéis, indexados à inflação, oferecem proteção contra perda de poder de compra, mas exigem cautela de quem pretende vender antes do vencimento, já que estão sujeitos à marcação a mercado e podem apresentar oscilações relevantes no preço durante o período de aplicação.
Outra alternativa, conforme Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank, são os papéis indexados à inflação (IPCA+), que podem proteger a carteira de eventuais surpresas no índice de preços e ainda garantir diversificação. A escolha entre pós-fixados e atrelados ao IPCA, diz ele, depende do perfil de cada investidor.
“Para os mais conservadores, a recomendação é manter a maior fatia em renda fixa. Já quem tem apetite para risco (perfis moderado e arrojado) pode começar a abrir espaço para outras classes de ativos. Nesse grupo, a Bolsa volta a ganhar espaço nas carteiras como alternativa de diversificação de longo prazo”, diz Haddad.
É hora de arriscar em outros ativos?
Para Ângelo Belitardo Neto, diretor de Gestão da Hike Capital, já é possível pensar em uma diversificação gradual da carteira. Ele lembra que, embora a renda fixa siga como âncora diante do juro real elevado, o atual patamar da Selic tende a comprimir prêmios de risco ao longo do tempo. “Uma alocação progressiva em Bolsa, em degraus, captura dois vetores: melhora de atividade à frente e eventual início de ciclo de queda em 2026. Pequenas e médias empresas, consumo discricionário e construção tendem a reagir cedo. O Ibovespa inclusive tem refletido esse adiantamento de ciclo nos últimos dias”, afirma.
Já Thiago Costa Azevedo, sócio-fundador da Guardian Capital, considera que os fundos imobiliários (FIIs) não são prioridade quando comparados a outros ativos indexados à inflação. Segundo ele, o Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (Ifix) tem desempenho inferior ao Índice de Mercado Anbima de Títulos Públicos (Imab), que acompanha uma carteira teórica de papéis do Tesouro atrelados ao IPCA, como o Tesouro IPCA+.
“Não vale o risco porque, ao comparar, os títulos públicos atrelados à inflação oferecem segurança maior do que o risco operacional presente em fundos imobiliários. Por isso, entendemos que os FIIs não são uma classe muito interessante. Já na Bolsa, a situação é diferente: se o Copom reduzir os juros, os ativos de renda variável tendem a se valorizar. Por isso, ter uma parte da carteira em ações no Brasil faz sentido, principalmente por meio de ETFs (Exchange Traded Fund), que ajudam a diluir o risco”, explica Azevedo.
O que o investidor pode esperar daqui para frente
Nas próximas reuniões do Copom, agendadas para novembro e dezembro deste ano, a expectativa é de que a taxa de juros permaneça em 15% ao ano. O ponto central, no entanto, será a comunicação do Banco Central (BC). Recentemente, o mercado observa a queda do dólar, sinais de desaceleração na economia e uma redução nas expectativas de inflação para prazos mais longos, fatores que indicam um ambiente de inflação mais controlada.
Se esse cenário se confirmar, o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, diz que o Banco Central provavelmente ajustará primeiro a sua comunicação, deixando claro que percebe uma melhora nas condições econômicas e que, em algum momento, poderá iniciar um ciclo de cortes nos juros. “Ou seja, o processo natural é a economia demonstrar sinais de inflação mais baixa, depois o BC flexibilizar a comunicação e, por fim, reduzir a taxa de juros”, diz.
Enquanto isso não acontece, os investidores podem aproveitar a taxa de juros elevada a seu favor. Uma estratégia interessante, segundo Belitardo Neto, é investir por um período de três a nove meses. Nesse tempo, é possível aproveitar o chamado “carrego” do CDI, que é a taxa de referência usada para a maioria dos investimentos de renda fixa no Brasil. O “carrego” é basicamente o rendimento que o investidor recebe apenas por manter o dinheiro aplicado, mesmo sem assumir grandes riscos.
Outra forma de potencializar esse ganho é usar uma escada de vencimentos, ou seja, dividir os investimentos em diferentes datas de resgate. Isso permite reinvestir parte do dinheiro à medida que os juros vão mudando, aproveitando eventuais oportunidades.
Como ficam os seus investimentos com a taxa Selic em 15%
A pedido do E-Investidor, Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), fez uma simulação para analisar o desempenho de investimentos em renda fixa, levando em conta a manutenção da taxa Selic em 15%.
O estudo utiliza uma previsão de 4,83% para o IPCA, conforme o Boletim Focus, e considera uma rentabilidade anual da poupança de 8,3%. A simulação abrange cálculos de rentabilidade bruta, líquida (após dedução de impostos e taxas) e real (ajustada pela inflação) para aplicações de R$ 1 mil em diferentes tipos de títulos.
Produto |
Rentabilidade bruta em 1 ano |
Taxa administrativa |
IR% em reais |
Rentabilidade líquida em reais |
Valor real (descontada a inflação) |
LCA 97% |
14,55% |
0% |
0 |
145,50 |
90,17 |
LCI 97% |
14,55% |
0% |
0 |
145,50 |
90,17 |
CDB 116% |
16,50% |
0% |
33,00 |
132,00 |
77,32 |
Tesouro Selic + 0,01%aa |
15,01% |
0,25% |
29,44 |
117,78 |
63,79 |
Fundo DI |
15,00% |
0,50% |
28,85 |
115,40 |
61,53 |
Poupança nova |
8,30% |
0% |
0 |
83,00 |
30,69 |
Poupança antiga |
8,30% |
0% |
0 |
83,00 |
30,69 |
Fundo DI2 |
15,00% |
1% |
27,70 |
110,80 |
57,15 |
Fundo DI3 |
15,00% |
2% |
25,40 |
101,60 |
48,39 |