Ciclo de queda de juros nos EUA faz gestores ampliarem posição “pró-Brasil” nas carteiras; veja as apostas
Cartas mensais de gestão indicam otimismo com o real e desalento com o dólar, com destaque para a alocação em Bolsa brasileira no início do novo ciclo de política monetária
Queda de juros nos EUA tende a beneficiar ativos de risco, incluindo os brasileiros. (Arte: Victoria Fuoco/Imagens: Adobe Stock)
O Ibovespa na casa de 145 mil pontos, seu novo recorde histórico, é um sinal claro do otimismo que ronda o mercado brasileiro. A euforia tem a ver com a perspectiva de queda de juros, começando nos Estados Unidos nesta quarta-feira (17), quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortou a taxa do país em 0,25 ponto percentual no primeiro ajuste para baixo em anos.
Juros menores por lá significam, entre outras coisas, maior apetite por risco e mercados emergentes na carteira de investidores globais, um fluxo que vem impulsionando a Bolsa no Brasil e assim deve continuar.
Ao menos, é o que espera o mercado. Pesquisa mensal do BTG Pactual com gestores de portfólio mostra que a fatia de investidores otimistas com o Brasil subiu de 44% em agosto para 66% em setembro. Parte desse movimento é explicada pelo cenário de juros nos EUA e no Brasil – aqui, embora o Copom tenha mantido a Selic em 15% ao ano, a expectativa de início do ciclo de afrouxamento monetário já em 2026 também anima.
Isso criou um “FOMO” entre investidores. A sigla é uma expressão estrangeira utilizada para descrever um sentimento de medo ou receio de ficar de fora de eventos, experiências ou oportunidades que outras pessoas possam estar vivenciando; vem do inglês “fear of missing out”.
“Nossa percepção é que os investidores locais não podem se dar ao luxo de perder um possível rali à frente, impulsionado por cortes de juros ou pela política. Por isso, permanecem com alta alocação”, diz o relatório do BTG.
Apesar do Ibovespa estar na máxima histórica, a percepção geral é que ainda há espaço para mais. Apenas 12% dos entrevistados disseram que pretendem reduzir a exposição à Bolsa brasileira após o pico recente.
Isso também se reflete nas expectativas para o IBOV até o fim do ano: 59% dos gestores agora veem o índice entre 140 mil e 150 mil pontos em dezembro. Há um mês, esta parcela era de 46%. O grupo mais otimista, que acredita que o índice pode fechar 2025 acima dos 150 mil pontos, subiu de 4% para 23% em setembro.
Um estudo feito pelo time de research da XP mostra que há fundamentos para essa expectativa otimista. Os estrategistas de ações da corretora levantaram qual foi o desempenho das ações brasileiras em outros ciclos de afrouxamento monetário nos EUA. No primeiro ano após o início dos cortes de juros por lá, o Ibovespa teve retornos médios de 32,1% em reais e 41,2% em dólares. Isso coloca as ações brasileiras à frente dos pares emergentes e globais, como também da renda fixa local.
Como isso se reflete na alocação das gestoras
Esse otimismo com os ativos brasileiros também se reflete na forma como os grandes gestores do País estão posicionando as carteiras. Pelas cartas de gestão divulgadas neste mês, é possível perceber que há alguns consensos, muitos deles fruto do movimento de realocação de capital de investidores internacionais saindo dos Estados Unidos que vem acontecendo nos últimos meses.
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Aos poucos, algumas das grandes gestoras brasileiras começam a aumentar a exposição a Bolsa Brasil. Mas o trade do momento parece ser outro, a moeda.
A Necton Investimentos fez um compilado das principais posições de 15 gestoras em setembro: Ibiuna, Legacy, Occam, Kinea, ASA, Armor, Quantitas, Itaú Janeiro, Opportunity, Novus, Itaú Artax, Vinland, Adam, Bahia e Kinitro.
Cinco delas – Kinea, Quantitas, Itaú Janeiro, Vinland e Kinitro – estão compradas em real, enquanto seis – Ibiuna, Legacy, ASA, Itaú Janeiro, Vinland e Bahia – estão vendidas em dólar. Posições a favor do euro também são destaque.
“No mercado de moedas, mantemos a convicção no enfraquecimento do dólar frente às principais moedas globais, especialmente contra euro, iene e real. Na bolsa, mantemos posição comprada no Ibovespa, apostando na continuidade da tendência favorável no cenário atual”, diz a carta mensal do Itaú Janeiro, família de fundo macro da Itaú Asset gerida pelo ex-Banco Central Bruno Serra.
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Na parte de Bolsa, apenas a Bahia Asset está operando vendida em Brasil, enquanto a maior parte está com posicionamento neutro. A Kinitro é uma delas e explica porque prefere capturar o momento mais favorável à emergentes (ou contrário aos EUA) via moedas e não ações domésticas.
Na carta mensal, a casa diz que segue acreditando que a economia americana deve surpreender positivamente no 2º semestre e, por isso, não dará espaço para que o Fed faça todos os cinco cortes de juros precificados na curva longa. “Mantemos nosso viés de venda para os índices de ações americanos, que nos parecem caros, apesar dos bons fundamentos do setor de tecnologia. No mercado de moedas, preferimos ficar com posições comprados em moedas com carry elevado (Brasil) e vendidos em moedas com carry baixo (Euro e Franco Suíço)”, diz. “Continuamos otimistas com os ativos locais, mas reduzimos taticamente as posições no final de agosto, enquanto aguardamos o desenrolar de eventos políticos importantes.”
O julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de estado era apontado como um fator de volatilidade no curto prazo, assim como uma possível surpresa da atividade econômica brasileira em função do impulso fiscal. “Esses fatores não devem interromper o processo de desaceleração econômica corrente, mas podem ser suficientes para que o BC mantenha a taxas de juros nos níveis atuais até o 2º trimestre de 2026″, pontua a Kinitro.